sábado, outubro 07, 2017

O Gótico Sras. e Senhores

Mosteiro da Batalha Imprimir Email Escrito por A Jorge afonso_dominguesMestre Affonso Domingues, o patrono desta Loja Maçónica ficou historicamente ligado à construção do Mosteiro da Batalha, existindo até uma eventual lenda que o coloca durante aiguns dias debaixo de um abóboda, como prova da sua crença em como a abóboda iria resistir ao seu próprio peso. Admite-se que D. João I lhe tenha confiado desde o inicio a direcção do estaleiro da construção. À data do seu falecimento, já cego, Affonso Domingues deixaria concluídas, na igreja as quatro caplelas absidais, parte da capela-mor e do transcepto, os muros da nave axial, as colaterais já abobadadas e a sacristia; no clautro real, terá concluido, as galerias sul e nascente (abobadadas), parte dos muros da sala do capítulo e eventualmente o refeitório e o dormitório. batalha_aljubarrota Classificado pela UNESCO como Património Mundial, este mosteiro nasce do voto feito por D. João I a Santa Maria da Vitória para agradecer o sucesso sobre as tropas castelhanas, na batalha de Aljubarrota (a 14 de Agosto de 1385). Trata-se do mais acabado exemplo do gótico em Portugal. Dois arquitectos imprimiram a sua marca indelével nos primeiros tempos de construção do mosteiro. O já referido Affonso Domingues e o, talvez catalão, Huget. Affonso Domingues concebeu a estrutura inicial da igreja (excepto as abóbadas da capela-mor, do transepto e da nave central) num gótico radiante. Huguet, que terá introduzido o gótico flamejante em Portugal, levou a cabo a construção da fachada principal da igreja, a abóbada da Sala do Capítulo, a Capela do Fundador (só para citar as edificações mais relevantes). É neste mosteiro que o estilo manuelino dá os seus primeiros passos, das quais são exemplo nas bandeiras dos arcos do claustro principal, ou nos motivos vegetalistas que começam a imperar. Na década de 30, de quatrocentos, dá-se início a uma obra que jamais seria acabada - as Capelas Imperfeitas e o panteão do monarca D. Duarte. A escolha do local onde se encontra o Mosteiro surgiu, diz o povo, depois de D. Nuno Álvares Pereira ter arremessado a sua espada na referida direcção. O lugar onde a mesma parou foi o local escolhido para a construção do monumento. Históriam_batalha_global Em traços gerais conhece-se a evolução do estaleiro propriamente dito e o grau de avanço das obras. Sabe-se que o projecto inicial considerava a igreja, o claustro, a Sala do Capítulo, a sacristia, o refeitório e os anexos. A capela do Fundador, foi acrescentada a este projecto inicial pelo próprio rei D. João I, o mesmo acontecendo com a rotunda funerária conhecida por Capelas Imperfeitas, da iniciativa do rei D. Duarte. O claustro menor e dependências adjacentes, devem-se à iniciativa de D. Afonso V, sendo de notar o desinteresse de D. João II pela sua edificação. Voltaria a receber os favores reais com D. Manuel, mas somente até 1516-1517, ou seja, atá à sua decisão em dar prioridade ao Mosteiro dos Jerónimos. O Mosteiro foi restaurado no Século XIX, sob a direcção de Luís Mouzinho de Albuquerque, de acordo com a traça de Thomas Pitt, viajante inglês que estivera em Portugal nos fins do Século XVIII, e que dera a conhecer por toda a Europa o mosteiro através das suas gravuras. Neste restauro, o Mosteiro sofreu transformações mais ou menos profundas, designadamente pela destruição de dois claustros, junto das Capelas Imperfeitas e pela remoção total dos símbolos religiosos, procurando tornar o Mosteiro num símbolo glorioso da Dinastia de Avis e, sobretudo, da sua primeira geração - a Ínclita Geração de Camões. Data dessa altura a actual configuração da Capela do Fundador e a vulgarização do termo Mosteiro da Batalha (celebrando Aljubarrota) em detrimento de Santa Maria da Vitória, numa tentativa de erradicar definitivamente as designações que lembrassem o passado religioso do edifício. Caracterização arquitectónica m_batalha_plantaPlanta Em forma de cruz latina, a igreja revela o apego à tradição do gótico português. Trata-se de um templo de 3 naves, com transepto pronunciado e cinco capelas na cabeceira, sendo as laterais de igual profundidade (as mais interiores no enfiamento das colaterais; as exteriores deitando para o braço final do transepto), todas elas precedidas de um tramo recto (ligeiramente prolongado na capela-mor). Dimensões A igreja tem 80 m de comprimento e 22 m de largura, para um vão máximo na flecha de 32,5 m, numas proporções bastante simples - a diferença de altura entre as naves laterais e a nave central é baseada numa proporção de 3:2 ou razão sesquitércia, como era corrente no gótico. A mesma "razão" foi adoptada para determinar a relação entre a largura do templo e o seu comprimento - da porta axial até ao arco triunfal - e, mais tarde, para determinar a dimensão da Capela do Fundador que, assim, se constitui num quadrado que "preenche" três vezes o corpo da igreja (cabeceira excluída). Coberturas O templo só difere dos seus congéneres mais antigos pelo facto de ser completamente abobadado e de muito maior comprimento. Com oito tramos, marcados por arcada longitudinal, este traçado remete todo o projecto inicial para uma condição de continuidade relativamente à tradição portuguesa, havendo apenas que solucionar os problemas relativos à estabilidade das abóbodas. m_batalha_vitralPara o resolver, foi chamado o mestre Affonso Domigues. A experiência do deambulatório da Sé de Lisboa deve ter sido importante para o facto, sabendo-se para mais que o mestre Afonso Domingues, morador em Lisboa na freguesia da Madalena, sendo natural desta cidade, poderá ter ali tirocinado. Os pilares das naves são polistilos e de grande espessura, sendo cada coluna adossada, ininterrupta da base até ao capitel, sem qualquer marcação de gola ou cornija, sendo isto válido também para as meias colunas que sustentam os arcos torais da nave central. A cobertura das três naves é estruturalmente idêntica, com arcos torais simples, duas nervuras cruzadas e cadeia unindo as chaves longitudinalmente. O mesmo acontece no transepto, onde se registam cinco tramos de abóbada, de oito panos cada, e com o mesmo sistema de ogivas cruzadas (sendo obviamente maiores os tramos do cruzeiro). O uso de abóbadas na nave central, elevada a muito maior altura que as colaterais, obrigou à utilização de arcobotantes, que descarregam o seu peso nos estribos do flanco exterior do templo, ao nível da cobertura das laterais. As abóbadas das capelas da cabeceira, com topo poligonal de cinco tramos cada, são cobertas por abóbada de ogivas, com nervuras nascentes de arcos adossados às paredes, dotadas de dois tramos rectos solidários com o topo poligonal, formado por nervuras radiantes com as chaves também ligadas por cadeias. Este sistema dispensou qualquer reforço exterior, cingindo-se o respectivo apoio a contrafortes radiais. Alçado Em termos de alçado, as diferenças existentes são consequência do abobadamento geral das naves da igreja. A iluminação é feita por janelões apontados a partir dos flancos colaterais e por um clerestório que corre ao longo da parede superior da nave central, onde se rasgam janelões apontados ao eixo dos arcos. Convém relembrar ainda que o facto de a capela-mor da cabeceira da Batalha possuir fenestração em dois andares (em vez de uma só janela por pano) é, segundo Mário T. Chicó, resultante da influência directa da capela-mor afonsina da Sé de Lisboa, então já edificada. Tudo isto aponta para a importância da primeira empreitada de obras devida a Domingues. Áreas Capela-Mor m_batalha_cap_morA Capela-Mor parece ser de acabamento posterior, com o seu arco triunfal acairelado, podendo igualmente considerar-se duas as fases de trabalho das capelas colaterais. Na zona das dependências claustrais é possível que os trabalhos tivessem avançado mais rapidamente do que no corpo do templo. As galerias norte e ocidental estariam já levantadas, mas foi Huguet quem terá dado acabamento às do lado sul e nascente (todas elas com sete tramos), respeitando porém o traçado anterior, com abóbadas em cruzaria de grandes chaves unidas por cadeia longitudinal, sem mísulas, descansando em finos colunelos de um e de outro lado das paredes. Sala do Capítulo Coube ao mestre Huguet finalizar a célebre Sala do Capítulo (Túmulo do Soldado Desconhecido), de planta quadrada, coberta por uma abóbada de estrela de um só voo. Esta abóbada é, efectivamente, uma obra de notável técnica construtiva gótica, sendo formada por dezasseis nervuras radiais, oito lançadas das paredes, as restantes lançadas das chaves secundárias exteriores, convergindo para uma grande chave central de decoração vegetalista, desenvolvida em duas coroas. A face exterior desta sala, deitando para a galeria do claustro, é formada por um portal central de rasgamento profundo - com cinco arquivoltas de fora e quatro do lado de dentro -, o vão ornado por cogulhos radiantes. De cada lado abrem-se dois grandes vãos quebrados, preenchidos cada um deles por duas janelas geminadas com uma bandeira recortada e rendilhada segundo preceitos do gótico flamejante. São sobrepujadas por um óculo. A sala capitular possui ornamentação figurativa digna de registo: o programa dominante é mariológico, assinalando-se na janela sul virada para a crasta em dois capitéis, a representação de uma Anunciação, com a virgem à direita e o anjo à esquerda. Nossa Senhora segura uma vasilha com o seu braço direito - tendo o colo ornado por um colar de pendentes em forma de mão (signos apotropaicos) - e o anjo a típica filcatéria enrolada em torno do corpo. Outro elemento iconográfico bastante conhecido, é a representação, numa das mísulas, do que se supõe ser, com bastante razão, o mestre pedreiro, em fórmula de retrato (é notoriamente individualizada a expressão do rosto). Vestido com traje de inícios do século XV, uma túnica cintada por faixa, chapéu de turbante traçado e pendente, segura na mão esquerda uma régua tendo a outra mão pousada no joelho direito. Capela do Fundador m_batalha_cap_fundadorUm dos mais importantes edifícios adjacentes ao mosteiro e que marca indelevelmente o seu carácter "real", sendo bem esclarecedor quanto aos intentos envolvidos é, precisamente, a chamada Capela do Fundador. Trata-se de uma construção situada à direita do templo, encostada ao flanco exterior da nave sul, por onde se faz a entrada. Possui planta quadrada, na qual se inscreve ao centro um octógono, que se desenvolve em volume para cima, ao nível do seu segundo andar - um octógono que funciona, também, como lanterna. Esta capela foi traçada por mestre Huguet e encontrava-se ainda em obras em 1426, sendo terminada pouco depois do falecimento do monarca, que para ali foi trasladado, juntamente com o corpo da rainha, um ano depois (1434). Pelo exterior, impõe-se como uma massa homogénea acentuando a horizontalidade do frontispício do templo. Oferece três faces livres, cada uma das quais ritmada por dois contrafortes, e onde se rasgam três janelões, com o que fica a eixo mais largo do que os restantes. Em cima, salienta-se o exterior do octógono central de onde partem oito arcobotantes acailerados apoiados nos contrafortes exteriores, que se prolongam em Pegões pinaculados além do terraço. O conjunto é rematado por um friso de grilhagens flamejantes. Originalmente, o octógono era coroado por um grande coruchéu em agulha, que caiu com o terramoto de 1755. No interior, a luz irrompe dos janelões da fachada e das frestas de dois lumes existentes em cada face do octógono central. É uma luz diáfana, que incide particularmente no centro do monumento, onde se ergue o mausoléu do rei e da rainha. A abóbada é complexa, formada por arcos cruzeiros que, partindo de baquetas embebidas nas paredes, entroncam em chaves centrais, a partir das quais as nervuras despejam o seu peso sobre as baquetas da face exterior do octógono central, compondo, desta forma, uma espécie de nave ou deambulatório. O octógono propriamente dito, no centro do edifício, é formado por oito pilares compósitos, de colunas enfeixadas e abre-se através de oito arcos apontados com o intradorso ornado de cairéis trilobados. O seu interior é de "dois andares": o inferior corresponde aos pilares e arcos, enquanto no andar superior se rasgam as janelas lanternárias. Também a abóbada deste corpo central é estrelada, com oito braços principais, oito terceletes e dezasseis nervuras secundárias, apoiadas em oito chaves radiais e uma chave central de grande diâmetro, mostrando o rendilhado, no meio da qual se inscrevem, em relevo, as armas reais. Nas paredes rasgam-se arcos sólidos que albergam os túmulos dos príncipes de Avis: D. Pedro, sua mulher e D. Fernando. Os túmulos dentro do nicho de volta quebrada com arquivolta exterior em contracurva, possuem frontais em relevo decorados com os brasões dos príncipes, enquadrados por ornamentação floral, sendo na sua totalidade um dos primeiros e mais profusos conjuntos de heráldica familiar de grande porte existente em Portugal, de acordo, aliás, com esquemas certamente importados de Inglaterra. Outros arcos sólidos vazios previam mais deposições tumulares, mas foram desaproveitados atendendo à decisão de D. Duarte em construir novo panteão, vindo a ser preenchidos somente em 1901. Panteão de D. Duarte m_batalha_p_duarteO Panteão de D. Duarte, também conhecido por Capelas Imperfeitas, foi planeado tendo em conta uma leitura rigorosa do testamento de D. João I, optando aquele monarca por criar o seu próprio espaço funerário. Assim, D. Duarte deu inicio à edificação de uma rotunda atrás da cabeceira. De qualquer modo, as obras, também conduzidas por Huguet, não foram terminadas, uma vez que a sua edificação terá começado sensivelmente em 1434, tendo o monarca falecido quatro anos depois, deixando-as incompletas. Mas o traçado estava certamente delineado e as obras dos reinados seguintes foram lentamente tentando rematar o edifício, tendo porém ficado por fazer o principal: o lançamento da grande abóbada central. Ao contrário do que se possa julgar, esta operação não levantaria grandes problemas técnicos visto que o vão a cobrir pouco maior era do que o existente na Sala do Capítulo. Tratava-se, efectivamente, de um edifício com um corpo central octogonal e entrada a eixo (articulada com a cabeceira por um átrio abobadado), à volta do qual se dispunham sete capelas radiantes. Nascendo dos grandes maciços polistilos que conformam a estrutura, levantar-se-ia um corpo octogonal provido de grandes janelões, abobadado e devidamente escorado em arcobotantes, previsto para configurar um amplo espaço de planta centrada completamente unificado. As capelas existentes abrem-se para o recinto através de grandes arcos quebrados acairelados, possuindo cada uma delas um coro recto e um topo prismático de três faces, com um só janelão de dois lumes em cada face e cobertura de abóbada nervurada. Entre as capelas, servindo de reforço, abrem-se seis pequenas áreas de planta triangular, sem acesso, mais baixas que as capelas e decoradas exteriormente com um janelão. Nas capelas foi dado um acabamento posterior e mais cuidado à que se destinava a receber o mausoléu de D. João II e D. Leonor, tendo as obras sido patrocinadas pela rainha. A data desta intervenção é difícil de determinar, podendo ser bastante tardia. De qualquer modo, a decoração deste trecho atinge proporções verdadeiramente assombrosas, sendo um exemplo único no gótico português. As nervuras são acaireladas, com nervos secundários de função apenas escultórica, mas com pequenas chaves em cúspide invertida, decoradas com motivos vegetalistas trepanados, sendo as chaves maiores rendilhadas, apresentando, por sua vez, as armas reais e o "corpo de empresa" de D. João II (o pelicano) e da Rainha D. Leonor (o camaroeiro). Refeitório O Refeitório é coberto por abóbadas de berço quebrado de quatro tramos marcados por arcos torais e apoiada em mísulas sobre friso circundante. Claustro Real m_batalha_claustroO Claustro Real é de um só piso com sete tramos por ala, constituídos por arcos quebrados, de vãos dissemelhantes, com bandeiras rendilhadas apoiadas em colunelos esculpidos, entre contrafortes com ressaltos, rematados por pináculos piramidais. Tem galerias cobertas por abóbadas de cruzaria de ogivas com cadeia longitudinal, assentes em meias-colunas fasciculadas com capitéis vegetalistas em dois andares, e remate em platibanda rendilhada com flores-de-liz. No cunhal, foi edificado um torreão octogonal de remate piramidal. No interior, encontra-se uma fonte com bacia lobulada e duas taças polilobadas escalonadas, a primeira com máscaras semi-vegetalistas. Tem uma cobertura em abóbada de cruzaria de ogivas com cadeia, apoiada em pilares fasciculados. Claustro D. Afonso V O Claustro D. Afonso V tem dois pisos, o primeiro de sete tramos por ala marcados por contrafortes entre arcos duplos quebrados assentes em colunas facetadas grupadas transversalmente sobre murete. Tem galerias abobadadas de cruzaria de ogivas com arcos torais robustos, apoiadas em mísulas cónicas lisas. O segundo piso tem um alpendre assente em colunas prismáticas sobre parapeito e contrafortes diagonais que sobem até ao beiral. A importância do estaleiro da Batalha deu origem a outros estaleiros que reflectem as aportações do gótico tardio, quase sempre fruto do recrutamento de oficiais ou mestres secundários que fizeram ali o seu tirocínio. Gótico de Avis m_batalha_got_avis3m_batalha_got_avis1m_batalha_got_avis2 Pelo exterior, o Mosteiro denuncia, igualmente, a intervenção de duas empreitadas. O portal sul do templo, claramente desenhado ainda por Afonso Domingues, denuncia esta simplicidade de processos. Este portal, aliás, é importante pelo que revela de apego aos traçados "portugueses": dois contrafortes esguios (as proporções lembram o pequeno e singelo portal lateral da Igreja Matriz de Santiago do Cacém), enquadram um vão de quatro arquivoltas decoradas por relevos repetitivos em séries de arquinhos cegos. Os colunelos são providos de capiteis com decoração vegetalista em "dois andares". O espelho da porta é trilobado, com filetes que se entrecruzam. Quase certamente de acabamento posterior é o gablete triangular, muito agudo, decorado no extradorso por cogulhos e, à face, pela heráldica real (os escudos de D. Filipa e de D. João I, encimados pelo escudo do reino, todos com baldaquinos como coroamento). Mas à empreitada de Huguet coube, também, desenhar a generalidade dos frontispícios transportando consigo uma nova linguagem arquitectónica, um outro gótico. De facto não restam dúvidas que o Mosteiro da Batalha se passará a assumir como um depoimento de poder real e da autonomia de um reino. Sabe-se como foi necessário impor através do trato legal e diplomático o direito de D. João I ao trono. Sabe-se igualmente da oposição dos meios-irmãos de D. João e de sua sobrinha D. Beatriz às suas pretensões; e sabe-se até que ponto as relações com o reino vizinho eram problemáticas. O facto de D. João I mandar erguer um panteão para si e para a sua família é sinal desta mística dinástica sem precedentes. O Mosteiro da Batalha foi um projecto de legitimação de uma nova dinastia, a dinastia de Avis: daí a dimensão da obra - sinal de capacidade financeira e de poder de realização. Efectivamente, o Mosteiro da Batalha difere da restante arquitectura portuguesa e destaca-se na paisagem artística nacional com o seu sinal de mudança. A decoração, o remate e o acabamento, para além da opção final das empreitadas, já segundo esquemas daquilo a que se convencionou chamar gótico final, são os seus principais elementos distintivos. Alguns aspectos que distinguem este modo novo do gótico português da primeira dinastia são fáceis de enunciar, uma vez que, globalmente, o tratamento plástico e ornamental do exterior do edifício possui indicações valiosas quanto ao que viria a ser, a partir daqui, a orientação da arquitectura quatrocentista da fase pós-batalhina. m_batalha_sec_xix É dada uma grande atenção à decoração das superfícies. Vale a pena anotar, a marcação "horizontal" das fachadas por pautas feitas de ressaltos (cornijas ou lacrimais), percorrendo todo o edifício; o preenchimento de todos os vãos - janelas, frestas - por rendilhados de recorte flamejante - como no grande janelão de fachada que assim substitui a habitual rosácea. É também de realçar a forma como as paredes (ou até os contrafortes) se animam através do jogo de claro-escuro de frisos de redes flamejantes - por exemplo, os estiletes em relevo do alfiz ou da parede do janelão, as grilhagens dos terraços e os proporcionados pináculos floreados. Percebem-se, também, outros novos factores: A simplificação estrutural dos alçados; A complexidade dos suportes, dos pilares aos colunelos - que se tornam cada vez mais finos e desmultiplicados, aparecendo as colunas finas e as baquetas; A desmultiplicação das molduras em alçado mostrando agora perfis variadíssimos no que se refere ao respectivo recorte e ao seu entrecruzamento; Nestas , o aparecimento do arco contracurvado; O achatamento das abóbadas e o aparecimento de sistemas complexos de nervuras, desdobrando-se o número de chaves e terceletes (como nas abóbadas estreladas); O alastramento da decoração vegetalista mas só em pontos concentrados (como os capiteis); O retorno à figuração alegórica e narrativa (também em zonas concentradas). O Mosteiro em Video A isto chama-se gótico final, querendo com isto designar um período em que os diversos modos de construção se regionalizam, independentemente dos arquitectos em causa serem de origens alógenas. Estes obedecem a encomendas determinadas por vontades políticas locais, exploram novos meios no estaleiro onde são chamados a trabalhar e libertam-se dos cânones mais correntes do gótico internacional, habitualmente dito "clássico". Fontes: Wikipedia; Ipar; Câmara Municipal da Batalha; Enciclopedia Luso-Brasileira - Verbo

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