Cavaco, Eanes e a 'boa-fé'
por JOÃO MARCELINO
1. Tem de se ler, ou ouvir, as declarações de Ramalho Eanes sobre o discurso de Cavaco Silva na tomada de posse para melhor se compreender a real necessidade do apelo agora feito pelo PR aos "portugueses de boa-fé" para que interpretem o seu discurso longe de malignas influências.
Lembro que o antigo ex-presidente, emblema da comissão de honra da recente reeleição presidencial, considerou "excessivas" as "acusações" feitas pelo actual PR ao Governo de José Sócrates. Além do mais, Eanes afirmou que o discurso "esqueceu a crise externa e a (sua) influência na nossa própria crise". Teve mesmo a ousadia de dizer o seguinte a propósito do Governo: "Não pode fazer tudo, porque não faz milagres" - e ainda sobre a tal década perdida: "Não é da responsabilidade deste Governo, ou pelo menos não é da responsabilidade exclusiva deste Governo."
Ramalho Eanes terminou essa sua apreciação, aliás, com uma classificação elucidativa: [o discurso foi] "razoável".
Por tudo isto, repito, o apelo do PR aos portugueses de "boa-fé", para que não se deixem contaminar com "uma interpretação abusiva ou distorcida" do seu discurso, não me deixou indiferente. E foi o que eu fiz ontem. Fui ler o que tinha ouvido na tarde de quarta-feira.
2. E li o quê? Bem, li o que gostaria de ter ouvido na recente campanha eleitoral, até pelo cariz ideológico de algumas passagens, e para que todos os portugueses pudessem ter pesado o seu voto de acordo com o real pensamento político de Cavaco Silva. Quando se diz que a verdade deve estar presente no discurso político - e deve! - isso é válido para todos os actores.
Vou citar algumas frases:
"Não podemos correr o risco de prosseguir políticas públicas baseadas no instinto ou em mero voluntarismo."
"É importante reconhecer as empresas e o valor por elas criado, em vez de as perseguir com uma retórica ameaçadora ou com políticas que desincentivam a iniciativa e o risco."
"(...) Não podemos deixar de ver o potencial e a importância dos chamados sectores tradicionais. As vantagens competitivas adquiridas e aprofundadas por estes sectores, bem como a experiência que já têm do mercado internacional, não podem ser desaproveitadas nem vítimas de preconceitos."
"Muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático."
"Os portugueses não são uma estatística abstracta."
"O exercício das funções públicas deve ser prestigiado pelos melhores, o que exige que as nomeações para os cargos dirigentes da administração sejam pautadas exclusivamente por critérios de mérito e não pela filiação partidária dos nomeados ou pelas suas simpatias políticas."
Ou seja, as críticas ao Governo são constantes e directas no discurso de Cavaco Silva. Não é uma questão de boa ou má-fé entre portugueses bons e portugueses malignos. É, tão-só, uma questão de o PR saber o que disse e, sobretudo, perceber a força das suas palavras.
Desde o tempo de Mário Soares (a propósito dos governos de Cavaco Silva...) e do momento em que Jorge Sampaio despediu Santana Lopes que não se ouviam palavras tão duras de um PR para com um Executivo. Esse é um facto.
3. A legitimidade do PR é absoluta. Ele deve dizer aos portugueses aquilo em que acredita. O País quer isso, e precisa disso. O que a sociedade portuguesa com certeza dispensa são erros de cálculo ao mais alto nível e uma dialéctica que anda para trás e para a frente, oscilante, sem convicção. Que ora ousa, ora recua. Cavar diferenças de comportamento significa assumir o que se diz sem tibiezas. O discurso político já possui tanta hipocrisia e falta de convicção que não precisa de ter em Cavaco Silva mais um desses protagonistas.
O PR pode não gostar mas merece ouvir: foi um erro grosseiro ter "esquecido" o peso da conjuntura internacional no momento que vivemos em Portugal. Teria sido um acto de honestidade intelectual admitir que aos erros da governação se somam muitos outros factos que escapam ao controlo do Governo. Se não tivesse cometido essa maldadezinha (nem comparado números de há dez anos quando podia tê-lo feito com os de há três - no desemprego ou no controlo do défice, por exemplo...), teria sido mais credível e não precisaria de ter de recorrer agora aos portugueses de boa-fé. Admitindo que haja outros - e, até, que Ramalho Eanes possa fazer partes deles...
O PEC passou, desde ontem, a ter uma versão IV. Segundo o que se lê, José Sócrates ligou a Pedro Passos Coelho a informá-lo e não terá feito o mesmo em relação a Cavaco Silva. Significa isso que o País não está a funcionar de forma decente, mas a culpa já é também do PR. Se pensa tudo aquilo que disse, e que o leva até a correr atrás das manifestações de jovens programadas para hoje, porque não demite o Governo?
- Cada um faça o entendimento que quiser - levar com um "iluminado" da nossa praça - faz azia a um qualquer - faz lembrar as guerras com Sa Carneiro e o Gen Eanes - em que o 1º ministro tinha tomar Lorenin.
- O tempo é de crise, não se sabe por quanto tempo - a mudança do ciclo económico - não se prevê e daí, o embuste do dr. Anibal
- Já o escrevi, o vómito do empossado é um convite á dança - deixava-lhe a "criança nos braços".
Eleições é o que se espera - pelo menos palpita-me
por JOÃO MARCELINO
1. Tem de se ler, ou ouvir, as declarações de Ramalho Eanes sobre o discurso de Cavaco Silva na tomada de posse para melhor se compreender a real necessidade do apelo agora feito pelo PR aos "portugueses de boa-fé" para que interpretem o seu discurso longe de malignas influências.
Lembro que o antigo ex-presidente, emblema da comissão de honra da recente reeleição presidencial, considerou "excessivas" as "acusações" feitas pelo actual PR ao Governo de José Sócrates. Além do mais, Eanes afirmou que o discurso "esqueceu a crise externa e a (sua) influência na nossa própria crise". Teve mesmo a ousadia de dizer o seguinte a propósito do Governo: "Não pode fazer tudo, porque não faz milagres" - e ainda sobre a tal década perdida: "Não é da responsabilidade deste Governo, ou pelo menos não é da responsabilidade exclusiva deste Governo."
Ramalho Eanes terminou essa sua apreciação, aliás, com uma classificação elucidativa: [o discurso foi] "razoável".
Por tudo isto, repito, o apelo do PR aos portugueses de "boa-fé", para que não se deixem contaminar com "uma interpretação abusiva ou distorcida" do seu discurso, não me deixou indiferente. E foi o que eu fiz ontem. Fui ler o que tinha ouvido na tarde de quarta-feira.
2. E li o quê? Bem, li o que gostaria de ter ouvido na recente campanha eleitoral, até pelo cariz ideológico de algumas passagens, e para que todos os portugueses pudessem ter pesado o seu voto de acordo com o real pensamento político de Cavaco Silva. Quando se diz que a verdade deve estar presente no discurso político - e deve! - isso é válido para todos os actores.
Vou citar algumas frases:
"Não podemos correr o risco de prosseguir políticas públicas baseadas no instinto ou em mero voluntarismo."
"É importante reconhecer as empresas e o valor por elas criado, em vez de as perseguir com uma retórica ameaçadora ou com políticas que desincentivam a iniciativa e o risco."
"(...) Não podemos deixar de ver o potencial e a importância dos chamados sectores tradicionais. As vantagens competitivas adquiridas e aprofundadas por estes sectores, bem como a experiência que já têm do mercado internacional, não podem ser desaproveitadas nem vítimas de preconceitos."
"Muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático."
"Os portugueses não são uma estatística abstracta."
"O exercício das funções públicas deve ser prestigiado pelos melhores, o que exige que as nomeações para os cargos dirigentes da administração sejam pautadas exclusivamente por critérios de mérito e não pela filiação partidária dos nomeados ou pelas suas simpatias políticas."
Ou seja, as críticas ao Governo são constantes e directas no discurso de Cavaco Silva. Não é uma questão de boa ou má-fé entre portugueses bons e portugueses malignos. É, tão-só, uma questão de o PR saber o que disse e, sobretudo, perceber a força das suas palavras.
Desde o tempo de Mário Soares (a propósito dos governos de Cavaco Silva...) e do momento em que Jorge Sampaio despediu Santana Lopes que não se ouviam palavras tão duras de um PR para com um Executivo. Esse é um facto.
3. A legitimidade do PR é absoluta. Ele deve dizer aos portugueses aquilo em que acredita. O País quer isso, e precisa disso. O que a sociedade portuguesa com certeza dispensa são erros de cálculo ao mais alto nível e uma dialéctica que anda para trás e para a frente, oscilante, sem convicção. Que ora ousa, ora recua. Cavar diferenças de comportamento significa assumir o que se diz sem tibiezas. O discurso político já possui tanta hipocrisia e falta de convicção que não precisa de ter em Cavaco Silva mais um desses protagonistas.
O PR pode não gostar mas merece ouvir: foi um erro grosseiro ter "esquecido" o peso da conjuntura internacional no momento que vivemos em Portugal. Teria sido um acto de honestidade intelectual admitir que aos erros da governação se somam muitos outros factos que escapam ao controlo do Governo. Se não tivesse cometido essa maldadezinha (nem comparado números de há dez anos quando podia tê-lo feito com os de há três - no desemprego ou no controlo do défice, por exemplo...), teria sido mais credível e não precisaria de ter de recorrer agora aos portugueses de boa-fé. Admitindo que haja outros - e, até, que Ramalho Eanes possa fazer partes deles...
O PEC passou, desde ontem, a ter uma versão IV. Segundo o que se lê, José Sócrates ligou a Pedro Passos Coelho a informá-lo e não terá feito o mesmo em relação a Cavaco Silva. Significa isso que o País não está a funcionar de forma decente, mas a culpa já é também do PR. Se pensa tudo aquilo que disse, e que o leva até a correr atrás das manifestações de jovens programadas para hoje, porque não demite o Governo?
- Cada um faça o entendimento que quiser - levar com um "iluminado" da nossa praça - faz azia a um qualquer - faz lembrar as guerras com Sa Carneiro e o Gen Eanes - em que o 1º ministro tinha tomar Lorenin.
- O tempo é de crise, não se sabe por quanto tempo - a mudança do ciclo económico - não se prevê e daí, o embuste do dr. Anibal
- Já o escrevi, o vómito do empossado é um convite á dança - deixava-lhe a "criança nos braços".
Eleições é o que se espera - pelo menos palpita-me
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