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A colecção do Museu teve a sua génese nos Presentes de Estados deixados à Presidência da República pelo General Ramalho Eanes, recebidos no decurso dos seus dois mandatos, entre 1976 e 1986.
Embora importante, este espólio estava longe de ser representativo da História da República Portuguesa ou da memória dos homens que exerceram o cargo de Presidente, facto que motivou um intenso e exaustivo trabalho de recolha junto de várias instituições, públicas e privadas, e dos descendentes dos ex-Chefes de Estado Portugueses. De forma a cumprir os objectivos a que o Museu se propunha, procuraram-se não só presentes de estado, mas também objectos pessoais dos Presidentes, documentos de arquivo e outras peças que, de alguma forma, pudessem ter estado ligadas à instituição presidencial. Esta pesquisa permitiu reunir um conjunto de objectos heterogéneos que caracterizam os três ciclos da República, mas que diferem em quantidade, tipologia ou proveniência, dando origem a um acervo museológico que foge aos parâmetros tradicionais. Sem coerência aparente e, em alguns casos, desprovidos de valor material, estas peças permitiram, no entanto, constituir uma colecção única, cujo valor assenta na pluralidade e na capacidade de evocar referências basilares da memória colectiva. É uma colecção imaginada, em que os espólios podem não ter presença física no Museu, permanecendo na posse das instituições ou particulares, ou ficando depositados por períodos limitados de tempo. Todos estes objectos, independentemente da sua propriedade ou localização, foram compilados numa base de dados informatizada, disponível ao público através do programa Matriz que aqui pode ser consultada. |
Os Carros dos Presidentes saem de museus e garagens e reúnem-se para contar a história e as histórias que protagonizaram ao serviço da instituição presidencial. Este "encontro" de viaturas decorre no espaço exterior do Museu da Electricidade, em Lisboa, a partir do próximo dia 27 de Julho, numa iniciativa do Museu da Presidência da República, em parceria com a Fundação EDP.
São cerca de quinze veículos, dos hipomóveis aos Cadillac e Rolls Royce, desde aparatosos carros antigos, objecto de curiosidade e colecção, aos modelos mais recentes ainda hoje em funções. Um encontro de veículos e um encontro com a História. Através do automóvel, dos seus usos e representações, o visitante percorre os 100 anos da República Portuguesa, numa exposição composta por quatro núcleos: "Do Hipomóvel aos Pioneiros"; "O Estado Novo e as Viaturas de Aparato"; "A Democratização das Viaturas Presidenciais" e "O Presidente da República e as Forças de Segurança".
Com textos, fotografias e filmes de enquadramento, a exposição Os Carros dos Presidentes apresenta não só um valioso conjunto de exemplares automobilísticos que fazem o gosto de apreciadores e conhecedores deste meio de transporte, como constitui uma oportunidade, para os curiosos da História, de relembrar os 18 Presidentes da República e os seus mandatos.
SÍNTESE DOS NÚCLEOS EXPOSITIVOS
Do Hipomóvel aos Pioneiros
O regime republicano, instaurado em 1910, procura, por oposição à imagem de opulência habitualmente transmitida pelo regime monárquico, atribuir à figura do Presidente uma função política de maior importância, mas de maior sobriedade. Neste período, foram concedidos à Presidência da República diversos veículos hipomóveis, anteriormente pertencentes à Casa Real, nos quais foi gravado o escudo da República. Este meio de transporte foi utilizado por grande parte dos Presidentes da I República (1910-1926), nomeadamente em tomadas de posse e em recepções de Chefes de Estado estrangeiros.
O Estado Novo e as Viaturas de Aparato
Com a institucionalização do Estado Novo, em 1933, e sua estabilização, a imagem do Presidente da República volta a sofrer uma transformação. Ainda que as suas funções sejam constitucionalmente alargadas, o Presidente da República vê o poder efectivo ficar na mão do Presidente do Conselho, sendo-lhe a si reservado um papel eminentemente representativo. No final da década de 1930, diversos automóveisPackard foram integrados no parque de viaturas da Presidência da República, um deles para o serviço exclusivo da Primeira-Dama, Maria do Carmo Carmona. Célebres são também as duas viaturas Mercedes 770 W07 blindadas, adquiridas através da Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado, em 1937, na sequência de um atentado à bomba contra o Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar - uma para seu serviço, outra para o Presidente da República. Pouco utilizadas por ambos, sendo viaturas fortemente associadas ao regime nacional-socialista alemão, no final da II Guerra Mundial e com a vitória das forças aliadas, acabam por ser alienadas pelo Estado, que nessa altura procura vincar um posicionamento internacional mais alinhado com os países vitoriosos.
Durante o mandato do General Francisco Craveiro Lopes (1951-1958), realizaram-se algumas das visitas de maior aparato que decorreram durante o Estado Novo. As viaturas utilizadas foram-se adaptando a este novo contexto. É adquirido, em 1954, um Cadillac Sixty Two, viatura descapotável topo de gama, equipada com os mais modernos desenvolvimentos tecnológicos disponíveis à época, permitindo uma maior visibilidade do Chefe de Estado, durante os cortejos.
Em 1957, a Rainha Isabel II faz uma visita de Estado a Portugal, sendo recebida pelo Presidente Craveiro Lopes. Para esta visita, preparada com o maior cuidado pelos anfitriões, decidiu-se adquirir, através da Embaixada de Portugal em Londres, uma nova viatura de luxo, um Rolls Royce Phantom III, que viria a ser utilizada, décadas depois, durante a primeira visita do Papa João Paulo II a Portugal.
Mas houve também o caso em que uma viatura assumiu o valor de presente de Estado. Aconteceu em 1953, quando o Generalíssimo Franco decidiu oferecer ao seu homólogo português um Pegaso Z-102, durante a sua visita oficial a Espanha. Esta visita visava reforçar as relações entre os dois estados ibéricos, num contexto internacional para ambos adverso.
No período em que Américo Tomás desempenhou as funções de Chefe de Estado (1958-1974), o número de visitas oficiais foi reduzido, reflectindo o crescente isolamento internacional do Estado Português. Foram adquiridos um Rolls Royce Phantom V, recentemente restaurado e utilizado pela última vez em 1985, durante a visita da Rainha Isabel II a Portugal, umVanden Plas Princess e, mais tarde, umMercedes 600 S Pullman.
A Democratização das Viaturas Presidenciais~
Com a queda do Estado Novo e a instauração da Democracia, as viaturas utilizadas desde o mandato do Marechal António de Spínola até ao actual Presidente da República passaram a caracterizar-se pelo conforto, segurança e rapidez, permitindo uma circulação mais rápida e procurando responder ao aumento exponencial de deslocações a que a agenda de um Chefe de Estado actualmente obriga. Também se assinala uma tendência para uma maior sobriedade no seu aparato. Deste conjunto destacam-se o Citroen CX25 Prestige e o Audi A8 4.2 Quattro Longo, que poderão ser vistos na exposição.
O Presidente da República e as Forças de Segurança
A terminar, será possível visitar na exposição um pequeno núcleo dedicado às viaturas utilizadas pelas forças de segurança ao serviço do Presidente da República. Este serviço, que ao longo da história foi sendo assegurado por diferentes forças policiais, compreende duas vertentes principais: a prestação de honras de Estado, assumida desde o dealbar da República pela Guarda Nacional Republicana (força criada em 1911); e o serviço de segurança pessoal e desembaraçamento de trânsito, que foi assegurado pela Polícia de Viação e Trânsito (até à sua extinção) e pela Polícia de Segurança Pública (PSP). A presença de viaturas como o VW 1200 e o Porsche 356, ambas da GNR, ilustram as funções desempenhadas pelas forças de segurança junto do Chefe de Estado.
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