sábado, julho 25, 2015

Entrevista a Ana Sofia Antunes, candidata a deputada do PS pelo círculo de Lisboa



Uma mulher cega vai chegar a deputada: "Uma alegria mas também uma tristeza: porquê só agora?..

Entrevista a Ana Sofia Antunes, candidata a deputada do PS pelo círculo de Lisboa
Como é que surgiu esta ideia de ser candidata a deputada pelo PS?
Surgiu como um convite por parte de António Costa que eu, depois de ponderar devidamente, aceitei.
Trabalhou muito com ele na Câmara Municipal de Lisboa?
Não muito diretamente com ele. Mas assessorei durante vários anos o vereador da Mobilidade na Câmara de Lisboa, o professor Nunes da Silva, e fazia assessoria jurídica na câmara. Em função da minha área de interesse, o facto de ser uma pessoa com uma deficiência e de estar muito ligada ao movimento das pessoas com deficiência, fiz sempre muita pressão na câmara com um plano de acessibilidade pedonal, que teve grande apoio e incentivo de António Costa. Era outra das minhas tarefas. O executivo era dirigido por António Costa, com o qual trabalhei muito, embora indiretamente, ao nível da revisão da regulamentação da câmara, em 2012 e 2013.
E a cidade está agora bem equipada?


Isso ainda é um bocadinho uma miragem, mas temos agora bons instrumentos para começar a fazer obra física, é isso que interessa. Não podemos avançar para a obra sem planificação, mas toda a planificação serve de muito pouco se não tomarmos a decisão de fazer o que interessa, que é obra física no espaço público. Há coisas que já começaram a ser feitas nas passadeiras - rebaixamentos e sinais sonoros, por exemplo -, mas temos de reconhecer que ainda há muito para fazer.
Os direitos dos deficientes serão o seu principal cavalo de batalha na Assembleia da República?
Obviamente que sim, por todas as razões. Sou uma pessoa com uma deficiência visual congénita [de nascença]. Não faria sentido nenhum, tendo esta oportunidade, não constituir como minha principal prioridade o trabalho em prol das pessoas com deficiência. Sinto uma grande alegria porque nunca uma pessoa com uma deficiência fora indicada para a Assembleia da República nem para qualquer outro cargo de relevo, de eleição ou nomeação. É um momento de alegria, mas também de tristeza: porquê só agora. Porque é que isto só está a acontecer em Portugal agora?
E tem alguma explicação para isso? Passará por alguma incapacidade de o movimento associativo dos deficientes se organizar de forma eficaz e constituir um grupo de pressão com poder?
Não creio que isso passe pela incapacidade de organização dos deficientes. A nossa capacidade de organização não é diferente da que existe nos outros países europeus. Não estamos atrás deles, pelo contrário. Mas há muitos anos que há ministros deficientes noutros países - como a Suécia ou Inglaterra ou a Grécia -, e já nem sequer falamos em deputados, que são imensos. Já houve países com presidentes da República com deficiência. Obviamente que a pressão tem de ser feita, mas tem de ser aberto espaço para os deficientes e esse espaço não existe na representação política, como não tem existido em diversos outros níveis da vida social.

Isso ainda é um bocadinho uma miragem, mas temos agora bons instrumentos para começar a fazer obra física, é isso que interessa. Não podemos avançar para a obra sem planificação, mas toda a planificação serve de muito pouco se não tomarmos a decisão de fazer o que interessa, que é obra física no espaço público. Há coisas que já começaram a ser feitas nas passadeiras - rebaixamentos e sinais sonoros, por exemplo -, mas temos de reconhecer que ainda há muito para fazer.
Os direitos dos deficientes serão o seu principal cavalo de batalha na Assembleia da República?
Obviamente que sim, por todas as razões. Sou uma pessoa com uma deficiência visual congénita [de nascença]. Não faria sentido nenhum, tendo esta oportunidade, não constituir como minha principal prioridade o trabalho em prol das pessoas com deficiência. Sinto uma grande alegria porque nunca uma pessoa com uma deficiência fora indicada para a Assembleia da República nem para qualquer outro cargo de relevo, de eleição ou nomeação. É um momento de alegria, mas também de tristeza: porquê só agora. Porque é que isto só está a acontecer em Portugal agora?
E tem alguma explicação para isso? Passará por alguma incapacidade de o movimento associativo dos deficientes se organizar de forma eficaz e constituir um grupo de pressão com poder?
Não creio que isso passe pela incapacidade de organização dos deficientes. A nossa capacidade de organização não é diferente da que existe nos outros países europeus. Não estamos atrás deles, pelo contrário. Mas há muitos anos que há ministros deficientes noutros países - como a Suécia ou Inglaterra ou a Grécia -, e já nem sequer falamos em deputados, que são imensos. Já houve países com presidentes da República com deficiência. Obviamente que a pressão tem de ser feita, mas tem de ser aberto espaço para os deficientes e esse espaço não existe na representação política, como não tem existido em diversos outros níveis da vida social.

Sente alegria nas pessoas que conhece no associativismo de defesa dos deficientes?
A notícia ainda não foi muito divulgada mas da parte das pessoas que me conhecem há um sentido de alegria.
E independentemente das opções partidárias?
Não noto que isso seja relevante. As pessoas sentem-se representadas por uma pessoa com deficiência, independentemente da bancada.
É jurista. O que é premente fazer no ordenamento legislativo português em defesa dos deficientes?



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