O Borda d'Água e o Seringador

13.06.2013

FERNANDO SANTOS

Quem está mais talhado para o humor? O obstinado ministro das Finanças, Vítor Gaspar, ou o deputado do PCP Bruno Dias?Um e outro esboçaram piadas perante plateias cuja compostura é desejável por se dedicarem ao tratamento de assuntos sérios, mas obtiveram reações diferentes.

Há dias, Vítor Gaspar justificou os maus resultados económicos e financeiros do primeiro trimestre apresentando as condições meteorológicas adversas como explicação. Como? - 

espantaram-se os senhores deputados da Assembleia da República, muito indignados. Como não está louco (até prova em contrário), Vítor Gaspar terá tentado esboçar uma pitada de humor. Erro! Um português "embebido" em inspiração germanófila é incapaz de fazer funcionar uma piada subliminar, própria dos ingleses.

 O resultado foi tão mau como o do comportamento sistemático dos últimos dois anos da Economia portuguesa e o ministro ajudou a potenciar o ódio de estimação em que se transformou já para a maioria dos portugueses. Cometeu, no fim de contas, não uma mas duas falhas técnicas: não se fez perceber e, pior, não teve a argúcia indispensável para entender que alguém no seu posto não pode armar-se em engraçadinho.

Vítor Gaspar já era um bombo de festa e o arrazoado da meteorologia ajudou ao aumento do ruído.

O PCP tem muitos defeitos e uma enorme virtude - entre outras: não desperdiça uma chance para promover a instabilidade dos seus adversários políticos. Se o faz segundo os melhores padrões, já é duvidoso......

Na Comissão de Economia da Assembleia da República, ontem, lá voltou Gaspar e a piada (falhada) sobre a meteorologia. Bruno Dias tinha-a fisgada e, pimba!, malhou forte e feio recorrendo ao famoso "Borda d'Água" como eventual fonte (des)inspiradora do Governo. Entre ditos lá foi acenado o almanaque usado pelos tradicionais agricultores portugueses e no interior do qual aparecem os mais variados conselhos de como e quando plantar, de como e quando podar, das datas da Lua Nova e da Lua Cheia, os dias de feiras e feriados municipais e, já agora, uma variedade de ditados populares dedicados a dias e meses do ano. Por uns minutinhos, Bruno Dias foi a estrela maior, arrancando a galhofa geral, incluída a do ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.

É assim que estamos.

Poder-se-ia questionar se Bruno Dias tem interesses na promoção do "Borda d'Água", mandando às malvas o concorrente "Seringador", mas os tempos correm de feição para quem bater em tudo quanto estiver associado a Vítor Gaspar. E para chamar à atenção para o adversário de estimação dá imenso jeito o uso de um almanaque ligado à agricultura - a nova moda inspiradora para o futuro, ou não tivesse sido o mote do discurso de 10 de junho do presidente da República.

Não há dúvida: vale mais cair em graça do que ser engraçado. Só que, do Governo e da Oposição, uns e outros não se enxergam - mesmo não se exigindo um país sorumbático.