sábado, agosto 15, 2015

A história de uma criança escravizada, violada e casada à força que denunciou os culpados


Quando a mãe matou o pai, traçou o seu destino também. PJ deteve seis familiares por vários crimes contra a menor de 14 anos
De má sina tem sido feita a vida de uma rapariga cigana de 14 anos. A criança foi escravizada pelos tios, desvirginada antes do casamento num ritual realizado por uma tia mais velha, obrigada a casar-se com um primo direito de 20 anos, violada e agredida brutalmente pelo marido, sogros e tios quando tentou fugir.

Na quinta-feira, inspetores da Polícia Judiciária da Guarda que já investigavam o caso desde junho - quando a criança conseguiu escapar - detiveram os tios, o marido, os sogros e a tia mais velha. Sobre os seis familiares, com idades entre os 20 e os 54 anos, recaem fortes suspeitas da prática dos crimes de maus-tratos, violência doméstica, sequestro e abuso sexual de menor de 14 anos. "Quero que as pessoas que me fizeram mal sejam responsabilizadas", disse a criança às autoridades, numa atitude madura e consciente que impressionou os inspetores.

Tios retiraram-na da escola

O futuro da criança ficou marcado muito cedo, como contou fonte ligada à investigação. Tinha apenas 3 meses quando a mãe matou o pai, na casa onde viviam. Com a mãe presa, a bebé foi entregue aos cuidados de uma tia paterna, residente em Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda. A tia cuidou dela e entretanto casou-se e teve quatro filhos (o mais velho hoje com 10 anos).
A criança frequentava o 4.º ano de escolaridade quando os tios a retiraram da escola para a porem a servir em casa e a tomar conta dos filhos, enquanto eles andavam na agricultura ou nas feiras.

A rapariga gostava de estudar mas foi obrigada a deixar de ir à escola para fazer os trabalhos da casa. Nos seus afazeres conheceu um rapaz da aldeia, por quem teve uma paixoneta. Ao saber disso, a tia tratou de lhe arranjar um casamento na comunidade cigana com um primo de 20 anos. Em dois meses o casamento foi organizado e foi consumado em janeiro deste ano, quando a noiva tinha apenas 13 anos.

Antes da noite de núpcias, obrigaram-na a passar pelo ritual do teste da virgindade, conduzido por uma tia mais velha. Essa mulher vai responder pelo crime de abuso sexual de criança na sequência desse teste forçado. Pelo mesmo crime terá também de responder o marido, seu primo direito, que teve relações sexuais com a criança quatro vezes.

Segundo contou a rapariga à Polícia Judiciária, em pouco tempo disse ao marido que queria a separação e sair de casa, ser livre. A partir desse momento, começou a ser agredida física e psicologicamente pelo marido, pelos sogros e pelos tios.

No dia 1 de junho, com os familiares ausentes de casa, conseguiu finalmente fugir. Seguiu a pé, de Figueira de Castelo Rodrigo até Vilar Formoso. Na estrada, foi ajudada por um casal espanhol que passava de carro e se condoeu com a sua situação. O casal levou-a à GNR, o Ministério Público abriu um inquérito e a criança foi entregue aos cuidados de uma instituição, onde ainda se encontra.

A investigação foi entregue à Policia Judiciária, que precisou de dois meses para ter a oportunidade de deter os seis familiares juntos. Na instituição a criança está "feliz" e quer voltar a estudar em setembro, adiantou a mesma fonte.

Em casos semelhantes que a Polícia Judiciária já investigou, o paradigma da tradição cigana esbarra na lei - e já houve várias condenações.

Portugal? de momento... não se deve levar a sério

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