domingo, agosto 30, 2015

"Votei sempre em partidos de esquerda. Mas nem sempre no Partido Socialista" quem o diz é este candidato pelo PS



Tiago Brandão Rodrigues. Aos 38 anos, o investigador de Cambridge trocou a segurança de um contrato permanente com aquela universidade britânica pela incerteza de um lugar a prazo na Assembleia da República, cedendo ao desafio que lhe foi lançado por António Costa para encabeçar a lista do PS por Viana do Castelo.
Estava nos seus planos voltar a Portugal tão cedo?
Nunca tinha equacionado verdadeiramente voltar. Estava bem, tinha uma situação muito cómoda e confortável, e até senti que tinha muitos graus de liberdade para ficar em Cambridge. Tinha um contrato sem termo com a Universidade, o que realmente é um luxo. A Universidade de Cambridge é o Real Madrid da ciência. Tinha muitos graus de liberdade para dizer que não. Era feliz, tinha uma situação relativamente confortável, tinha uma rede social que me agradava. Mas inquietava--me o facto de não estar no meu país.
Com isso tudo que tinha, porque é que troca Cambridge pelo Parlamento?
O imperativo de dizer "presente" e o imperativo de cidadania. Na política acontece muito o que acontece no futebol: somos muito opinativos, somos todos comentadores de bancada. A política é o que fazemos todos os dias, é como podemos, eventualmente, melhorar as nossas vidas, como podemos implementar bases diferentes para construir este Estado que é, no fundo, o garante da democracia. E o que senti é que era imperativo dizer que sim, dizer "presente". Porque, por muito que me sentisse bem lá, existe e existia em mim uma inquietação enorme relativamente ao que acontece.
Acompanhava a política portuguesa?

Muito. Muito. A emigração e viver longe, nos dias de hoje, também é muito diferente do que acontecia, por exemplo, nos anos 1960/70. Lembro-me que a primeira vez que saí do país, em 1999, já havia internet mas os tempos eram outros. Mesmo o mundo da internet era completamente diferente e lembro-me que a minha primeira preocupação quando cheguei a Madrid para fazer o Erasmus, foi procurar um sítio onde se vendessem jornais portugueses. Isso agora não faz sentido.
Como é que observava aquilo que se passava aqui?
De forma muito atenta e, nos últimos anos, com muita preocupação. O estado das coisas e, acima de tudo, a res publica, a coisa pública, a forma como nós como povo, e também quem nos liderava, a coligação que nos liderava, como ia decepando sistematicamente a coisa pública, com as consequências que isso tem.
Como é que se define ideologicamente?
Sou um homem de esquerda, por tradição familiar, por influência (e boa influência) de amigos e de amigos da família mas, acima de tudo, também pelo que a minha experiência de vida me provocou. Crescer num sítio pequeno implica que se tenha o conhecimento global de, pelo menos, como é a realidade do sítio onde se cresce. É impossível ser de um sítio como é Paredes de Coura e não conhecer o que há à nossa volta, porque chega-se à 1.ª classe e há uma turma de 1.ª classe onde está o filho do agricultor ou o filho do professor primário ou do funcionário das Finanças - muitas vezes, são aqueles que têm a capacidade para comprar, para viajar, para fazer algo diferente - ou o filho do empregado fabril. Isto é, o espectro da nossa vida é o espectro, verdadeiramente, daquela sociedade.

Como é que foi crescer de esquerda numa vila como Paredes de Coura, que é, tradicionalmente, mais conservadora?
As vilas pequenas são, em sentido lato, comunidades. Se, por um lado, é verdade que são conservadoras na forma, no conteúdo são extremamente solidárias, compreensivas da diferença e integradoras...

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