A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital
04/26/2008
Cecil Beaton em Lisboa
"Os rostos encenados"
Expresso Cartaz 25-11-95
Expresso Cartaz 25-11-95
CECIL BEATON, Palácio da Ajuda
Enquanto San Payo se redescobre no Museu do Chiado (ver «Revista»), duas outras exposições simultâneas permitem significativos confrontos com outras práticas da mesma disciplina fotográfica, o retrato — no caso de Cecil Beaton (1904-1980), dando a ver uma galeria de figuras também portuguesas fixadas em 1942 por um dos grandes retratistas do século; no caso de Gageiro, prolongando até ao presente uma idêntica ambição de inventariar os nomes e os rostos de uma época.
A exposição dedicada ao fotógrafo inglês não faz justiça ao seu trabalho, mas deve ser vista como uma oportuna chamada de atenção para a necessidade de se ver e editar condignamente um património quase esquecido, que se conserva no Imperial War Museum de Londres. Uma das suas fotografias lisboetas, o Terreiro do Paço visto desde os degraus do Cais das Colunas, que ocupam obliquamente o primeiro plano, figurou extra-catálogo na Europália'91 entre outros olhares estrangeiros; depois, uma reduzida selecção de retratos foi apresentada na Gulbenkian, em 1994, na exposição «A Aliança Revisitada» e dessa oportunidade partiu a British Historical Society of Portugal para promover a presente mostra.
A exposição dedicada ao fotógrafo inglês não faz justiça ao seu trabalho, mas deve ser vista como uma oportuna chamada de atenção para a necessidade de se ver e editar condignamente um património quase esquecido, que se conserva no Imperial War Museum de Londres. Uma das suas fotografias lisboetas, o Terreiro do Paço visto desde os degraus do Cais das Colunas, que ocupam obliquamente o primeiro plano, figurou extra-catálogo na Europália'91 entre outros olhares estrangeiros; depois, uma reduzida selecção de retratos foi apresentada na Gulbenkian, em 1994, na exposição «A Aliança Revisitada» e dessa oportunidade partiu a British Historical Society of Portugal para promover a presente mostra.
No Palácio da Ajuda exibem-se provas (de trabalho?) descuidadamente impressas, não retocadas, em grandes formatos que em muitos casos não respeitam os reenquadramentos adoptados pelo autor. Em melhores condições , o respectivo catálogo junta a 35 reproduções, escolhidas dos cerca de 230 negativos existentes, um texto informativo de Margarida Medeiros e um extracto dos diários do fotógrafo referente à sua missão em Portugal: é um testemunho impressivo sobre o arcaismo indolente de um país neutral no teatro da 2ª Guerra Mundial.
Cecil Beaton era já um famoso retratista e fotógrafo de moda (The Book of Beauty, 1930), com carreira firmada na «Vogue» e em Hollywood, quando veio a Portugal. Colocado no Cairo como «war artist», fotografara antes os bombardeamentos de Londres e o seu trabalho ganhara então uma dimensão mais grave e austera que contratastava com a artificiosidade brilhante própria do decorador e cenógrafo que também foi.
Em Julho de 1942, cumprindo instruções oficiais britânicas, Beaton vem a Lisboa retratar todo o estado maior do país, incluindo Carmona e os membros do governo, as chefias militares e da Igreja, e ainda as figuras da elite mundana do tempo, certamente graças aos contactos proporcionados pelo embaixador de Londres. Em Dezembro do mesmo ano, uma exposição de 56 fotografias, com retratos e também vistas de Queluz, Alfama e outros lugares, apresentou-se no Palácio Foz. Carmona teve então direito a sete fotografias, o Cardeal Cerejeira a seis, mas Salazar furtara-se a deixar-se retratar. De Duarte Pacheco, que morreria pouco depois, ficou para a história a pose determinada, de pé atrás da secretária em que pousa levemente os dedos — o presente catálogo optou por outras duas imagens menos conhecidas.
Suportando sempre a procura de uma identidade pessoal no ambiente envolvente do modelo, Cecil Beaton deixou-nos o mais forte retrato de uma sociedade ainda aristocrática, ferozmente conservadora na sua aparência mansa e certamente inquieta perante as convulsões do tempo.
Cecil Beaton era já um famoso retratista e fotógrafo de moda (The Book of Beauty, 1930), com carreira firmada na «Vogue» e em Hollywood, quando veio a Portugal. Colocado no Cairo como «war artist», fotografara antes os bombardeamentos de Londres e o seu trabalho ganhara então uma dimensão mais grave e austera que contratastava com a artificiosidade brilhante própria do decorador e cenógrafo que também foi.
Em Julho de 1942, cumprindo instruções oficiais britânicas, Beaton vem a Lisboa retratar todo o estado maior do país, incluindo Carmona e os membros do governo, as chefias militares e da Igreja, e ainda as figuras da elite mundana do tempo, certamente graças aos contactos proporcionados pelo embaixador de Londres. Em Dezembro do mesmo ano, uma exposição de 56 fotografias, com retratos e também vistas de Queluz, Alfama e outros lugares, apresentou-se no Palácio Foz. Carmona teve então direito a sete fotografias, o Cardeal Cerejeira a seis, mas Salazar furtara-se a deixar-se retratar. De Duarte Pacheco, que morreria pouco depois, ficou para a história a pose determinada, de pé atrás da secretária em que pousa levemente os dedos — o presente catálogo optou por outras duas imagens menos conhecidas.
Suportando sempre a procura de uma identidade pessoal no ambiente envolvente do modelo, Cecil Beaton deixou-nos o mais forte retrato de uma sociedade ainda aristocrática, ferozmente conservadora na sua aparência mansa e certamente inquieta perante as convulsões do tempo.
Posted at 10:26 in 1995, Fotografos, Historia | Permalink
Tags: Cecil Beaton
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