O ‘recluso 44’ do Estabelecimento Prisional de Évora fez chegar ao Diário de Notícias (DN), um texto no qual fala da “prisão preventiva” e do “segredo de justiça”, tecendo severas críticas à justiça e autoridades, e também aos jornalistas e políticos.
“Da prisão preventiva”, escreve Sócrates na primeira parte da sua carta, “prende-se para melhor investigar. Prende-se para humilhar, para vergar. Prende-se para extorquir, sabe-se lá que informação. Prende-se para limitar a defesa: sim, porque esta pode ‘perturbar o inquérito’”.
Para José Sócrates, “prende-se principalmente para despersonalizar. Não, já não és um cidadão face às instituições; és um ‘recluso’ que enfrenta as ‘autoridades: a tua palavra já não vale o mesmo que a nossa”. “Mais que tudo – prende-se para calar”, redige o ex-governante, ironizando, de seguida, com as palavras já proferidas por Aníbal Cavaco Silva sobre este caso: “As instituições estão a funcionar”.
Na segunda parte da carta, Sócrates foca-se no “segredo de justiça”, condição que, no seu entender, “só a defesa está obrigada a cumprir”. E aqui começam as críticas aos jornalistas, sem mencionar nomes, que “fazem o trabalho para eles”.
O antigo chefe de Governo aproveita também a oportunidade para criticar a forma como a justiça – e mais uma vez -, a comunicação social têm atuado: “toma lá informação, paga-me com elogios. Dizem-lhes o que é crime conhecerem, eles compensam-nos com encómios; magnífico juiz; prestigiado procurador; polícia dedicado e competente”.
“Lado oculto e podre, é certo”, afirma. “Mas há quanto tempos o conhecemos?”, questiona, retoricamente, o também filósofo, deixando a resposta na “intimidação e na cumplicidade”. “Há quanto tempo sabemos que a impunidade de quem comete esses crimes está sustentada na intimidação e na cumplicidade? Sim, na intimidação, desde logo”.
“E sabemos como pesa a simples notícia de que se está sob investigação”, lamenta Sócrates. Mas a cumplicidade é ainda julgada: “Digamo-lo sem rodeios: o ‘sistema’ vive da cobardia dos políticos, da cumplicidade de alguns jornalistas; do cinismo das faculdades de Direito e do desprezo que as pessoas decentes têm por tudo isto”.
“De resto basta-lhes dizer: ‘Deixem a justiça funcionar’. Sim, não se metam nisto. É verdade que, há muito, alguns desafiam o sistema e dizem abertamente que a justiça foi ultrapassada. Bem o vemos. Mas, e se foi ultrapassada por aqueles a quem confiamos a nossa liberdade? Sim – pergunta clássica – quem nos guarda dos nossos guardas?”, questiona Sócrates, respondendo logo de seguida com ironia: “Silêncio. ‘As instituições estão a funcionar’”.
O DN dá ainda conta, na edição desta quinta-feira, que o ex-primeiro-ministro está também indiciado pelo crime de corrupção ativa. Sócrates é suspeito de ter oferecido vantagens financeiras, ou outras, a determinadas pessoas depois de já ter exercido o cargo de chefe de Governo. De acordo com a publicação, Sócrates é suspeito de receber e dar 'luvas'.
Sem comentários:
Enviar um comentário