quinta-feira, dezembro 27, 2012

Em Junho de 2007, Charles Smith foi ouvido em Inglaterra e confrontado com um DVD onde, em conversa com um antigo administrador da Freeport, Alan Perkins, surge a dizer ter pago luvas ao actual primeiro-ministro, José Sócrates, de forma a que o outlet de Alcochete fosse viabilizado.

Charles Smith negou ter pago, dizendo que apenas inventou uma história para que o Freeport pagasse à Smith&Pedro uma verba correspondente a IVA que a empresa estava a suportar em Portugal.


 
Sócrates chamado a depor como testemunha no caso Cova da Beira 
07.05.2009 - 21h44 José António Cerejo
 
 
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Março de 2001. A revista "Exame", que na altura dirigia, dizia na capa que o
Banco de Portugal tinha passado um cartão amarelo ao BPN. Dias depois recebi
um telefonema de Pinto Balsemão. Assunto: Dias Loureiro tinha-lhe telefonado
por causa do artigo e, na sequência dessa conversa, queria falar comigo.
Acedi prontamente.
 
A conversa com o ex-ministro foi breve... mas elucidativa: Dias Loureiro
estava desagradado com o tratamento dado ao BPN; o assunto tinha criado um
problema imagem do banco; não havia qualquer problema com o BPN; Oliveira e
Costa estava muito "incomodado" com a matéria de capa (para a qual tinha
contribuído, com uma entrevista) e pensava processar a revista (como
efectivamente aconteceu).
 
Depois da conversa comuniquei a Pinto Balsemão que não tinha ficado
esclarecido com as explicações de Dias Loureiro e que, por mim, a "Exame"
mantinha o que tinha escrito. O que aconteceu depois é conhecido...
 
Ao ouvir Dias Loureiro na RTP fiquei espantado. Porque o ex-ministro disse
que ficara tão preocupado com o artigo que foi, de "motu propriu", ao Banco
Central comunicar que a instituição devia estar atenta. Das duas uma: ou
Dias Loureiro soube de algo desagradável entre a conversa comigo e a ida ao
Banco de Portugal; ou fez "fanfarronice" nessa conversa para esconder os
problemas do BPN. Há uma terceira hipótese... Feia. Mas depois do que vi no
assunto BPN já nada me espanta!
 
No meu dicionário da língua, portuguesa, 5ª edição da Porto Editora, consta:
Político, adj. Que pertence ou diz respeito à política ou aos negócios
públicos; fig. delicado; cortês; astuto; finório; s.m. indivíduo que trata
de política; estadista.
Em consequência do que se passa neste país, proponho à Porto Editora que
acrescente mais: adj. Hominho aldrabão, trafulha, safado, mentiroso,
vigarista, desonesto, salafrário, sem verticalidade

 
 
NICOLAU SANTOS...escreveu isto
 
caso Freeport, qualquer que seja o seu desfecho, reacende-se num momento em que o que Portugal menos precisava era ter um primeiro-ministro obrigado a canalizar parte das suas energias para outro assunto que não o combate à violenta crise internacional, que também está a atingir dramaticamente o país. Dito isto, que é uma verdade para qualquer Governo e qualquer primeiro-ministro no actual quadro que se vive, analisemos então alguns aspectos deste momentoso caso.

1) A construção do Freeport foi autorizada muito rapidamente? Não, não foi. Foi chumbada uma primeira vez em Junho de 2000 pelo Ministério do Ambiente, por não cumprir os regulamentos previstos na lei. E voltou a ser chumbada entre Maio e Dezembro de 2001. Quem era o ministro nos dois casos? José Sócrates. Surpreendente, não?

2) Enquanto foi ministro do Ambiente, Sócrates não poupou nos chumbos a projectos emblemáticos que violavam normas ambientais: um na Lagoa da Vela, outro na praia do Meco, um outro na costa alentejana... E exonerou mesmo um vice-presidente do Instituto da Conservação da Natureza, José Manuel Marques, por ter licenciado um empreendimento no Abano contra indicações superiores (ver texto de Pedro Almeida Vieira, o jornalista que mais sabe de Ambiente em Portugal, publicado no Público de 25.1.2008)

3) Suspeita-se da celeridade com que foi aprovado o projecto. Ora, ponto a), como se viu o projecto já tinha sido apreciado duas vezes pelo Ministério do Ambiente, pelo que a sua avaliação se tornava mais fácil, incidindo sobretudo nos aspectos que teriam de ser corrigidos para poder ser aprovado; e, ponto b) em que Governo anterior é que não houve aprovação acelerada de numerosos projectos em final de legislatura (volto a Pedro Almeida Vieira, que relembra Cavaco Silva, cujo Governo aprovou três projectos no Algarve, e Pedro Santana Lopes, que aprovou o projecto Portucale).

4) Mas só foi aprovado o projecto Freeport? Não, nesse período do final do Governo de António Guterres foram aprovadas mais de uma dezena de declarações de impacto ambiental (Rui Gonçalves, ex-secretário de Estado do Ambiente, dixit), que acrescenta: o processo do Freeport estava a ser analisado há muito tempo, as exigências feitas pelo Ministério do Ambiente para dar parecer positivo tinham sido acatadas, pelo que não havia nenhum motivo para se adiar a decisão. Lógico, não?

5) Só que o grupo Carlyle, que comprou o Freeport Internacional, descobriu que há quatro milhões transferidos para Portugal e que não se sabe onde foram parar. Pois, isso - que é obviamente o factor decisivo para desembrulhar esta meada - será a polícia a determinar, nomeadamente a quem pertencem as off-shores por onde o dinheiro terá passado. Mas cheira-me que José Sócrates não está ligado a nenhuma.

6) Ah, mas Sócrates reuniu-se com Charles Smith, o homem que supostamente pagou as luvas. Reuniu? Bem, o próprio Smith diz que nunca esteve em nenhuma reunião com Sócrates. Na reunião que houve entre o Ministério do Ambiente e a Câmara de Alcochete também estiveram representantes do outlet, mas não Charles Smith.

7) Bom, mas o tio de Sócrates disse que telefonou ao sobrinho a pedir-lhe para receber Smith. Para além do tio de Sócrates parecer completamente tonto, não conseguindo articular uma frase com princípio, meio e fim, queixa-se amargamente do tal Smith nem sequer lhe ter agradecido a diligência (que não a reunião, porque até agora ninguém confirmou que se tenha realizado um encontro entre Smith e Sócrates).  

8) Ah, mas o primo de Sócrates enviou um mail à Smith & Pedro, intermediária do negócio, a pedir que se lembrasse da agência de publicidade da família como recompensa pelo facto de ter proporcionado um encontro entre os representantes do outlet e José Sócrates. E isso prova o quê? Para já, prova que Sócrates tem familiares que se tentaram aproveitar do seu nome em benefício próprio - e absolutamente mais nada. E infelizmente os familiares não se escolhem. Existem.

9) Sim, mas a questão é que houve uma alteração à Zona de Protecção Especial para permitir que o projecto avançasse - e a Quercus, sempre atenta e fundamentalista, enviou a queixa para Bruxelas, fazendo o seu dirigente, Fernando Ferreira, mais umas quantas declarações cheias de verdades absolutas por estes dias. Acontece que, espanto dos espantos, a Comissão Europeia arquivou a queixa da Quercus em Dezembro de 2005 porque, após as medidas de minimização do impacto ambiental, o projecto "não envolvia perturbação significativa" para as aves selvagens da Zona de Protecção Especial.

10) Finalmente, já andamos todos nisto há muitos anos para constatar que, por muito que os senhores magistrados do Ministério Público se sintam ofendidos, há processos que têm uma lamentável tendência para emergir em períodos eleitorais, fontes que furam o segredo judicial e fazem sair informação a conta-gotas, entrevistas feitas por jornalistas que ficam a marinar no congelador durante dez dias, etc, etc. Os objectivos são óbvios.

 É por isso que José Sócrates deve ser o político em Portugal contra o qual mais casos, no final sempre inconclusivos, têm aparecido na comunicação social: a suspeita de homossexualidade, os projectos de casas que assinou na Guarda, o curso na Universidade Independente e agora o Freeport. Não deve ser por acaso.  


Convento  do Beato reformulado

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