‘(…) não tivemos azar na destruição da procura interna da
economia. Foi deliberado. O fracasso confesso de Gaspar é o fracasso de uma
política económica dita liberal, que teve como ideólogos pessoas que aqui foram
chamadas de estupidamente inteligentes, incluindo António Borges, Braga de
Macedo e, claro, Vítor Gaspar. A lógica de destruição da má economia induzida
pela escassez não se cumpriu. A lógica da virtude das reformas estruturais como
purificação do ambiente depois da qual viria o crescimento espontâneo, e
essencialmente privado, não aconteceu. Essa perspectiva económica supostamente
evolucionista (em que os que melhor se adaptam são os que sobrevivem) tornou-se
uma prática de extermínio (em que os mais poderosos permaneceram). A economia
está a morrer. Em parte porque as previsões do modelo falharam. Mas a expiação é
maior do que o bode. A economia está a morrer também porque o Governo falhou
gravemente no desmantelamento dos interesses instalados, que afinal permanecem.
A economia está a morrer também porque o Governo falhou gravemente no corte da
despesa permanente e na reforma do Estado, o que levou a sucessivos golpes de
austeridade, ora colossais, ora enormes. A economia está a morrer porque em vez
de comando há desnorte, tira-se, repõe-se, retira-se, opõem-se medidas a
medidas, prolongando a incerteza e aniquilando a confiança. A economia está a
morrer porque além de semear o mal que era (e era) necessário semear, o Governo
não teve uma ideia, uma proposta, uma política que surpreendesse. Houve muitas
lâmpadas sem génios. E agora, o Governo recua, cede, e não só aos professores -
a tudo. Como confessionalmente disse Miguel Relvas noutros tempos, o Governo não
tinha Plano B. Nota-se.’
Pedro Santos
Guerreiro
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