Por Sílvia Caneco
publicado em 3 Abr 2015 - 19:00
publicado em 3 Abr 2015 - 19:00
Durante o interrogatório, dois empresários confessaram conhecer o ex-ministro da Administração Interna há anos
A revelação ficou guardada para o momento dos interrogatórios. Em Novembro, perante o juiz Carlos Alexandre, dois chineses que estavam a ser interrogados por suspeitas de corrupção nos vistos gold – Zhu Xiaodong e Zhu Baoe – disseram conhecer há anos Miguel Macedo e Albertina Gonçalves, então secretária de Estado do Ministério do Ambiente e sócia do então ministro da Administração Interna. Como? Ambos tinham sido clientes do escritório de advocacia de Macedo e Albertina Gonçalves “em matérias correlacionadas com restaurantes e lojas de artigos chineses” que haviam explorado.
Os novos dados – que levaram o juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal a sublinhar caber ao Ministério Público (MP) e à Polícia Judiciária “densificar cabalmente este segmento dos meios de prova” – constam de um acórdão de resposta ao pedido de revisão das medidas de coacção de um dos arguidos. O mesmo documento da Relação de Lisboa em que, como o i noticiou ontem, o MP diz ter encontrado uma série de indícios criminais contra Miguel Macedo e ser “claro e cristalino” que o ex-ministro da Administração Interna é “o único responsável político” com “directa participação nos factos” e, por isso, suspeito de ter cometido um crime de prevaricação no caso dos vistos gold. A Relação de Lisboa também fez questão de sublinhar que o crime se consumou “na esfera do ministro”. Apesar disso e de Macedo ter enviado uma carta ao Ministério Público logo após a sua demissão a oferecer-se para prestar declarações, o actual deputado do PSDnão foi ainda constituído arguido nem chamado a prestar esclarecimentos no processo.
O Ministério Público sustenta a tese do envolvimento de Macedo na rede dos vistos gold tendo por base escutas telefónicas, encontros, jantares e presentes. Mas há também uma referência, numa conversa telefónica, que sugere ter-se chegado a planear uma viagem de Macedo à China. A 5 de Maio, os investigadores depararam-se com uma reunião entre Zhu (empresário chinês responsável por angariar compradores de imóveis em Portugal), António Figueiredo, Jaime Gomes e Miguel Macedo, “no seio da qual” terão acordado “os termos e propósitos da criação de uma sociedade na China com vista à expansão do negócio”.
Estaria nos seus planos criar uma “associação comercial” ou “clube de elite de empresários chineses e portugueses” na China e na qual, num primeiro momento, participaria Zhu, António Figueiredo (então presidente do IRN), Jaime e um outro indivíduo de nacionalidade chinesa, mediante o pagamento de quotas anuais. No dia seguinte, Zhu conversou ao telefone com um parceiro chinês, sublinhou a pretensão de expandir aquele negócio para Angola, Macau, Moçambique e Brasil, referiu o nome de Miguel Macedo e sublinhou a mais-valia de os sócios serem “entidades oficiais”.
A 16 de Maio, Zhu acordou com outro homem de nacionalidade chinesa que viajariam no dia seguinte para o Norte, saindo de Lisboa pelas 10h, “a fim de comparecerem na casa de Miguel Macedo”. A 6 de Setembro, Figueiredo conversou com um interlocutor a quem tratou por “Zezito”, tendo-lhe revelado que estaria a tratar do protocolo para Miguel Macedo, “quando este for à China”.
O MP faz ainda referência a Xia Baoliang, sócio de Zhu e do genro de António Figueiredo na sociedade Hora do Descanso, desde Abril de 2014. Os investigadores alegam que Xia “tomou conhecimento e participou no plano societário a desenvolver em Pequim por Jaime, Zhu, Figueiredo e indiciariamente Miguel Macedo, ao qual foi apresentado pessoalmente”.

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