sexta-feira, abril 03, 2015

Perdeu-se um Icone da Anita e Bobó...até já, grande Oliveira



"A única coisa que sabemos ao certo é que ninguém nasce senão para morrer." E para trabalhar até que esse dia chegue, como se isso fosse pouco. Incansável, o cineasta mais antigo do mundo em actividade morreu ontem, aos 106 anos

Lumière deu o realismo. Méliès assinou a fantasia. Max Linder responsabilizou-se pelo cómico. "Todo o cinema ficou inventado de entrada. Está tudo lá, não há mais nada", disse ao "Público", em 2011, o cineasta que ao longo de um século reinventou essa trindade, enquanto a história dos filmes se confundia com a sua, com a do país, com o mundo, na certeza de que amanhã é sempre bom dia para filmar, por mais que a vida se precipite para a sua foz e acene à nascente de cada vez mais longe. "Não olho para o que fiz. Olho para o que vou fazer", repetia em entrevista ao DN nesse mesmo ano, ainda e sempre com o palco instalado no centro da acção, ciente de que "o teatro é mais honesto que o cinema, porque o cinema filma sonhos".
A longevidade da fantasia só assusta quem não aspira, olhando de fora com espanto. Em 1908, a bola atirada em Times Square em sinal de ano novo cai pela primeira vez. Uma mensagem de rádio é enviada da Torre Eiffel. Baden Powell cria os escuteiros. D. Carlos e o príncipe Luís Filipe são assassinados no Terreiro do Paço. Funda-se o "Pravda". O primeiro passageiro viaja num avião e Henry Ford introduz o modelo T. Manoel Cândido Pinto de Oliveira nasce no Porto a 12 de Dezembro desse começo de século xx, numa família da burguesia industrial. O nome próprio escreve-se então com "o", grafia mais tarde corrigida para "Manuel", que nunca chega a usar, oficializando a assinatura depois de "Amor de Perdição", um dos muitos exemplos que ilustram a relação estreita que desenvolveu com a literatura, com a matéria onírica a subir ao palco em fitas como "Acto da Primavera" (1963), representação da Paixão de Cristo em Trás-os-Montes. Trabalhou sobre textos de José Régio, Agustina Bessa-Luís, Eça de Queirós, Raul Brandão. Em Dezembro de 2014, por ocasião do seu 106.o aniversário, apresentou a curta-metragem "O Velho do Restelo", reunindo num banco do século xxiD. Quixote, o poeta Luís Vaz de Camões e os escritores Teixeira de Pascoaes e Camilo Castelo Branco.

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