
Alarico no divã
po VIRIATO SOROMENHO MARQUESHoje
Um país doente não faz bem à saúde dos seus cidadãos.
Não bastava o desfilar diário de um governo que apresenta uma economia com um PIB 7,1% abaixo dos valores de 2008 (fora o resto da fatura social) como se fosse um exultante sucesso. Agora temos também uma espécie de alucinação coletiva.
No domingo ocorreu uma dupla explosão de violência, paradoxalmente, associada ao que deveria ser uma festa desportiva.
No Estádio do Guimarães deve ter acontecido um fenómeno de "túnel do tempo", pois as criaturas que devoraram cadeiras, destruíram casas de banho e um bar, pilhando uma loja de produtos desportivos, só poderiam ser visigodos das hordas de Alarico, que saquearam Roma em 410.
Mais tarde, uma praça nobre da capital transformou-se num campo de batalha, com feridos e destroços. Freud ensinou-nos que nos sonhos e em algumas doenças mentais, existe uma espécie de retórica do deslocamento.
O que sonhamos ou o que narramos dos nossos estados mentais, desloca e esconde o que é verdadeiramente importante.
Transformar os acontecimentos de domingo num caso de abuso policial, condenando um agente da autoridade sem qualquer investigação séria e profunda, é um deslocamento que indicia uma perigosa patologia coletiva.
Não é aceitável passar para segundo plano a barbárie organizada, que com o envolvimento negligente de autoridades municipais, e contra as recomendações da PSP, se apoderou do espaço público, fazendo perigar a integridade física e a fazenda dos cidadãos.
Já basta que o sectarismo partidário tenha afastado os portugueses da coisa pública.
Não podemos admitir que o hooliganismo nos roube a alegria do futebol.
Na sua grandeza de fenómeno cultural complexo, como bem o pensa Manuel Sérgio, no seu mais recente ensaio O Futebol e Eu.
Sem comentários:
Enviar um comentário