MÁRIO SOARESO escândalo da TAP
Para o atual governo não existem empresas estratégicas de domínio público como todos os países têm.O governo nunca referiu as verbas que recebe, embora pague a consultores externos importâncias que não diz quais são, como sucedeu agora com um administrador do Banco de Portugal, que vendeu empresas públicas estratégicas a estrangeiros, como a EDP e a REN, ou empresas privadas de duvidosa credibilidade, como sucedeu com a PT. E prepara-se agora para, desgraçadamente, fazer o mesmo com a TAP, o que é para toda a lusofonia considerado um crime.
UM PROJETO DE GOVERNO
Como é sabido, o secretário-geral do Partido Socialista, António Costa, pediu a 12 economistas de grande categoria que apresentassem medidas macroeconómicas importantes para o novo país.
Analistas insuspeitos - ainda os há - de reconhecido e público mérito referiram-se a essas medidas com entusiasmo, vendo nelas uma alternativa de futuro.
O atual governo, que até essa altura dizia que o Partido Socialista não tinha políticas para apresentar, não foi capaz de propor outras que não sejam a continuação das que vem aplicando e que tanto têm sacrificado os portugueses.
Depois disso, o Partido Socialista apresentou um projeto de programa de governo inteiramente original, sujeito a debate entre os seus militantes.
O governo veio agora dizer que são medidas a mais e não fala nunca nas verbas de que o governo dispõe. A ministra das Finanças alegou, em tempos, que tem os cofres cheios, mas nunca informou o povo português do montante e de onde veio ou para onde vai.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
E AS ELEIÇÕES
O Presidente da República deixou para o último momento a marcação das eleições legislativas. Ao assumir esta posição sabia que os partidos do governo precisavam de mais tempo para fazer maior propaganda.
Talvez por isso o atual governo, sempre por ele protegido, já esteja em plena campanha eleitoral. Basta ver como Passos Coelho comemorou a passagem do quadragésimo aniversário da criação do seu partido, fazendo, ainda no último debate quinzenal na Assembleia da República, um exaustivo e demagógico balanço da governação.
Esta, como é sabido, conduziu a um desemprego sem paralelo, a uma imigração imensa, a um galopante crescimento da dívida, à destruição do Serviço Nacional de Saúde, ao desmoronamento da justiça, à degradação da educação e, sobretudo, à venda do país a retalho, de que o escândalo da venda da TAP é o episódio mais recente e indecente!
Já sem poder de influência, como poderá o senhor Presidente da República assegurar, em outubro próximo, a estabilidade política que diz defender? Não é crível.
Como vai garantir que o Orçamento do Estado para 2016 seja debatido e votado na generalidade e na especialidade em tempo útil de forma a entrar em vigor a 1 de janeiro de 2016?
Porque é que o Presidente da República, contra todos os analistas insuspeitos e o sentimento generalizado da opinião pública, procede desta maneira?
OS FACILITADORES
O jornalista Gustavo Sampaio publicou no ano passado um livro que tem por título Os Facilitadores.
Este livro, escrito com grande isenção e rigor, refere factos que nenhuma das personalidades nele invocadas ousou desmentir. O autor aborda a influência que algumas personalidades têm na intermediação de negócios dinamizados pelo Estado, obtendo vantagens económicas. O mal não está, naturalmente, na atividade em si, que faz parte do comércio, mas no facto de algumas dessas personalidades não deixarem de ser políticos, sucedendo mesmo que alguns meios de comunicação social as contratam como analistas da própria atividade política, pagando-lhes!...
Salvo um excelente e oportuno artigo de Miguel Sousa Tavares, no Expresso, chamando a atenção para a importância do livro do seu colega jornalista, não mais li ou ouvi o assunto, de enorme importância, ser tratado e discutido na comunicação social.
Encontrando-se o país já em plena campanha eleitoral, será aceitável que políticos referenciados com factos precisos como "facilitadores" de negócios do Estado, e portanto beneficiando dos favores do governo, continuem, em horários nobres, como analistas políticos em canais generalistas, como sucede, entre outros, com Marques Mendes ou Morais Sarmento, citados nesse livro?
Sobre isto o que pensam o governo e o Presidente da República, calados como estão sobre o assunto?
A NOSSA TERRA
O mundo vai mal, como tenho dito, em todos os aspetos. Os conflitos e as guerras estendem-se um pouco por todos os continentes. O nosso planeta Terra, essência exclusiva para a sobrevivência da humanidade, também não parece que esteja bem.
O falhanço sistemático de muitas das iniciativas que tinham como meta travar a gravíssima evolução a que temos assistido a nível das alterações climáticas, a falta de controlo das mesmas e a perversão da denominada "economia de mercado livre", que vão garantindo a continuação do domínio dos mercados usurários que carregam no seu conceito o lucro, esquecendo as pessoas, contribuem para pôr em risco a nossa vida e o futuro da Terra.
Relativamente ao planeta Terra, há "muitos mundos", resultantes dos diferentes Estados e ou Nações, nos vários continentes. Esses, contudo, foram criados por diferentes homens e mulheres, falando várias línguas, com diversas culturas e ideologias.
Sucede que foram os portugueses, depois da Grécia e de Roma, que se lançaram nos descobrimentos e deram a conhecer novos mundos ao mundo.
São esses mundos que hoje estão em conflito, uma vez que ultimamente há guerras entre Estados e entre religiões. Cito: o Afeganistão, o Iraque, a Síria, a Ucrânia, a Rússia, o Iémen, Israel, sem esquecer, embora num passado próximo, o Líbano e o Egito.
As divergências políticas e religiosas têm feito história entre os países árabes, com dramáticas consequências também resultantes do radicalismo islâmico e do atual perigoso dirigente de Israel, Benjamin Netanyahu.
Pelo contrário, o Papa Francisco é um Papa excecional e aberto, que diz o que pensa, e procura, sem problemas, estabelecer a paz com as outras religiões. Bem como o presidente Barack Obama, outra grande figura dos Estados Unidos, que está quase no fim do seu mandato e continua a lutar para que os Estados Unidos restabeleçam relações com Cuba, como aliados, tendo com Raúl Castro, irmão de Fidel Castro e atual presidente de Cuba, um relacionamento excelente. Raúl Castro foi ao Vaticano falar com o Papa Francisco, pondo-o ao corrente do que se passava, que lhe prometeu ir a Cuba.
Num mundo em que há tantas guerras, são exemplos preciosos que não se devem esquecer...
Nota 1: No Vaticano, perante 7000 pessoas de associações de trabalhadores católicos, o Papa Francisco disse que o capitalismo centra tudo no dinheiro e que as crianças, os idosos e os desempregados ficam à margem.
Disse ainda que no atual mundo global não são apenas os problemas que contam, mas também a sua dimensão e a sua urgência, e que é inédita a velocidade da evolução das desigualdades. E que cito: "É necessária uma resposta vigorosa contra este sistema económico mundial, em que no seu centro não se encontram o homem e a mulher, mas um deus chamado dinheiro. É ele que comanda."
A austeridade, que o Papa Francisco sempre disse que mata, continua a estar presente em Portugal.
Nota 2: O governo disse estar disposto a renovar por mais cinco anos o mandato do atual governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
O líder do Partido Socialista declarou - e bem - que é inaceitável esta renovação a escassos meses das eleições, não se sabendo o que vai acontecer a este governo, cujo protetor é o Presidente da República...
Este facto é tanto mais grave quanto o primeiro-ministro e o Presidente da República nem sequer ouviram as oposições.
Nota 3: Nas recentes eleições para onze regiões autónomas e cerca de oito mil municipalidades em Espanha, o Partido Popular de Rajoy teve um sério revés. Não só perdeu um número muito considerável de regiões onde tinha maiorias absolutas, como viu a Esquerda no seu conjunto passar a ser maioritária.
Os novos partidos, o Podemos e o Ciudadanos, tiveram os resultados que as sondagens indicavam, e na maioria das regiões os partidos tradicionais terão agora de fazer coligações com eles.
O PSOE não só se aguentou muito bem como sairá vencedor nas eleições legislativas de novembro, como tudo indica.
UMA PRISÃO INACEITÁVEL
Fui, pela quinta vez, visitar à cadeia de Évora o meu amigo José Sócrates, ex-primeiro-ministro que tanto fez por Portugal e pelos portugueses.
Em Paris, onde residiu temporariamente e estudou no Instituto Sciences Po, publicou um livro interessante, A Confiança no Mundo - Sobre a Tortura em Democracia, sem, contudo, deixar de vir regularmente a Portugal para, durante algum tempo, falar aos domingos na RTP1, num programa com grande interesse para um vasto público.
Há seis meses, sem se saber porquê nem ter sido julgado por ninguém, foi preso e transferido - sem se continuar a saber porquê - para a cadeia de Évora. E assim estamos com Sócrates detido há já seis meses, por via do juiz Carlos Alexandre, sem qualquer motivo ou razão jurídicos, sendo agora o único preso de um processo sem consistência. Alguém entende isto?
Felizmente, tem sido visitado por muitos ilustres portugueses de norte a sul do país. E no plano da justiça, estranhamente, nunca mais foi ouvido.
Será que continuará assim até às próximas eleições? Sem que o Presidente da República e o primeiro-ministro do atual governo digam uma única palavra sobre este caso? Que vergonha, tenho dito e repito... Em que país e com que justiça temos nós de viver? E a União Europeia nada terá a dizer sobre a prisão sem culpa formada de um ex--primeiro-ministro?
Diz-se que a justiça está à espera das próximas eleições? Mas será que a justiça depende das eleições? Que vergonha, repito.
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