Publicado a 11 JUN 15 às 23:57
A TSF foi à prisão conversar com o ex-primeiro-ministro. Encontrou-o mais magro, mas no registo de sempre.
José Sócrates está focado, tem um guião e não o larga. Pouco quis falar de política e muito menos do PS. Entre o aperto de mão, o sorriso inicial e a despedida, também em tom mais descontraído, Sócrates esteve sempre em tensão. Vê-se que procura dar sentido ao que aconteceu atacando sempre os mesmos alvos, um "eles" nada indefinido - Carlos Alexandre e Rosário Teixeira. Confessa, quase no final da conversa, que não lhe resta qualquer confiança no sistema de justiça. Já por aí tinha passado antes, quando lamentou o silêncio da classe política perante o seu caso, um tema que marcou uma das «cartas de Évora», enviada em Dezembro ao DN.
Daniel Rodrigues / Global Imagens |
Não sendo uma entrevista, a conversa com cerca de 25 minutos foi passada mais a ouvir do que a perguntar. De pouco valia. A qualquer questão, mesmo sobre as condições de vida na prisão, o antigo primeiro-ministro responde rápido, sem detalhes, para regressar em poucos segundos à sua narrativa. A mensagem principal tem dois caminhos, algumas variantes e não surpreende. Primeiro, a circunstância em que se encontra e que não se cansa de repetir a cada passo: "estou preso há seis meses, sem acusação". Depois, os culpados dessa "circunstância": um juiz de instrução criminal e um procurador do Ministério Público. Por fim, as críticas duras e à forma como a imprensa tem tratado o seu caso e ao silêncio generalizado da classe política.
Para uma pergunta sobre os meses passados em Évora, o antigo PM não gasta uma frase que seja a falar dos guardas prisionais, ou dos outros presos. Rapidamente recua às horas passadas em Paris, antes do regresso a Lisboa. Recorda como foram ignoradas pelo DIAP as tentativas de contacto do seu advogado, a maneira como foi detido numa manga do Aeroporto de Lisboa e o modo como foi tratado nos primeiros dias de detenção, no Comando Metropolitano da PSP.
Numa sala de visitas com 7x6 metros de paredes brancas, onde existem seis mesas, com três ou quatro cadeiras de plástico por cada mesa, Sócrates fala quase sempre baixo. Por ali não há privacidade. Na mesa ao lado, outro preso fala em surdina com a namorada. Mesmo quando o discurso endurece e as palavras se tornam mais ásperas, José Sócrates esforça-se por manter um tom discreto.
Com o guarda prisional à porta a marcar o fim da visita, o outro preso e a namorada aguardam, de pé, que a nossa conversa acabe. Mal Sócrates se levanta, a namorada do outro preso faz questão de se despedir do ex-primeiro-ministro. Não consegui perceber se já se conheciam dali, ou se ainda resta algum do respeito com que em Portugal se trata, presencialmente, um antigo líder político.
Paulo Tavares
Sem comentários:
Enviar um comentário