Um ano e um dia depois de ter sido detido no aeroporto de Lisboa, o antigo primeiro-ministro socialista José Sócrates esteve neste domingo a almoçar com centenas de pessoas, na antiga FIL, em Lisboa. Antes de todos se sentarem nas mesas redondas, e depois de muitas palmas e vivas a Sócrates, o homenageado fez um discurso de meia hora, no qual leu passagens do inquérito sobre violação do segredo de Justiça e ainda finalizou a intervenção, falando sobre a actual situação política: “A minha voz está de volta ao debate público”, avisou. “Se o objectivo de alguém foi” que ela “fosse calada”, tal não vai acontecer, garantiu várias vezes.
Foi no final do discurso, dentro da sala, que teceu duas considerações sobre o actual momento político: segundo José Sócrates, golpe político não é o que o PS, apoiado pela esquerda, está agora a fazer, como consideram algumas vozes discordantes, mas sim o que a direita fez em 2011.
Referia-se à crise política que levou o seu Executivo a demitir-se, após o chumbo do PEC IV - "acordo que protegia o nosso país da chegada da troika", disse - e que levou à marcação de eleições antecipadas.
Sobre o “impasse” e a “demora” do Presidente da República em tomar uma decisão sobre a situação política do país, ironizou: se Cavaco Silva quisesse ser aconselhado, convocava o Conselho de Estado. A intenção, diz, é só “enfraquecer” a solução governativa à esquerda (a "única solução"), “é mostrar que ela é muito anormal, muito estranha, para construir as bases da campanha eleitoral que a direita um dia fará contra o futuro Governo que ainda não o é.”
Um Presidente, continuou, “que se comporta com base no ressentimento” leva "sempre ao isolamento". E José Sócrates “nunca” viu “um Presidente tão só”. A terminar “tão só”. Antes tinha dito que foi “uma década perdida” para a Presidência da República, “a instituição de que o país precisava e faltou nos momentos críticos e chave” e que “está a faltar”.
Também quando falou sobre Cavaco, recuou até 2011: “Afinal de contas, deu-lhe tanto trabalho pôr lá a direita em 2011 que agora lhe custa o trabalho de tirar de lá a direita e pôr de novo a esquerda em 2015."
Quando José Sócrates saiu do carro, acompanhado pelo histórico socialista Mário Soares, a comunicação social desatou a correr. Soares entrou por outra porta, os jornalistas cercaram o ex-primeiro-ministro. Prometeu falar mais lá dentro. E falou: de Justiça, da actual situação política.
Já Mário Soares disse apenas, na sala, que estava ali por amizade, não quis falar mais. O ex-primeiro-ministro não o esqueceu, quando discursou, e dirigiu-lhe uma palavra, ao amigo que esteve com ele desde início. Antes, e à entrada para o almoço, outro histórico socialista, Almeida Santos, explicou aos jornalistas que estava ali, porque Sócrates “merece”.
"Celebrar a amizade"
A fila para o almoço avança devagar. Misturam-se rostos conhecidos da política nacional, socialistas - Alberto Costa, Mário Lino, Paulo Campos, Vitalino Canas, o secretário-geral da UGT, Carlos Silva - com os de gente anónima. Teresa Oliveira, reformada de 66 anos, a viver em Lisboa, decidiu participar no almoço organizado pelo movimento cívico “José Sócrates Sempre”. “Ele foi o nosso melhor primeiro-ministro. Foi um reformista. Melhorou tudo, até o meu estado de alma”, diz. E acrescenta: “Não houve nenhum como ele.” Ao lado, Fátima Ferraz, que se deslocou do Porto, concorda: “As reformas que ele fez pelo país, é preciso coragem. É um indivíduo com visão de futuro. Pelo progresso, que pôs o país à frente”, diz a professora reformada de 65 anos.
A fila para o almoço avança devagar. Misturam-se rostos conhecidos da política nacional, socialistas - Alberto Costa, Mário Lino, Paulo Campos, Vitalino Canas, o secretário-geral da UGT, Carlos Silva - com os de gente anónima. Teresa Oliveira, reformada de 66 anos, a viver em Lisboa, decidiu participar no almoço organizado pelo movimento cívico “José Sócrates Sempre”. “Ele foi o nosso melhor primeiro-ministro. Foi um reformista. Melhorou tudo, até o meu estado de alma”, diz. E acrescenta: “Não houve nenhum como ele.” Ao lado, Fátima Ferraz, que se deslocou do Porto, concorda: “As reformas que ele fez pelo país, é preciso coragem. É um indivíduo com visão de futuro. Pelo progresso, que pôs o país à frente”, diz a professora reformada de 65 anos.
Quando entra na sala, toda a gente aplaude o antigo-primeiro-ministra. Grita-se: “Sócrates, Sócrates, Sócrates” ou “Sócrates, amigo, o povo está contigo.” Ouve-se também: “Soares é fixe.” Mário Soares e Almeida Santos cruzam-se e abraçam-se. José Sócrates desdobra-se em cumprimentos.
Pouco depois, começa a falar. Nem sabe para onde se virar, vai ter de ficar de costas para alguém, pede desculpa por isso. Agradece a todos por “nunca” terem deixado de o apoiar. Agradece o que fizeram por ele e pelo “Estado de Direito”, pela “Justiça”. Está ali para “celebrar a amizade”. E ao longo do discurso vai sempre deixando claro que não se vai calar nem dar por vencido: “Aqueles que quiseram isolar-me não tiveram sucesso.”
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