Escutas citadas pelo “Público” mostram pedidos de Marques Mendes a António Figueiredo, então presidente do Instituto dos Registos e Notariado e arguido no caso dos vistos dourados, que responde: “Podemos eventualmente ir pela via da discricionariedade”
Afinal, em 2014 o então conselheiro de Estado Luís Marques Mendes pediu mesmo favores a um dos arguidos no caso dos vistos gold, confirmam escutas citadas pela edição desta sexta-feira do “Público”. O comentador televisivo intercedeu junto de António Figueiredo, então presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), para acelerar alguns dossiês de atribuição de nacionalidade portuguesa.
Esta não é a primeira vez que o nome de Marques Mendes surge associado ao processo, tanto devido às ligações com António Figueiredo - que justificou como simples pedidos de informações sobre os casos - como pelos contactos com o seu antigo sócio Jaime Gomes, que em novembro de 2014 foi detido no âmbito da Operação Labirinto.
Desta vez, as escutas feitas aos arguidos do caso comprovam os favores pedidos por Marques Mendes em casos de atribuição de nacionalidade. A 26 de agosto, relata o “Público”, o então conselheiro de Estado disse a Figueiredo que lhe iria enviar um “emailzinho” sobre o caso de um casal que conheceu em Moçambique. Salimo Abdula foi descrito ao presidente do IRN como “um tipo de grande prestígio”, “talvez o maior empresário de Moçambique” e presidente da Confederação Empresarial dos Países de Língua Portuguesa, com uma “fortíssima ligação a Portugal”, onde até tem “negócios, casa e conta bancária”. Figueiredo responde: “Podemos eventualmente ir pela via da discricionariedade”. Marques Mendes replica: “Claro”, “se for preciso falo com o António Pires de Lima” (então ministro da Economia).
Contactado pelo “Público”, o comentador televisivo diz não ter feito nada de errado (“o caso arrastava-se há mais de um ano sem que os serviços dessem qualquer informação”) e sublinha que a situação continua por resolver.
Noutro caso, Maques Mendes intercede pela nora do fundador do grupo Pão de Açúcar, Geyze Marchesi Diniz, argumentando que o caso “é mesmo muito importante, porque eles vão investir muito dinheiro em Portugal” e que a então ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, é da mesma opinião.
“ERA UMA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA”
O matutino revela ainda os pedidos de Marques Mendes para que um problema com o cartão de cidadão da filha fosse resolvido rapidamente (“era uma situação de emergência”, justifica em declarações ao matutino) e o envolvimento na isenção de um pagamento de 1,8 milhões de euros de IVA numa das empresas do seu antigo sócio Jaime Gomes, num tratamento de doentes líbios num hospital português. Neste caso, Marques Mendes diz ter-se limitado a pôr Jaime Gomes em contacto com uma especialista em direito fiscal; nas escutas, pergunta ao empresário: “Essa coisa do IVA é importante. Porque sem isso o seu negócio 'tava furado, não é?” Gomes responde: “Morto. Morto. Morto”.
De acordo com as informações avançadas pelo “Público”, Miguel Relvas e Agostinho Branquinho também terão visto problemas burocráticos resolvidos num ápice depois de terem intercedido junto de António Figueiredo. Já a atual ministra da Justiça, Francisca van Dunem, terá contactado Figueiredo para resolver um problema com um pedido de atribuição de nacionalidade, mas apenas lhe terá sido indicada a funcionária com que deveria falar.A
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