terça-feira, fevereiro 23, 2016

Resultado de imagem para antonio jose pinto soaresA companheira de António Pinto de Sousa, falecido em 2011, contou ao MP como os gastos da família eram pagos pelo ex-primeiro-ministro
Tânia Gouveia, companheira de António Pinto de Sousa, irmão de José Sócrates falecido em 2011, relatou ao procurador Rosário Teixeira que várias despesas pessoais da família, como férias em hotéis de 5 estrelas, foram pagas pelo ex-primeiro-ministro, suspeito no processo dos crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. O depoimento foi de tal forma considerado importante que, ao contrário de outros que se mantiveram apenas gravados num CD, até foi escrito um detalhado resumo do mesmo numa informação da Autoridade Tributária no processo da Operação Marquês.
Ouvida a 17 de dezembro de 2014, um mês depois das primeiras detenções da Operação Marquês (de José Sócrates, Carlos Santos Silva, João Perna e Gonçalo Ferreira), Tânia Gouveia começou por contar ter sido hábito a família Pinto de Sousa passar férias junta. Como o marido ganhava cerca de 800 euros como funcionário público, Tânia afirmou ter-se sempre questionado quem pagava aquilo tudo. A companheira de António Pinto de Sousa acrescentou ser hábito passar férias, por exemplo, no Pine Cliffs Resort no Algarve (onde um quarto em época alta custa mais de 500 euros por noite). Além deste destino, Tânia recordou viagens a Salvador da Bahia, no Brasil, declarando novamente nunca ter pago nada.
O facto de o depoimento de Tânia Gouveia ter sido considerado como muito relevante poderá ter que ver com as revelações que a companheira de António Pinto de Sousa fez na primeira pessoa. Isto é, além dos indícios recolhidos pela própria investigação sobre os gastos de José Sócrates e as transferências de Carlos Santos Silva (que o ex-primeiro-ministro sempre afirmou tratar-se de empréstimos), as declarações de Tânia Gouveia surgem como prova testemunhal que poderá, de certa forma, corroborar os dados recolhidos pela investigação.
As últimas viagens, recordou ainda Tânia Gouveia, foram à Áustria e à Itália. E terão ocorrido em 2010 e 2011. Uma vez mais, a cunhada de José Sócrates disse que ficaram alojados em hotéis de 5 estrelas. Quem pagou? "Tudo era tratado pelo gabinete do senhor engenheiro, que era assim que se falava", respondeu Tânia Gouveia, dizendo ainda que nas férias em família era frequente a presença de José Paulo Bernardo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates. Ao Ministério Público (MP), o ex-primeiro-ministro garantiu não ter uma relação de muita proximidade com o seu primo, dizendo até não estar com ele há anos. No processo, porém, existem escutas telefónicas de conversas entre ambos em 2013 e 2014.
Os eventuais gastos de José Sócrates não se terão ficado pelas férias da família Pinto de Sousa. Tânia Gouveia declarou que todas as despesas do funeral do seu companheiro foram pagas pelo irmão, José Sócrates. Despesas essas que incluíram o transporte de António Pinto de Sousa para um hospital na Corunha num avião particular. De acordo com informações recolhidas pelo DN, tais despesas não terão sido pagas diretamente por Sócrates, mas sim por João Perna, o seu antigo motorista. Depois de registar uma transferência de 40 mil euros de Carlos Santos Silva, o antigo motorista terá emitido um cheque à Servilusa no valor de 27 mil euros e um segundo à Emergência Médica Internacional no valor de nove mil euros pelo transporte de António Pinto de Sousa de Lisboa para um hospital na Corunha, onde viria a morrer. Questionada pelo DN sobre este depoimento, a defesa de José Sócrates declarou que "é triste que esta investigação se tenha resumido a isto, coscuvilhice. Este depoimento deve suscitar uma reflexão sobre o que a investigação andou a fazer nos últimos dois anos".
Juiz censurou Ministério Público
Um dos momentos de maior tensão durante a investigação da Operação Marquês ocorreu em maio deste ano, durante um interrogatório a José Sócrates com o procurador Rosário Teixeira e o inspetor tributário Paulo Silva. O ex-primeiro-ministro entrou em diálogo com os investigadores, utilizando um tom bastante duro, chegando a prometer um ajuste de contas no final do processo. Isto não passou despercebido ao juiz de instrução, Carlos Alexandre. Em junho deste ano, o magistrado comentou o comportamento de José Sócrates, ao mesmo tempo que criticou o Ministério Público.
Confrontado com um primeiro requerimento, no qual o procurador defendia a substituição da prisão preventiva pela domiciliária, invocando para isso uma diminuição do perigo de perturbação do inquérito, Carlos Alexandre recordou vários momentos do interrogatório a Sócrates com o Ministério Público para questionar a opção: "O que surpreende não é a posição do arguido, mas sim a consideração pelo Ministério Público, perante tudo o que o arguido disse no seu interrogatório, de que o perigo de perturbação do inquérito diminuiu."

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