Foi ator, encenador, realizador, argumentista, professor de atores e candidato à Câmara de Serpa. Alentejano, trabalhador e com a cabeça sempre cheia de ideias, desfiou histórias de uma vida cheia num almoço-entrevista com Clara Ferreira Alves que o Expresso publicou em março de 2011 e republica cinco anos depois, no dia em que Nicolau Breyner nos deixou.
“Não sei se sou um bom católico, mas não sou um mau cristão”
Foi ator, encenador, realizador, argumentista, professor de atores e candidato à Câmara de Serpa. Alentejano, trabalhador e com a cabeça sempre cheia de ideias, desfiou histórias de uma vida cheia num almoço-entrevista com Clara Ferreira Alves que o Expresso publicou em março de 2011 e republica cinco anos depois, no dia em que Nicolau Breyner nos deixou. “Não sei se sou um bom católico, mas não sou um mau cristão”
Nicolau Breyner é uma daquelas personagens da vida real que parece que conhecemos sem conhecer. E com quem simpatizamos sem querer. Em parte porque o conhecemos da televisão, onde se estreou jovem e onde tem sido uma presença constante em telenovelas, séries, filmes ou programas de comédia. É ator, encenador, realizador, argumentista, professor de atores, e tem a cabeça cheia de ideias. Vai abrir uma escola de atores, a NBA. Nicolau Breyner.
Foi candidato político à Câmara de Serpa, perdeu, diz que não repetirá a proeza. Não é candidato às europeias, ao contrário do que foi anunciado. É amigo do presidente da Câmara que o venceu, um comunista. A delicadeza de toque, que faz do "Nico" um homem encantador que pode chegar atrasado ou desaparecer sem que nos zanguemos com ele, tem como base uma educação à antiga portuguesa e uma capacidade de apreciar a vida.
O "Senhor Feliz" ou o "Senhor Contente" (programa que fez com o estreante Herman José, na RTP) é um alentejano que trabalha muito porque "a família é grande". A jovialidade é desmentida pelos papéis dramáticos, sobretudo no cinema, que fazem dele um soberbo ator. A casa da Lapa está cheia de "miúdos", vozes, cães (o jipe, o sr. Pacheco e a sra. D. Maria José), retratos, fotografias, recordações. É um homem de família, casado cinco vezes. Na chaminé está uma fotografia dele, imaturo, com o maduro poeta Vinicius de Moraes. Ele diz que foi "uma amizade à primeira vista, que é como o amor à primeira vista". Tinham tudo para "dar certo", e a mulher de Vinicius dizia que eles eram "bichas". É padrinho de uma filha de Vinicius, Maria. Tal como o grande brasileiro, Nicolau Breyner tem o dom de tornar coisas complexas em coisas simples, operação mais difícil do que parece. Almoçámos muita comida alentejana com vinho alentejano, num restaurante alentejano, ao Calvário, um solar, onde ele é recebido como um rei. Muito queijo e pão alentejano a abrir e nenhum doce a fechar. Ele queria cação, não havia. Ficou prometido.
Nicolaucolau Breyner Tenho, tenho. Isso era a telenovela. Tenho uma vida que soube construir e defendo-a muito, a família é muito importante para mim. Da parte da minha mãe somos alentejanos há séculos, da parte do meu pai não. Sou um mestiço. O meu pai apaixonou-se pelo Alentejo. Era professor de História e Filosofia e foi abrir um grande colégio no Baixo Alentejo. Ainda eu não era nascido. Foi quando conheceu a minha mãe. Sempre fomos muito de família, embora a família não fosse grande. Tive só uma irmã, que morreu quando era muito pequenina, e só tenho um primo direito vivo. Mas o meu pai, a minha mãe, a minha avó e o meu avô vivemos sempre juntos. Eu sou a segunda geração que não é agricultora. O meu avô, pai da minha mãe, tinha duas herdades. Os Melos depois casaram com uma Breyner, estão em Serpa há 400 anos.
Serpa devia ser a aldeia mais bonita de Portugal.
Agora é uma cidade, a maior besteira do mundo. Cidade porquê? Não meti aí prego nem estopa.
Serpa é grande e está muito bonita e bem arranjada. A Câmara é e sempre foi do PC, agora é do meu amigo João Rocha, que foi meu adversário nas eleições.
Tornámo-nos amigos íntimos. De tal modo que nas últimas eleições ele concorreu a Beja e lá estava eu a apoiá-lo.
Sem qualquer prurido, vergonha ou remorso. Ele foi notável em Serpa e vai fazer uma grande obra em Beja.
E porque é que se candidatou contra ele?
Achei que tinha um projeto válido para Serpa. A campanha deu-me imenso prazer e foi importante para conhecer o concelho e as pessoas. Perdi por margem pequena, mas Serpa não ficou a perder. O que eu queria fazer em Serpa foi feito por ele. Pus um ponto final nisso.
Não voltaria a ser candidato?
Não! Tenho de ganhar dinheiro, tenho uma família grande. Nas câmaras, sendo uma pessoa honesta, não se ganha dinheiro.

O Chafariz da minha menice e em frente da minha escola e do Museu da Arte Antiga, no qual aprendi a dar umas "pinceladas"
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