A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital
José Manuel Durão Barroso é o novo chairman do Goldman Sachs, o maior banco mundial de investimento. Barroso, que estava sem atividade profissional permanente desde que há ano e meio deixou a Presidência da Comissão Europeia onde esteve 10 anos, sempre teve uma intensa atividade política que agora parece ter encerrado, conforme declarou recentemente em entrevista à SIC.

José Manuel Durão Barroso é o novo chairman do Goldman Sachs, o maior banco mundial de investimento. Barroso, que estava sem atividade profissional permanente desde que há ano e meio deixou a Presidência da Comissão Europeia onde esteve 10 anos, sempre teve uma intensa atividade política que agora parece ter encerrado, conforme declarou recentemente em entrevista à SIC.
É sobejamente conhecido que foi, desde cedo, um vigoroso militante político. Na adolescência militou no PCTP/MRPP, lutando contra o ensino burguês anti-operário e clamando o seu orgulho estalinista: “O camarada Estaline está demasiado vivo nos corações de todos os explorados e oprimidos do mundo inteiro para que oportunista algum o possa fazer esquecer.”
É na Faculdade de Direito que se torna amigo de Pedro Santana Lopes que o levará ao PSD e lhe dará protagonismo. Será a admiração de Santana que lhe garantirá um convite de Cavaco em 1985 para ser secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna Eurico de Melo. Em 1987, a dissolução do Parlamento e consequentes eleições antecipadas dão a Cavaco a sua primeira maioria absoluta e Durão Barroso é nomeado secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação.
Tudo indica que Durão Barroso sempre soube o caminho para o sucesso. Ganha reconhecimento, enquanto secretário de Estado, com a assinatura dos Acordos de Bicesse, que colocam um ponto (quase) final de à Guerra Civil em Angola e dão origem às primeiras eleições livres angolanas. A sua sede de protagonismo mina a relação com o ministro dos Negócios Estrangeiros, João de Deus Pinheiro. O braço-de-ferro faria de Deus Pinheiro comissário europeu e de Durão ministro dos Negócios Estrangeiros. A este facto não será alheia a progressiva degradação da imagem de Deus Pinheiro cujo pináculo é a “história da manta da TAP”.
Segredo de polichinelo da política portuguesa, ganhou contornos explícitos recentemente quando, no livro O Independente, Uma Máquina de Triturar Políticos, fica claro ter sido Durão a fonte da história que teria confirmação de um assessor diplomático do primeiro-ministro Cavaco Silva: Martins da Cruz, e que curiosamente viria a ser o ministro dos Negócios Estrangeiros de Durão Barroso. Determinação não faltava ao jovem político em ascensão.

A sua popularidade coloca-o na disputa da liderança com o fim do Cavaquismo. Em 1995 era evidente a vitória de António Guterres, mas faltava escolher quem seria o derrotado pelo PSD. Durão Barroso, forçado a avançar para a liderança pós-cavaquista, obtém o resultado que mais lhe convém: perde por pouco para Fernando Nogueira, num congresso em que Luís Filipe Menezes tenta ofender Durão, com a expressão “sulista, elitista e liberal”, e acaba apupado.
Durão aproveita para uma licença sabática da política feita de aulas em Georgetown e o lugar de administrador não executivo do BES, que ocuparia até se candidatar ao PSD liderado até então por Marcelo. Crítico da tentativa de Marcelo de fazer uma coligação com o CDS de Paulo Portas, Durão seria o candidato natural no dia em que a coligação corresse mal. E correu, a poucos meses de Europeias e a meio ano das legislativas.
Durão perde as legislativas mas Guterres não as ganha. Com rigorosamente metade dos deputados fica evidente a frustração nas hostes socialistas. No final de 2001, a derrota do PS nas autárquicas é assinalada na própria noite eleitoral com demissão de António Guterres. Durão venceria as legislativas de 2012 face a um Partido Socialista liderado por Ferro Rodrigues.
Sem maioria absoluta Durão Barroso negoceia uma coligação governamental com o CDS de Paulo Portas. Poucas são as marcas governativas de Durão Barroso enquanto primeiro-ministro. A mais célebre será a afirmação, num debate parlamentar, que Portugal estaria “de tanga” – possivelmente da autoria de Paulo Portas – e alusiva à situação financeira que justificaria as políticas restritivas da sua ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite.
Mas a sua governação ficará para sempre reconhecida pelo apoio de que deu à Invasão do Iraque levada a cabo pelos Estados Unidos e Reino Unido em 2003, contra a posição expressa de muitos países, do Conselho de Segurança das Nações Unidas à União Europeia. A Cimeira das Lajes, com George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar acicata ainda mais a sua impopularidade em Portugal.
Impopularidade tão ostensiva que vale uma derrota copiosa nas eleições europeias seguintes em 2004. Em coligação com o CDS o PSD fica a 11 pontos do PS, que obtém o seu melhor resultado de sempre. Mas se o PSD sai perdedor das europeias, Durão Barroso sai vencedor. Numa lógica de mínimo denominador comum, José Manuel Durão Barroso é sugerido para liderar o executivo da União Europeia. Ironicamente, a proximidade à Guerra do Iraque, que muito terá contribuído para a derrota eleitoral, também terá sido fundamental para que tivesse os apoios suficientes para se conseguir eleger Presidente da Comissão Europeia.
Ao fim de dois anos como primeiro-ministro, Durão abandona o cargo para ir liderar a Comissão Europeia. Deixa o país entregue a Pedro Santana Lopes, seu número dois no PSD, que conduziu a política portuguesa aos meses mais pitorescos de que há memória.
Os 10 anos de Comissão ficarão na memória como o período mais negro da construção europeia, sendo, contudo, provável que numa União com tantas disfunções muitas das suas responsabilidades tenham sido partilhadas. São 10 anos de poucos méritos políticos mas muitos contactos ao mais alto nível que, tudo indica, terão sido muito valorizados pela nova entidade patronal.
Sem comentários:
Enviar um comentário