sábado, setembro 10, 2016

A estHá muitos anos que Carlos Alexandre suspeita de estar a ser vigiado. Mas, tal como as denúncias do ex-PGR, ninguém investigou
A suspeita não é de agora: há muitos anos que o juiz Carlos Alexandre acha que as suas comunicações, assim como movimentações, estão a ser monitorizadas. Porém, nunca apresentou qualquer queixa no Ministério Público e nem foi aberta uma investigação formal às suspeitas do juiz que remontam a 2011, porque, até como o próprio referiu, não tem elementos que possam contribuir para a investigação. Um amigo do magistrado confirmou ao DN que Carlos Alexandre tem tomado cada vez mais precauções, quer nos contactos por telemóvel quer nas suas deslocações.
Na entrevista à SIC, o juiz voltou a falar no tema das vigilâncias/escutas, sejam estas telefónicas ou ambientais. O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) recusou dar pormenores sobre os sinais dessas escutas por "não as poder comprovar".
"Sinto-me escutado no meu dia-a-dia sob várias formas. (...) Por vezes há pessoas que não conseguem estabelecer contacto comigo. O telefone vai a baixo para voice mail quando estou em sítios onde há carga máxima e há comunicações. Não estou a dizer que há forças dessas... nomeadamente dos serviços de informações. Não estou a imputar", afirmou o juiz. Seja como for, o magistrado diz que essas escutas não o incomodam porque fala "abertamente" sobre o que tem de falar com as pessoas em causa, não tem "segredos" e não vê motivos para "tanta preocupação".
Já em 2011 o jornal Público, depois de ouvir três colegas de Carlos Alexandre, escrevia que o juiz estava "convicto" de estar a ser escutado. Apenas o então ministro da Justiça, o socialista Alberto Martins, reagiu, dizendo que, a comprovar-se a suspeita, tratava-se de um crime que deveria ser perseguido pelo Ministério Público e pelas polícias. O problema, como referiu ao DN um inspetor da Judiciária na área das telecomunicações, é que "sem suspeitos minimamente identificados, investiga-se o quê?" "Hoje, de facto, com o sucessivo avanço tecnológico, há possibilidades de fazer uma escuta ilegal, seja por intrusão no telemóvel seja pela colocação de aparelhos de escuta ambiental", acrescentou o investigador, dizendo que muito do material está à venda na internet e o mais sofisticado navega pela Darknet, uma espécie de subterrâneo da rede global.
O mesmo investigador adiantou, porém, que a Polícia Judiciária nunca foi chamada para, por exemplo, examinar o telemóvel do juiz (se foi alvo de alguma intrusão) ou se no seu gabinete, em casa ou no carro foram colocados aparelhos de escuta ambiente.
Mas Carlos Alexandre não é o único a ter a suspeita de estar a ser escutado. O ex-procurador-geral da República, Pinto Monteiro, também partilhou publicamente a mesma suspeita, falando mesmo em "barulhinhos" esquisitos no telemóvel. E como procurador-geral Pinto Monteiro até poderia ter ordenado uma investigação, mas nunca o fez. Segundo fonte judicial ouvida ontem pelo DN, o ex-PGR acabou por, discretamente, ter uma explicação sobre telecomunicações, em que lhe foi explicado que, dado que a rede de telemóveis é digital, se houvesse uma escuta não haveria "barulhinhos", ao contrário do que aconteceria na rede analógica. Ontem, o DN questionou a Procuradoria-Geral da República sobre se pretende abrir um inquérito para apurar - de uma vez por todas - se há ou não escutas e vigilâncias ao juiz. Não foi recebida resposta.
Apesar de não estar diretamente relacionado com o juiz - o próprio Carlos Alexandre afirmou na entrevista não estar a "imputar" comportamentos criminosos às secretas -, o Ministério Público está a investigar se os Serviços de Informações portugueses recorrem a estes métodos, que lhes estão vedados por lei. Esta investigação teve origem nas denúncias do ex-diretor operacional do SIED João Luís, no chamado caso das Secretas.
No julgamento, João Luís afirmou: "Existem meios técnicos de escutas, meios técnicos de seguimentos, meios técnicos de áudio e de vigilância visual... tudo o que possa ver num filme bom ou mau no cinema e na televisão. Não seríamos um serviço de informações sem estes meios técnicos; seríamos um grupo de analistas." A procuradora do Ministério Público Teresa Almeida insistiu: "As escutas são uma atividade não legalmente permitida aos serviços. Em que circunstâncias é que isto acontece?" João Luís respondeu: "São sempre autorizadas pelo diretor-geral."
O chefe dos espiões, Júlio Pereira, viria a negar no julgamento tais práticas.atistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital

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