sábado, outubro 01, 2016

VOLTA FACE

A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital


Georgieva é bisneta de um revolucionário fundador da Bulgária e assume-se como patriota

Nascida em 1953 na Bulgária, Kristalina Georgieva era, até ontem, vice-presidente da Comissão Europeia liderada por Jean-Claude Juncker. Tal como o luxemburguês, é militante do Partido Popular Europeu, a grande família da direita europeia, da qual Angela Merkel e Passos Coelho, por exemplo, fazem parte. 
De forma a aceitar o convite do governo búlgaro, a economista pediu uma licença sem vencimento à Comissão. O chefe de gabinete de Juncker já a havia incentivado publicamente a concorrer a secretária-geral da ONU.
Georgieva é bisneta de um revolucionário fundador da Bulgária e assume-se como patriota. A mãe era lojista e o pai engenheiro de construção civil. Tem uma paixão por música e criou um grupo de dança quando trabalhou no Banco Mundial, depois de deixar de dar aulas. 
A política chamou-a e recusou, por exemplo, a pasta das Finanças no governo búlgaro, preferindo manter-se como conselheira. Foi convidada de urgência para comissária europeia em 2010 e, dessa vez, não conseguiu dizer que não. Os pais souberam pela televisão. 
Foi comissária para os Assuntos Humanitários com Durão Barroso e ascendeu a vice-presidente da Comissão com Juncker, em 2014. Manteve a tutela humanitária e assumiu o orçamento. Mulher e de Leste, era apontada há meses como favorita para a ONU, apesar de Guterres se ter comprometido com um gabinete com paridade entre homens e mulheres. Duarte Marques, coordenador do PSD para a Europa, preocupa-se com o facto de, agora, o portefólio do Orçamento “ficar meses sem responsável direto”. 

A candidata relâmpago da Bulgária – e de Angela Merkel – retirou o favoritismo a Guterres. A direita europeia dá ao Conselho de Segurança o que ele queria: uma mulher de Leste.
Portugal está de coração nas mãos por António Guterres. A candidatura a secretário-geral da ONU do ex-primeiro-ministro reuniu consenso partidário numa Assembleia dividida e deixou os portugueses orgulhosos das vitórias consecutivas e nas votações amigáveis. O socialista venceu todas e também parecia reunir consenso na Assembleia-Geral das Nações Unidas. No entanto, como o próprio apregoava, não há coração sem razão, e uma candidatura de última hora fez o país descer à terra. Kristalina Georgieva, favorita da direita de Bruxelas e da Comissão Europeia, pediu uma licença sem vencimento, deixando de ser vice-presidente de Jean-Claude Juncker para entrar na corrida à ONU.
A búlgara reúne o apoio de Angela Merkel e e sua candidatura está a ser preparada há bastante tempo pelo dirigente da Internacional Centrista Mário David, um português com forte influência no Partido Popular Europeu.
Desde o início do processo que os analistas apontavam os critérios regionais e de género como maior entrave ao sucesso de Guterres. Haveria um ponto tácito para a sucessão de Ban Ki-moon: seria uma mulher e de Leste. Características que nenhum dos candidatos com destaque nas votações  amigáveis reunia. As pressões para Georgieva avançar emanam daí e o SOL sabe que a búlgara já ambicionava concorrer há mais de um ano.
Lívia Franco, professora universitária no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, afirma ao SOL: «É uma honra e traria muita visibilidade a Portugal ter um secretário-geral de origem portuguesa. O engenheiro Guterres tem o currículo e o perfil pessoal necessário. É, de facto, uma muito boa candidatura e estamos bem posicionados». No entanto, a especialista em relações internacionais lembra que «este é um processo de seleção com várias fases que decorre em contexto de Conselho de Segurança, logo é feito apenas por alguns». Apenas quinze dos 143 que compõem a Assembleia-Geral das Nações Unidas votarão.
«Nós sabemos que, desses quinze, cinco é que vão decidir mesmo», afirma a académica, referindo-se aos s membros permanentes, que têm poder de veto: França, Reino Unidos, Estados Unidos da América, China e Rússia. «Há razões para ter otimismo, mas deve ser moderado porque, em última análise, isto trata-se de uma negociação entre poderes e que vive do equilíbrio desses poderes e de um jogo de influências. É importante ter noção que não se trata de uma eleição nem um processo eleitoral democrático».
Georgieva, «sendo mulher, de leste, com o apoio de potências como a Alemanha e vindo da mesma área político-civilizacional que o centro-direita moderado, como os Estados Unidos e o Reino Unido, pode conseguir os mesmos apoios que a candidatura do eng. Guterres podia ter», exemplifica Lívia Franco. «À medida que o processo vai avançando passa a funcionar cada vez por exclusão de partes e aí faria sentido a Rússia preferir uma candidata búlgara a um candidato português», adverte também. 
O facto de a candidata búlgara inicial, Irina Bokova, não se retirar da corrida pode não afetar a entrada de Georgieva, porque as candidaturas têm apoios nacionais mas não estatuto de representação nacional. A 5 de Outubro, as votações deixam de ser amigáveis, passando os votos a revelar os desencorajamentos dos membros permanentes. A ameaça de um veto paira sobre qualquer um. Incluindo António Guterres.



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