sábado, fevereiro 04, 2017

Generais. Uma demissão, uma exoneração antecipada e uma vaga criada à medida

A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital


O general Pina Monteiro (Exército) é o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas

Data de ordem de serviço do Estado-Maior General alterada para coincidir com a data de saída do general que a assinara

Um tenente-general da Força Aérea em funções no Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) viu a sua exoneração antecipada para que os chefes militares conseguissem evitar a passagem à reserva do major-general do Exército que ia ocupar aquele posto.

O processo deixou algumas "pegadas" digitais com a dupla alteração, para duas datas anteriores, da ordem de serviço assinada pelo tenente-general Sílvio Sampaio no dia 20 de janeiro - dia em que, afinal, deixara de estar em funções como Adjunto para o Planeamento e Coordenação no EMGFA.

Essa ordem de serviço nº 3 do EMGFA - que as fontes do DN lembram ser habitualmente publicada às sextas-feiras, como era o caso do dia 20 de janeiro - acabou com outras datas: primeiro 18 de janeiro e depois 17, uma terça-feira, na segunda e definitiva alteração.

As alterações parecem assim ter servido para apagar as impressões administrativas do tenente-general Sílvio Sampaio numa data (20 de janeiro) posterior à da sua exoneração oficial daquele cargo no EMGFA: quarta-feira 18 de janeiro.

"É um bocado estranho", comentou ao DN o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA). Sobre "o que esteve na génese dessas três ordens de serviço não me vou pronunciar, porque não sei o que levou a tal", adiantou o tenente-coronel António Mota. "Em relação a uma hipotética falsificação", respondeu à questão do DN, "julgo que as três ordens de serviço são válidas... quero crer que foi meramente uma coisa administrativa".

A saída do tenente-general Sampaio e a sua substituição pelo major-general Tiago Vasconcelos estava planeada há semanas: o primeiro regressava à Força Aérea e o segundo ao Exército, após terminar a comissão - a 13 de janeiro - como 2º comandante do quartel-general da NATO em Valência (Espanha).

Como o DN noticiou a 16 de janeiro (segunda-feira), o Exército ia promover Tiago Vasconcelos a tenente-general e nomeá-lo para o cargo de Sílvio Sampaio, que agora competia ao Exército ocupar - intenção comunicada ao EMGFA na sexta-feira anterior, disseram em respostas ao DN o ramo e o EMGFA.

Porém, no dia seguinte à notícia do DN demitiu-se inesperadamente outro major-general do Exército - Rui Moura, em serviço na GNR, onde não tinham proposto a sua promoção - e passou à reserva 24 horas depois, dia 18. O problema é que isso (por motivos estatutários) arrastava automaticamente Tiago Vasconcelos para a reserva, impedindo-o de ser promovido porque todos os cargos (e vagas) de tenentes-generais estavam preenchidos.

Rui Moura atingia o limite de tempo no posto em abril e, sem promoção, passava à reserva. Sabendo que a promoção iria afinal para Tiago Vasconcelos, oficial próximo do general Rocha Vieira e que já o tinha ultrapassado nas promoções a major-general, bateu com a porta - provocando assim um efeito dominó na hierarquia militar que fazia ruir o planeamento das chefias militares do Exército e do EMGFA.

Quanto ao tenente-general Sampaio, a sua saída do EMGFA estava prevista para depois de 20 de janeiro - dia em que esteve na embaixada do Brasil em representação do chefe do EMGFA (CEMGFA), general Pina Monteiro. A essa hora, Pina Monteiro presidia à cerimónia em que outro tenente-general da Força Aérea assumiu o cargo de comandante operacional dos Açores.

Terá sido em plena cerimónia na embaixada do Brasil - recorde-se que no dia da publicação da ordem de serviço nº3 - que Sílvio Sampaio foi informado que teria de ser exonerado no dia 17. Isso permitia assim abria artificialmente a vaga em data anterior à da passagem à reserva de Rui Moura, permitindo manter Tiago Vasconcelos no ativo.


Sílvio Sampaio assumiu a 27 de janeiro o cargo de comandante do Pessoal da Força Aérea, após ficar uma semana no EMGFA por acordo entre o CEMGFA - que o condecorara no dia 26 - e o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Manuel Rolo, informou o EMGFA.


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