A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital
Notícias da geringonça
É indiscutível que os casos TSU e Caixa/Domingues constituíram dois abalos importantes para o governo.
No primeiro, houve uma evidente leviandade política na expetativa infantil de uma outra atitude por parte do PSD. No segundo, a inabilidade do governo foi ainda mais clamorosa, com erros crassos na avaliação dos constrangimentos jurídicos pré-existentes, espalhando sinais desastrosos na tentativa de "damage control", que se voltaram contra ele. Depois das notas de ontem do primeiro-ministro e do presidente da República, o ministro das Finanças sai obviamente fragilizado deste episódio, sem sequer pode gozar o crédito dos bons resultados financeiros por que se empenhou.
Do lado da oposição, onde o CDS andou apenas a reboque (o deslumbre da candidatura da líder a Lisboa parece obnubilar o partido), Passos Coelho ganhou uma evidente sobrevida no seio do PSD (o que não é necessariamente uma má notícia para António Costa, porque o antigo líder continua a ser o adversário mais fraco que pode ter). Se, no caso da TSU, o seu ganho público foi limitado (e devastador, em termos de credibilidade como partido com sentido de Estado, para um eleitorado mais elaborado), não é ainda claro o que poderá vir a registar a seu crédito com o episódio de Centeno.
Estas semanas podem ter inaugurado, contudo, um tempo novo na relação entre o presidente e o governo.
Marcelo tem ido mais longe do que a sua "entourage" lhe recomenda, no seu apoio ao governo. À direita, como se esperava, "saltou a tampa" e as críticas já passaram a fase em surdina para se afirmarem abertamente em público. O presidente não dá ares de grande preocupação, mas, intimamente, deve estar a interrogar-se sobre as consequências futuras desta desafetação da sua base política natural de apoio. É claro que a sua popularidade é por ora elevadíssima, mas ter contra ele PSD e CDS é algo que, a prazo, contribuirá para erodi-la. E ele sabe isso melhor do que ninguém.
No lugar de António Costa, eu estaria um pouco preocupado. Cada "frete" que Marcelo Rebelo de Sousa, com desgaste político, faz ao governo é um ponto a débito deste. O presidente tem assim vindo a ganhar "lastro" para poder, um destes dias, fazer uma ou outra jogada de demarcação, que lhe permita reequilibrar um pouco a balança política. E isso vai provocar alguma "estranheza" no seio dos socialistas, em especial se o "tom" presidencial mudar. Não antevejo como provável que Marcelo, acabadas que sejam as operações de estabilização bancária em que se tem fortemente empenhado, volte a disponibilizar-se, de forma tão flagrante, para "escudar" o executivo da forma que o tem feito. Ele vai achar que já cumpriu a sua missão em prol da estabilidade. Talvez a questão da eutanásia seja o primeiro pretexto.
Uma última nota para a geringonça. O caso TSU terá feito ver ao PC e ao Bloco que os riscos do desalinhamento são muito elevados. Ambos devem ter hoje uma maior consciência de que a sua eventual divisão no apoio ao governo PS só pode vir a ajudar a direita. Mas terão mesmo?
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