quarta-feira, março 08, 2017

Reino Unido e Alemanha querem portugueses a tratar de idosos

A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital


Recrutamento está a aumentar. A procura já é superior à oferta. Salários chegam a ultrapassar os 1800 euros, mais o alojamento
O Reino Unido e a Alemanha estão a contratar em Portugal
 dezenas de auxiliares para trabalhar em lares, centros de 
saúde e em casas de idosos do país. Os britânicos pagam 
três vezes mais do que em Portugal, com salários a
 chegarem aos 1800 euros. Profissionais da área da saúde
 e desempregados são os mais recrutados. O interesse no
 recrutamento de cidadãos nacionais para esta área de cuidados
 de saúde especializados sofreu um grande aumento no ano
 passado, mantendo-se nos primeiros dois meses de 2017 
dezenas de ofertas para o setor em sites de empresas de 
recrutamento. Isto apesar do brexit, cujos eventuais efeitos são, 
para já, desvalorizados.
Para conseguir convencer as pessoas a irem trabalhar para
 Inglaterra, é oferecido um salário que pode chegar aos 
1800 euros mensais (se for para ficar em casa de um idoso
 pode subir, e ir até aos cem euros/dia em média), quando
 em Portugal um auxiliar ganha, na maior parte dos casos, 
o salário mínimo: 557 euros. Além de existir a possibilidade 
de lhes ser oferecido o alojamento e as refeições, no caso das 
pessoas que são contratadas para trabalhar como internas.
A procura é tal que, segundo garantiram ao DN responsáveis
 de algumas das empresas contactadas, chega a não haver 
resposta para tanto interesse, principalmente das instituições
 britânicas. "Há uma procura massiva de auxiliares de ação 
médica e geriatria. Até está a acontecer que algumas empresas
 inglesas estão a instalar filiais em Portugal. Apesar de outras
 preferirem fazer parcerias com empresas nacionais", 
confirmou ao DN Helena Ribeiro, responsável da Go Work,
 uma das firmas de recrutamento que trabalham na área da saúde.
"Esta área é muito forte no Reino Unido. Têm muitos idosos
 que precisam de cuidados, mesmo em casa", sublinhou ao
 DN Filipe Amorim, da Manda-te.com. "Neste último ano,
 colocámos 40 pessoas", acrescentou , lembrando que nesse
 período receberam 3000 candidaturas para trabalhar na área.

Cuidar de doentes como a sogra
Nas ofertas de trabalho que existem online não é feita nenhuma

 exigência especial, basta falar um pouco de inglês. Não é 
pedida experiência ou formação para trabalhar com idosos, 
nem idades específicas. Até porque ao chegar a Inglaterra -
 o mercado que mais procura estes profissionais em Portugal,
 tendo também a Alemanha contratado muitas pessoas - 
as entidades para as quais vão trabalhar são obrigadas 
a dar formação aos funcionários de forma a receberem o
 certificado que os autoriza a trabalhar.
Com uma população idosa de cerca de 11 milhões de pessoas
 (com mais de 65 anos e segundo dados do início de 2016), 
para uma população total de 64 milhões (em 2014, os 
dados oficiais mais recentes), o Reino Unido necessita 
de pessoal para trabalhar neste setor para o qual as 
entidades locais não parecem encontrar interessados. 
"Aquilo de que nos vamos apercebendo é que a razão
 para os ingleses contratarem pessoas para tratar dos
 idosos está relacionada com a sua falta de aptidão técnica
 e comportamental para este trabalho. Não é qualquer 
pessoa que tem aptidão para tratar de um idoso ou 
de uma pessoa acamada", adiantou ao DN Helena Ribeiro,
 cuja empresa está a colocar pessoas a trabalhar
 em centros de saúde.
Maria do Carmo (55 anos) é um exemplo de uma pessoa 
que decidiu deixar Portugal para ir tratar de idosos, atualmente
 em Londres. "Estava desempregada e decidi emigrar, 
já estive em três países e agora estou no Reino Unido", 
contou ao DN. Cuida de idosos com Alzheimer, um 
trabalho que "exige grande disponibilidade, atenção
 e dedicação. O facto de ter cuidado da minha sogra,
 que sofria dessa doença, despertou-me a sensibilidade
e foi no Reino Unido, que tem uma grande percentagem 
de idosos portadores dessa doença, que encontrei muita 
necessidade de geriatras".
Esta facilidade de trabalhar com pessoas de idade que os
 portugueses demonstram é um fator que contribui para
 a boa imagem que lhes é reconhecida e para a qual foi 
importante o trabalho dos enfermeiros que emigraram
 em força para o Reino Unido a partir de 2011.
"Há falta de pessoal na área da saúde e por isso eles 
[as empresas inglesas] recorrem a Portugal. Até 2013 recorriam
 a enfermeiros, mas, como passou a ser obrigatório 
um exame de inglês para esta classe poder trabalhar lá -
 tem de ter uma nota de sete numa escala que vai até nove -, 
as empresas começaram a recorrer mais aos auxiliares", 
explicou ao DN Ricardo Magalhães, 
da Reach Health Recruitment. Que garante ter a sua
 empresa candidaturas de pessoas com e sem formação
 e de várias idades. Em Inglaterra vão trabalhar para 
lares (privados ou públicos) e com um vencimento que
 não é comparável ao oferecido em Portugal. "Vão receber
 1800 euros por mês, cá não ganham nada parecido", frisou.
Aproveitar, apesar do brexit
Ir para o Reino Unido com pouco mais de 300 euros foi o desafio
 de Filipa Silva, que aos 39 anos e desempregada
 decidiu aceitar a proposta de trabalho como "auxiliar
 de saúde". "Falava-se no brexit, é evidente que pensei
 como seria o cenário dos próximos tempos, mas também 
pensei que se não aproveitasse esta oportunidade podia
 não ter outra", adiantou ao DN esta estudante de Gestão, 
do ISCAL, e que sempre trabalhou na área administrativa.
Sobre o trabalho, frisa que foi "um desafio, confesso 
que pela positiva. Sabia que o meu interesse pela área
 da saúde é imenso, mas daí a imaginar que viria a trabalhar
 na área nunca me passou pela cabeça. São 12 horas por dia,
 verdadeiramente árduos em termos físicos e psicológicos", contou.
Entre os trabalhadores e recrutadores ouvidos pelo DN, o brexit
 (saída do Reino Unido da União Europeia, com consequências
 a nível da mobilidade e autorizações de trabalho) não atemoriza.
 Em geral, dizem que o risco ainda compensa.
Em Portugal falta pessoal
A falta de auxiliares de geriatria não é um problema apenas 
no Reino Unido ou na Alemanha. Também em Portugal os 
lares e as casas de repouso têm dificuldades em criar equipas, 
como disse ao DN João Ferreira de Almeida. O presidente da
 Associação de Apoio Domiciliário, de Lares e Casas de Repouso
 de Idosos reconhece que esta questão é problemática, mas não
 porque as pessoas estejam a emigrar. "Há muitos anos que
 temos dificuldades de recrutamento de ajudantes de ação direta,
 como é o nome da profissão", diz, explicando a razão: "
A maioria ganha o ordenado mínimo, 
apesar de haver lares a pag acima disso.
 Já disse a muitos sócios que se estão satisfeitos com as equipas
 lhes devem pagar melhor, para que fiquem. Além disso, há muita falta
 de profissionalismo."

Sem comentários: