terça-feira, junho 06, 2017

A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital






Para a designer de moda Ana Rafael o alojamento
 local foi a forma de ultrapassar a crise que a
 obrigou a fechar um outro negócio

Ana Rafael encontrou neste negócio ("é um negócio, não é uma 
árvore das patacas", repete ao DN) a resposta à crise que a levou
 a mudar de vida. "O alojamento local foi a tábua da salvação", 
depois de a crise ter obrigado a fechar o seu negócio. Gestora
 hoteleira e designer de moda, 51 anos, há quatro lançou-se com uma 
casa sua, fora das zonas históricas, em Alvalade. A esta casa juntou, 
desde janeiro, outras duas arrendadas, na Rua Marechal Saldanha,
 a dois passos do Adamastor. E arriscou fazer da gestão do AL 
a sua profissão. "O meu iPad é o meu escritório", aponta.




Manuel Ferreira encontro no negócio
do alojamento local o "parceiro" ideal
para completar a pré-reforma

Já Manuel Ferreira encontrou nesta vida "um complemento" 
à pré-reforma de bancário. Com 60 anos feitos ontem, entrou
 no negócio há três, "não queria estar parado em casa". Agora
 gere um pequeno apartamento na Travessa da Laranjeira,
 perpendicular à rua íngreme que o grafitado elevador da Bica
 ajuda a subir. Há turistas que passam, mochilas às costas ou malas
 de rodinhas, e entram nas portas em volta. Outros passeiam-se
 apenas, no calor abafado de uma sexta-feira em que muitas 
portas comerciais estão ainda fechadas. É uma zona de bares - 
e "quem se queixa do barulho são os turistas", diz Manuel Ferreira.
Na porta vizinha, Guilherme Martins, 76 anos, "criado aqui" na Bica, goza a reforma com caminhadas de dez quilómetros, três vezes por semana, e a ajudar "o senhor Manel" a traduzir para os turistas franceses, ele que esteve emigrado em França. Voltou a Lisboa há dez anos e também se queixa do barulho dos bares. E os turistas? "É bom para o país", atira.
E os quartos para estudantes?
O negócio não é uma árvore das patacas, desfiam os dois gestores. 
Há que pagar água, luz, gás, depois as limpezas e a lavandaria,
 também a pessoal para fazer check-in e check-out, contabilidade,
 impostos e segurança social. Ambos lamentam a discussão que se
 faz em torno do AL. "O que é que estou a fazer de errado", 
questiona-se Ana Rafael, que recorda que neste ano em Lisboa 
"vão abrir 30 hotéis" em Lisboa e que "ninguém fala dos quartos
 dos estudantes". "Lisboa está na moda, agora ganhamos todos, 
a pastelaria, o restaurante e o supermercado da rua", refere 
Ana Rafael.
Eduardo Miranda desfia outros números. O presidente da 
ALEP diz que 83% dos alojamentos locais se situam em seis
 freguesias da chamada zona histórica alargada, mas as de
 Santa Maria Maior e da Misericórdia (que congregam as 
antigas freguesias das "sete colinas") levam a palma. "Havia 
cerca de 17 000 imóveis vagos", segundo os censos. "O alojamento
 local está muito associado à reabilitação", justifica.
Os problemas, aponta, vêm da novidade. A estrutura dos edifícios
 nem sempre ajuda, a insonorização não é a melhor, mas só 
"há meia dúzia de queixas em tribunal", num universo de 8000 
que, estima, estejam dedicados ao AL em Lisboa. "Os problemas
 são ultrapassáveis", mas sem que os condóminos tenham poder 
de veto, diz. Manuel Ferreira defende quotas por bairros para AL, 
limites nas zonas históricas e fiscalização apertada para ilegais. 
Afinal, argumenta, "no dia em que tirarem daqui os habitantes 
também perdemos".

Sem comentários: