sexta-feira, janeiro 05, 2018

Carlos César insiste em permitir projeto de lei que dá direito de veto aos 
vizinhos. Diplomas baixaram sem debate
Há uma revolta na bancada parlamentar do PS contra o projeto de lei
 do partido sobre alojamento local, uma proposta subscrita por dois 
vice-presidentes da bancada, Carlos Pereira e Filipe Neto Brandão, que
 determina que um proprietário só poderá colocar uma casa no sistema do 
alojamento local se os moradores do condomínio autorizarem previamente
 (ideia que, aliás, é partilhada pelo PCP). Apesar da oposição - que se estende
 ao primeiro-ministro, António Costa - o projeto foi hoje a debate, baixando
 sem votação à discussão na especialidade. O mesmo sucedeu, aliás, com os 
restantes quatro diplomas (apresentados pelo BE, PCP, CDS e PAN), que
 serão agora objeto de um processo de negociações que se vai estender 
(pelo menos) pelos próximos 60 dias.
Conforme o DN noticiou, o projeto socialista foi contestado ao mais alto 
nível dentro do partido, nomeadamente pelo presidente da Câmara Municipal
 de Lisboa, Fernando Medina, e até pelo próprio líder do partido, António Costa,
 argumentando ambos que este poder de veto dos vizinhos pode matar a galinha
 dos ovos de ouro que o alojamento local tem sido para milhares de proprietários
 de imóveis (sendo a esmagadora maioria proprietários de uma única casa).
Segundo o DN soube, entre os deputados contrários à proposta conta-se o
 presidente da comissão de Negócios Estrangeiros, Sérgio Sousa Pinto. Tal
 como a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, sendo o
 argumentário principal o que já fora usado por Medina: o veto dos vizinhos
 dá cabo do negócio; está em causa um enorme conjunto de pessoas de classe
 média que usam para ter um rendimento extra a única coisa de que são
 verdadeiramente donos (a sua casa); e, além do mais, o articulado do partido
 põe o Estado a demitir-se de regular o negócio, deixando a tarefa a assembleias de condomínio.
Luís Testa, coordenador do PS na comissão de Economia, já tinha admitido
 ao DN que o debate parlamentar de hoje "não é o final de nada, é o princípio
 de tudo. Aquilo que poderá sair da discussão na especialidade pode ser muito
 diferente do que está na generalidade [nos textos que vão a debate]." Quanto 
ao facto de a proposta ter sido agendada, apesar das críticas vindas de dentro
 do próprio partido, usou o argumento habitual do pluralismo interno: "O PS 
é um grande partido onde cabem todas as opiniões. Não estamos condicionados
 ao pensamento único."
Nos projetos que estão em cima da mesa, o do Bloco de Esquerda
 (partido que agendou o tema para o debate de hoje) defende a limitação
 do alojamento local a um máximo de 90 dias - após os quais a atividade
 passa a ser considerada como turismo habitacional e tributada como a
 hotelaria. Já o PCP também defende que o alojamento local deve ser
 autorizado pelos condóminos e ficar sujeito a "prévia autorização municipal".
 Quanto ao CDS, defende que, nos documentos para registo de alojamento
 local, seja obrigatória uma declaração de que o aluguer de curta duração não
 fica expressamente proibido "no título constitutivo da propriedade horizontal",
 no regulamento do condomínio ou em "deliberação da assembleia de
 condóminos aprovada sem oposição". Também o PAN -- Pessoas-Animais-
Natureza, apresentou um projeto de lei para impor aos proprietários que,
 por cada três alojamentos locais, assegurem uma moradia ou apartamento 
em regime de arrendamento de longa duração na mesma área urbana.
Um provável desfecho da discussão que se abre agora no Parlamento está 
escrito num documento que nem é da Assembleia da República. O acordo
 firmado entre Fernando Medina e o Bloco para a Câmara de Lisboa obriga
 as duas partes a propor "alterações ao enquadramento legal do alojamento
 local para que o atual processo de registo dê lugar a um processo de
 autorização com critérios a definir pelos municípios". Nesse sentido, 
a própria autarquia lançou já um estudo "para a definição de capacidades
 máximas de alojamento local por zona da cidade", como ficou estabelecido
 no mesmo documento. E compromete-se a "aprovar, no prazo de três
 meses após a aprovação legislativa, o mapa de quotas definindo a 
capacidade máxima" de alojamento local por zona. Esta é também uma
 área de consenso com o PCP, que propõe igualmente deixar às autarquias 
locais a capacidade de decisão sobre eventuais limitações a este negócio
 de exploração turística.

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