
Qual será será a divida do PR.... ao mariola
Este homenzinho é perigoso.
Cavaco modera o tom e abre porta à esquerda. Até o PS aplaudiu
Cavaco
replica declarações na posse do governo minoritário de Sócrates para
defender legitimidade de Passos e governo de quatro anos. Sem esquecer a
Europa, a esquerda já conta na equação que Cavaco faz da
governabilidade
O Presidente da
República derrubou ontem o muro que ergueu há uma semana quando parecia
ter fechado a porta da governabilidade à esquerda. No discurso de tomada
de posse do XX Governo Constitucional, no Palácio da Ajuda, em Lisboa,
Cavaco Silva repetiu parte do discurso que proferiu quando deu posse ao
governo minoritário de Sócrates, pediu que Passos ficasse quatro anos,
mas não diabolizou a esquerda.
Quando
indigitou Passos Coelho, no dia 22 de outubro, Cavaco recusava que o
governo dependesse de "apoio de forças políticas antieuropeístas" e
disse que este era o "pior momento para alterar radicalmente os
fundamentos do nosso regime democrático". Disse ainda "tudo fazer" para
impedir que os "mercados" recebessem os "sinais errados". Ontem, o Chefe
do Estado limitou--se a dizer que "é imprescindível que não subsistam
dúvidas sobre a fidelidade do Estado português aos compromissos
internacionais".
Cavaco
não quis voltar a cavar o fosso entre esquerda e direita. Nem falou em
partidos responsáveis e irresponsáveis. E disse mesmo que "atuar de
forma responsável" é "uma obrigação que a todos vincula, seja qual for o
seu quadrante político ou a sua orientação ideológica". Ou seja:
afinal, para o futuro do país, Cavaco conta com todos.
O
Presidente - que falou após tomarem posse 17 ministros e 36 secretários
de Estado - manteve algumas linhas do primeiro discurso, defendendo -
de uma forma menos corrosiva - o binómio europeístas/ /antieuropeístas.
Cavaco Silva fê-lo unindo num bloco PS, PSD e CDS, dizendo que os
portugueses "manifestaram-se de forma clara e inequívoca, apoiando por
esmagadora maioria a opção europeia".
O
Chefe do Estado voltou a enaltecer o valor estabilidade, defendendo que
"sem estabilidade política Portugal tornar-se-á um país ingovernável.
E, como é evidente, ninguém confia num país ingovernável". Cavaco - que
durante toda a semana foi acusado pela esquerda de ser um presidente de
fação e de fazer fretes à direita - fez uso da habilidade política para
justificar as suas opções e replicou parte do discurso que proferiu
quando deu posse ao governo de Sócrates. Que era minoritário. E do PS.
E,
usando esse governo socialista como exemplo, tentou justificar, desde
logo, a legitimidade de Passos para governar. "Reitero o que afirmei em
2009: o governo que hoje toma posse tem plena legitimidade
constitucional para governar. Conquistou-a nas urnas."
Na
mesma linha também repetiu o que disse em 2009 para solicitar um
governo para quatro anos. Cavaco Silva defendeu que "a ausência de um
apoio maioritário no Parlamento não é, por isso só, um elemento
perturbador da governabilidade. (...) Para qualquer governo, o horizonte
temporal de ação deve ser sempre a legislatura".
Há
também uma parte do discurso em que Cavaco parece ignorar o chumbo
anunciado da esquerda, dizendo que "é a força política que ganhou as
eleições que deve formar governo, o qual entrará em plenitude de funções
após a apreciação do seu programa pelos deputados".
E
a esquerda? Cavaco voltou a insistir que não lhe foi "apresentada, por
parte de outras forças políticas, uma solução alternativa de governo
estável, coerente e credível", mas destacou que tal não aconteceu "até
ao momento da indigitação do primeiro-ministro". Porém, não colocou
barreiras a que possa vir a acontecer nem tirou a esquerda do PS do
famoso arco da governabilidade. Apenas do "arco europeu".
O
esforço de apaziguamento de Cavaco foi até aplaudido pelo PS. O
dirigente João Galamba chegou mesmo a "saudar o discurso do Presidente,
sobretudo registar uma redução significativa da crispação que marcou o
discurso anterior, isso é bom para todos, é bom para a democracia
portuguesa".
Pouco depois foi a vez do
líder parlamentar socialista, Carlos César, a fazer suas as palavras de
Cavaco, dizendo:
"Não podemos deixar de subscrever algumas das
considerações feitas pelo Presidente, desde logo o reconhecimento das
fragilidades económicas, sociais e financeiras que o país atravessa e
conserva." O objetivo foi denunciar a "propaganda da direita", mas num
claro sinal de não hostilizar o Presidente.
Já
o PCP, através do líder parlamentar, João Oliveira, não se mostrou tão
satisfeito, dizendo que é "cada vez mais clara a extensão e dimensão da
responsabilidade [de Cavaco] pela instabilidade que criou no país ao
decidir indigitar Passos para formar governo".
O
Bloco de Esquerda também não se mostrou convencido com o discurso de
Cavaco Silva. A dirigente bloquista e candidata presidencial, Marisa
Matias, considera que Cavaco Silva "aproveitou a ocasião para fazer um
louvor ao governo cessante", acrescentando que "não cabe ao Presidente
da República rejeitar, aprovar ou condicionar o programa do governo, e
foi isso que vimos".
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