segunda-feira, janeiro 11, 2016

Marcelo, um independente escondido com o partido de fora



O candidato presidencial tem tido vários dirigentes do PSD na sua campanha. Autarquias escolhidas para eventos são sociais-democratas.
É um partido escondido da campanha, mas com o rabo de fora. Marcelo Rebelo de Sousa insiste na "independência" da sua candidatura, mas são vários os dirigentes, deputados e autarcas do PSD que têm participado em ações.
O candidato recomendado por PSD e CDS vai tentando distanciar-se do partido que presidiu e ontem até disse, em plena terra de Passos Coelho (Vila Real), que "não é bom para ninguém" que o líder apareça na campanha. Mas há PSD em toda a parte na campanha de Marcelo, por muito que não haja bandeiras laranjas e os dirigentes optem por ficar no fundo da sala.
Em cada distrito, um presidente da distrital do PSD. Logo no sábado, pela manhã, quando visitou a Santa Casa da Misericórdia local, o candidato contou com a presença do vice-presidente da bancada do PSD e líder da distrital de Santarém: Nuno Serra. Em Coimbra, repetiu-se: Maurício Marques, presidente do PSD/Coimbra e deputado foi dar o apoio a Marcelo na sessão pública. No mesmo evento, marcou presença o presidente dos Autarcas Sociais Democratas, Álvaro Amaro, que deve voltar a passar hoje pela campanha quando a caravana passar pela autarquia que dirige: Guarda. Ou seja: PSD, PSD, PSD.
Ontem, logo pela manhã, na visita à pastelaria Gomes em Vila Real, Marcelo contou igualmente com o presidente da distrital do PSD de Vila Real, Alberto Machado. Marcelo insistia ontem, numa sessão pública ao final do dia, numa sala cheia na escola salesiana, que toda a assistência, mesmo em "dia de chuva" tinha sido alcançada "sem qualquer tipo de mobilização", mas apenas como "quem encontra um amigo." Porém, as autarquias escolhidas por Marcelo foram todas... da sua cor política.
Sem surpresa, os três municípios escolhidos ontem para ações são todos sociais-democratas e Marcelo foi acompanhado pelos respetivos presidentes da câmara. Em Boticas, por Fernando Queiroga, em Valpaços, por Amílcar Castro Almeida, e, por fim, por António Branco, em Mirandela.
E a presença laranja não se fica por aqui. O próprio diretor de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa é - como o DN avançou em novembro - Pedro Duarte, antigo dirigente da bancada social-democrata e da JSD, que tem tentado evitar a partidarização da campanha. Porém, já houve eventos - em algumas das sessões públicas - houve mobilização de estruturas locais do PSD, apurou o DN junto de alguns dos presentes.
Num pequeno discurso, ontem em Valpaços, Marcelo lembrou a filiação partidária, dizendo: "Não é que não tenha a minha origem ". Mas logo acrescentou que era o candidato capaz de garantir a "independência" e ser "o Presidente de todos os portugueses". Marcelo não diz não às pessoas, mas tem recusado a máquina e o dinheiro do partido. A campanha são os tais "três carros na estrada" de que se gaba e apenas 157 mil euros de orçamento.
"Não vi debate Belém-Nóvoa"
Marcelo insistiu ontem que não tem qualquer adversário e até admitiu que nem sequer se preocupou com o debate de sábado entre Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém. "Não vi, não vi, estava a jantar", confidenciou. Mas Marcelo vai sempre atirando farpas a Nóvoa. Ainda ontem, na sessão pública em Mirandela, lembrou que ainda bem que teve uma história política, pois, caso contrário teria tido uma vida "sensaborona".
A estratégia de Marcelo tem sido colocar-se acima de todos os outros candidatos, assumindo-se como favorito. E apelou a uma vitória logo à primeira volta. O candidato disse ontem à tarde, numa visita à feira do Porco, em Boticas, que é "importante a clarificação rápida, para que o Presidente possa preparar-se para assumir funções, com tempo, para cumprir a sua missão, de ajudar aqueles que governam a governarem bem". Ou seja: sem segunda volta, vai estar mais cedo apto para ajudar António Costa a governar.
Visando os seus apoiantes, Marcelo advertiu: Não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. Se se pode votar, decidir e definir no dia 24, é melhor do que esperar por dia 15 de fevereiro."
Marcelo teve também o primeiro banho de multidão mais à séria da campanha na visita à feira gastronómica de Boticas. Marcelo parou em quase todas as barraquinhas. Perante uma vendedora de enchidos, Marcelo deixa o aviso: "Tenha cuidado que a comunicação social regista tudo". E obteve logo a resposta: "Porraaaa..."
Mais à frente, outra vendedora classificava o candidato como "excelente comentador". Marcelo respondia em forma de desejo, dizendo que "se for possível, melhor Presidente do que comentador".
Na tasca do vinho, não houve prova. Marcelo acabaria por se queixar. "Tudo a seco. Ainda não bebi nada. Já me queixei. Comi presunto, salpicão, chouriço, tudo a seco." Ontem também foi dia de voltar a falar da ausência de Passos Coelho, com o professor a pôr o ónus no líder do PSD, dizendo que percebe que "[Passos Coelho] não queria misturar a sua posição partidária com a minha presidencial", considerando esta decisão "lógica", "inteligente", "respeitável e sensata".

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