O candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa teve a aguardá-lo no Terreiro alguns dos antigos colegas da Escola Primária de Caminha que frequentou durante três anos (1961-1964), quando seu pai, o juiz Alberto Sampaio da Nóvoa exerceu funções no Tribunal da Comarca de Caminha.
Conhecida a disponibilidade de Sampaio da Nóvoa para se candidatar às eleições presidenciais no início do próximo ano, esses companheiros de escola endereçaram-lhe um convite para que visitasse Caminha, o que sucedeu hoje, Sábado, durante um périplo pelo Alto Minho.
Tó-Mané, sempre
Havia quase meio século que não se viam, constituindo este reencontro um momento emotivo, entre efusivos abraços e recordações das aulas na sala do professor Laureano, e das brincadeiras próprias da idade, com realce para os jogos de futebol no Largo da Escola, na relva do Jardim, ou no terraço da casa onde o Tó-Mané (assim era conhecido pelos amigos) viveu, na Rua do Cais, habitualmente destinada nesse tempo aos juízes colocados em Caminha.
"Da zona onde vivíamos"
Os amigos que viviam na rua do Cais ou na do Hospital, eram os que mais privavam com o Tó-Mané - um nome que o próprio pretende que continue a ser usado pelos seus antigos condiscípulos -, decorrendo da conversa informal e animada travada logo que chegou ao Terreiro, uma série de vivências, geralmente relacionadas com os jogos da bola.
José Brandão referiu-lhe que "para mim, ficou-me a imagem dos pés, porque chutava bem com ambos, a par de se atirar para o chão com muita facilidade", o que deu azo a gargalhadas do convidado e de todos os que o rodeavam: Jofre Pinto, Fernando Rocha, Sebastião Torres, António Branco, Valdemar Patrício, João Paulo Garrido, Manuel Silva, aos que se juntaram na Escola Primária que visitaram, o Fernando Curado e Domingos Cerqueira.
Jofre Pinto recordou a palmeira existente no quintal e os lanches à base de pão com marmelada que a empregada dos pais do António Manuel lhes disponibilizavam nos intervalos das jogatinas.
Este ex-companheiro frisou nesta ocasião que "agora, temos que fazer um jogo melhor. Temos que nos multiplicar para que sejas o nosso Presidente".
"Brincavamos muitas vezes no quintal"
Teresa Cerqueira também não quis deixar de vir saudar o amigo com quem partilhou muitas brincadeiras de criança no quintal mas, "o muro separava-nos e tínhamos de o saltar para ver os jogos". Esta comerciante actualmente estabelecida na Rua das Flores, após saudar o convidado, recordou-lhe que "nessa época, ereis todos uns gatões".
Refira-se que naquela época, entre as ruas Direita, Hospital, Cais e Trav. da S. João, viviam mais de 40 crianças, em contraste com a desertificação a que praticamente se assiste hoje em dia.
Da recepção inicial, partiram para uma visita às antigas instalações da Escola Primária, agora utlizadas pela Academia de Música Fernandes Fão, tendo como principal atractivo a presença na antiga sala de aulas destes alunos. Jofre Pinto fez alusão a uma canção predilecta do professor Laureano, "o Gafanhoto", da qual se recordou imediatamente António Manuel S.N. Esta dependência encontra-se presentemente subdividida em várias dependências, de modo a disponibilizar o ensino individual da música.
Após um pequeno pormenor musical a cargo de um jovem músico (Joaquim Ribeiro) da AMFF que acompanhou o acto, seguiram-se três intervenções. Uma, a cargo de Sebastião Torres, em representação dos antigos companheiros do Tó-Mané; Miguel Alves, presidente do Município, e o próprio convidado.
"Nos tempos em que andávamos de calções"
Sebastião Torres referiu-se a esses tempos em que "andávamos de calção e não tínhamos barba" e expressou a satisfação que todos sentiram no "regresso à escola onde passámos muitas horas", do qual "sobrou uma amizade que se comprova passadas umas décadas", contando agora que dessa amizade revisitada, se concretize "a tua presença na Presidência da República".
"Não tenho palavras"
António Brandão foi incitado pelo antigo colega a proferir algumas palavras mas, prescindiu porque, justificou: "foi muito tempo sem o ver, estou emocionado e não tenho palavras".
"Emoção com razão"
Miguel Alves desejou-lhe as boas-vindas a Caminha em nome de todos, terra que "é também a sua casa, de seus pais e que aqui voltou e há-de voltar noutras funções".
O autarca referiu que "as pessoas estão aqui com um misto de emoção e razão".
A emoção devido à ligação a Caminha, ao tempo que aqui passou, "as bolas que aqui chutou" e a ligação a estes homens e mulheres que "não se esqueceram de si" ao longo deste percurso de vida -, em que "atingiu notoriedade como Reitor da Universidade de Lisboa e, agora, naturalmente, como candidato à Presidência da República -, e que "guardam essas memórias que projectam o futuro".
"Palavras dinâmicas são transformadoras"
Quanto à razão, o presidente do Município caminhense precisou que "de todos quantos estamos aqui hoje, de diferentes quadrantes políticos, pensamos que está no hora de uma mudança geral, mas também na Presidência da República", porque, acrescentou, "estamos um pouco candados de algum plástico associado a alguns políticos e daqueles que entendem ter um espírito mais determinista que dizem que as coisas são assim e têm de continuar a ser assim, porque sempre foram assim".
Miguel Alves discorda deste fatalismo e diz ter chegado o tempo "do regresso àquilo que é a cultura, contra a aculturação, do conhecimento contra o deixar andar, o regresso à palavra e às palavras, encontrando em si a figura, o homem e essa representação".
Mais adiante, Miguel Alves enalteceu esse regresso à palavra, "de quem fez um percurso, foi honesto consigo próprio ao assumir com sua mãe que ao entrar na política não iria insultar ninguém", precisando ainda que "nós necessitamos de alguém que tenha palavra, porque os políticos podem errar ou acertar, mas têm de explicar às pessoas porque fazem uma coisa ou outra".
"Queremo-lo no Palácio de Belém"
Concluiu, dizendo que o país vive momentos difíceis mas "estes homens e mulheres já demonstraram em Caminha que estão preparados para enfrentar o futuro e, é isso que aqui lhe queremos dizer", e pretendem recebê-lo proximamente como Presidente da República Portuguesa, já que todos "querem dar a cara por um país melhor", atendendo a que "o futuro está ali, ao virar da esquina, e que se não for perfeito, pode ser melhor e, é essa esperança que nos dá força para lutar por Caminha e um país melhor".
Contudo, antes da chegada a Belém, Miguel Aves conta que ainda seja possível uma visita a Caminha, atendendo a que "ainda há muito caminho a percorrer", respaldado "nesta energia positiva, baseada numa saudade, sim, mas projectada no futuro, porque o queremos no Palácio de Belém".
António Sampaio da Nóvoa não deixou passar em claro "estes momentos de afectos e emoção" e agradeceu a todos "este momento", salientando que "é muito do que está aqui presente que faz a minha candidatura" baseada, de facto, nas palavras que tomam uma dimensão importante, em prol da cultura e da arte, constituindo tudo isto "uma presença no Palácio de Belém", dentro de uma "lógica de proximidade"
Recordou que embora o Presidente da República não tenha todos os poderes, ainda assim possui muitos, como o de "representar a República, os portugueses e assegurar a sua unidade".
Agradeceu as manifestações de afecto evidenciadas pelos seus antigos colegas de carteira e escola, prometeu manter essa afectividade durante toda a campanha e transportá-la-a para a Presidência da República.
Referiu que a sua passagem por Caminha (saiu de cá aos 9 anos) tinha correspondido à prática totalidade do seu ensino primário - "anos muito marcantes das nossas vidas, em que nos formamos e criamos grande parte do nosso carácter e da nossa personalidade".
Pormenorizou que parte dessa construção individual se faz com a família, presente de uma forma "muito forte" nesses anos vividos em Caminha, mas de igual forma modelada "com os amigos e colegas, com quem convivemos, com os nossos professores - no caso, com o professor Laureano -, recordando que Albert Camus, quando recebeu o Nobel da Literatura o tinha dedicado ao seu professor primário, sem o qual "nunca teria chegado onde chegou".
"Um vínculo a Caminha para a vida toda"
"Foi aqui que se constituiu grande parte daquilo que sou hoje", admitiu, daí resultando uma emoção muito forte partilhada por histórias de infância, entrecortadas com muitas gargalhadas de saudade por todos os que o envolveram nesses abraços de amizade, quase cinco décadas depois.
António Sampaio da Nóvoa passou várias vezes por Caminha, nas suas deslocações a Valença, de onde era natural sua mãe, mas as imagens dos antigos amigos foi-se desvanecendo com o tempo, só agora possível de recuperar, pelo seu protagonismo como candidato à Presidência da República.
Na parte final da sua passagem por Caminha, realçou o "vínculo que o liga a Caminha e que levarei para a Presidência da República e que honrarei em todos os momentos e que agradeço aqui, na vossa presença".
"Uma pessoa com visão"
Rui Lages, coordenador da campanha de Sampaio da Nóvoa no Alto Minho, não deixou de valorizar a presença do candidato na região, "uma pessoa com a qual os jovens se identificam, um professor universitário que conhece a realidade do país".
Frisou que o antigo Reitor da Universidade de Lisboa sabe o que o povo sofre presentemente, podendo "representar toda uma nação", no caso de ser eleito.
Apender com os pescadores ancorenses
Seguidamente, António Sampaio da Nóvoa, deslocou-se a Vila Praia de Âncora, tendo almoçado na Festa do Mar e da Sardinha, aproveitando para conversar com pescadores ancorenses e voltando a apostar na manutenção dos vínculos que o ligam ao Minho (o pai, que o acompanhou nesta visita, é natural de Vila Nova de Famalicão).
No contacto com a Associação de Pescadores de Vila Praia de Âncora, com 120 sócios, Sampaio da Nóvoa teve ocasião para se inteirar da realidade local, na conversa que manteve com Vasco Presa, nas instalações portuárias.
Capturas, espécies, embarcações, combustíveis sem bónus, infra-estruturas, assoreamento do Portinho, vendas em lota, barcos de pesca de maior calado, sazonalidades, peca desportiva, tudo o que se prende com a actividade piscatória, mereceu prolongado diálogo com o presidente da Associação de Pescadores.
"Aprendizagem fabulosa"
Mais tarde, em declarações à imprensa, reconheceu que o país e o Alto Minho evoluíram muito nos últimos 50 anos mas há agora a necessidade de "renovar a economia" e manter os laços à ciência, cultura e ensino, "as causas que estruturam a minha candidatura à Presidência da República".
Apesar dos seus conhecimentos científicos e da leitura que faz da realidade portuguesa, sentiu a necessidade de conseguir "uma dimensão de proximidade e, para isso, é preciso ouvir", o que permite um "outro olhar" sobre a realidade, acentuou.
Encontra-se no terreno há mês e meio e está ciente de que aprendeu mais nestes dias do que "nos últimos dez anos da minha vida", devido à grande capacidade dos portugueses "em explicar a realidade", entendendo ser esta a melhor forma de compreender e fazer a política, através dessa proximidade sustentada no acolhimento e generosidade de que os portugueses dão mostras.
Mostra-se por isso empenhado em salvaguardar e dar relevo a essa "humanidade e capacidade solidária de cooperação" tão presente na Associação de Pescadores de Vila Praia de Âncora, "em defesa da sua arte e da sua profissão".
Questionado sobre o convite formulado pelos antigos companheiros de infância, Sampaio da Nóvoa, valorizou o facto de "os meus antigos colegas se sentirem distintos e reconhecidos no gesto da minha candidatura, o que nos enche a alma, porque sentimos que estamos a fazer qualquer coisa que deixa os outros orgulhosos, o que esteve muito presente na escola primária de Caminha", concluiu.
Pai recordou amigos que deixou em Caminha
Alberto Sampaio da Nóvoa, ex-juiz em Caminha, acompanhou seu filho nesta sua deslocação à vila em que exerceu funções como Magistrado do Ministério Público e,
posteriormente como juíz.
"Caminha sempre presente na minha vida"
Falando para o Caminh@2000, foi assertivo em dizer que "nunca me esqueci dos tempos que passei em Caminha, um ano e tal como Delegado do Procurador da República e cerca de três anos como juiz".
"Foram momentos muito bons da nossa vida, em que aqui criamos os nossos filhos", confessou
Disse-nos que nunca esqueceu "os amigos que aqui deixei", citando os nomes do "advogado Dantas Carneiro, o dr. Gavinho, o dr. Garrido - o Notário - e as pessoas que trabalhavam no Tribunal" como foi o caso do dr. Fonseca, Armando da Ressurreição Pontes, José António Baptista, todas pessoas que "nunca me esquecerei delas e recordo com saudade".
Sobre a candidatura de seu filho, admitiu estar contente, embora represente uma "preocupação muito grande para um pai, ao saber que vai assumir uma responsabilidade muito grande", apesar de reconhecer nele "uma pessoa com coragem e determinação e, se for eleito, vai cumprir o mandato com muita convicção e lealdade as funções de Presidente da República".
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