sexta-feira, fevereiro 05, 2016


ACONTECIMENTOS ENTRE 1750 E 1799
Planta do projecto da reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755, Mário Novais, 1944, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML-A4974 (Clique para ampliar)
Planta do projecto da reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755, Mário Novais, 1944, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML-A4974 (Clique para ampliar)
No ano de 1750, com a morte de D. João V, sobe ao trono o seu filho D. José I. Este herda o país numa situação económica instável devido à diminuição do ouro proveniente do Brasil. D. José, embora indiferente aos negócios e aos assuntos de Estado, demonstrou particular interesse pela música impulsionando, por isso, a construção do único monumento anterior ao terramoto: o Teatro da Ópera do Tejo (2/4/1755).
A 1 de Novembro de 1755 ocorre em Lisboa uma grande catástrofe – o Terramoto, seguido de incêndio e maremoto – no qual se perderam muitas vidas e grande parte do património edificado.
Após o terramoto, D. José instala-se na Colina da Ajuda. D. Sebastião José de Carvalho e Melo (Secretário de Estado dos Negócios do Reino em 1756; Conde de Oeiras em 1759 e Marquês de Pombal em 1769) determina como primeiras medidas: enterrar os mortos, alimentar a população e repor a ordem pública, ao que se seguiu a reconstrução da cidade. Em Dezembro de 1755 promulga vários decretos que proíbem a construção fora dos limites da cidade e a edificação nas zonas mais atingidas pelos sismos, enquanto não estivesse concluído o inventário das perdas, os planos de reconstrução de cada bairro e elaborada a planta da nova Lisboa.
Das cinco hipóteses apresentadas pelo engenheiro-mor do reino, Manuel da Maia, foi aprovada a reconstrução de raiz do local que conhecemos por Baixa aproveitado o “entulho” para regularizar o terreno, e de acordo com novas plantas. Das seis plantas inicialmente apresentadas para a urbanização da “baixa pombalina” foi escolhida a proposta do Arquitecto Eugénio dos Santos. Nesta planta havia três ruas principais que partiam do Terreiro do Paço: a Rua do Ouro e a Rua Augusta a terminar no Rossio; a Rua da Bela Rainha (Rua da Prata) a finalizar na actual Praça da Figueira. A partir do Rossio e da Praça do Comércio foi criada uma malha urbana constituída por ruas longitudinais e transversais, em que os arruamentos secundários assumiram as designações de grupos profissionais (sapateiros, douradores, correeiros, etc.) ou de inspiração religiosa (S. Julião, Conceição, S. Nicolau, etc.). Foram também melhorados os acessos para o Bairro Alto, suavizando a inclinação da Rua da Misericórdia e da Rua do Carmo e construída a abertura directa desta via para o Rossio.
Não foram esquecidos os espaços públicos, nomeadamente os largos (Largo das Caldas, Largo do Carmo, Largo de S. Paulo); as praças (Praça das Amoreiras, Praça das Janelas Verdes, Praça da Figueira, entre outras); os espaços ajardinados e verdes (Jardim Botânico da Ajuda-1768; o Passeio Público-1764) e os chafarizes (o das Janelas Verdes, o do Rato e o da Rua do Século).
As propostas para as novas habitações, conhecidas pela designação de “estilo / prédio pombalino”, eram idênticas, incorporavam um sistema construtivo de madeira ligado por elementos de ferro designado por “gaiola” e apresentavam a elevação das paredes laterais acima do nível dos telhados (segurança contra incêndios). Compreendiam habitualmente três pisos (alguns um quarto piso denominado por “águas furtadas”); as fachadas dos prédios eram hierarquizadas de acordo com a importância concedida às ruas (principais ou secundárias) apresentando, no entanto, uma certa monotonia estética e uma sistematização de padrões. O projecto urbanístico mais emblemático aprovado por Marquês de Pombal foi a Praça do Comércio (Terreiro do Paço), obra de Carlos Mardel, consagrada ao poder da realeza, com a colocação central da estátua Equestre de D. José I (6-6-1775). O estilo “pombalino” expressava-se igualmente em palácios (Caldas, Cruz Sobrais, Quintela) e igrejas paroquiais (Encarnação, Mártires, SacramentoS. Nicolau, Memória, S. Paulo, etc.).
Com a morte de D. José (1777) e a expulsão do Marquês de Pombal de Lisboa (1778), pela rainha D. Maria I, grande número das obras públicas de reconstrução pararam embora as obras particulares se mantivessem, assim como a planta proposta por Eugénio dos Santos.
No período pós-pombalino construíram-se dois monumentos que enriqueceram a cidade de Lisboa, a Basílica da Estrela (1779-89) e, a Ópera de S. Carlos (1792-93), primeiro edifício neoclássico na cidade de Lisboa. Há ainda a referir a aprovação do projecto (1796) para a construção do Palácio Real da Ajuda, no qual se localizara a denominada “real barraca da Ajuda” ou “barraca rica”, onde residiu o rei D. José e a sua corte desde 1755 até ser destruída por um incêndio em 1794.
Bibliografia
ARAÚJO, Ana Cristina – O Terramoto de 1755: Lisboa e a Europa. Porto: Clube do Coleccionador dos Correios, 2005. 166 p. ISBN 972-9127-96-4.
CONSIGLIERI, Carlos; ABEL, Marília – Lisboa: 750 anos de Capital: Livro de Ouro da Cidade. 1.ª edição. Lisboa: Dinalivro, 2005. 199 p. ISBN 972-576-386-6.
COUTO, Dejanirah – História de Lisboa. Miraflores: Gótica, 2003. 389 p. ISBN 972-792-046-2.
FONSECA, João Duarte – 1755: o Terramoto de Lisboa. 2.ª edição. Lisboa: Argumentum, 2005. 139 p. ISBN 972-8479-35-2.
FRANÇA, José-Augusto – De Pombal ao Fontismo: o urbanismo e a sociedade. In MOITA, Irisalva – O Livro de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 1994. ISBN 972-24-0880-1.
FRANÇA, José-Augusto – Lisboa Pombalina e o Iluminismo. 2.ª edição. Lisboa: Livraria Bertrand, 1977.
PARDAL, Maria João Martins – O Terramoto de 1755: A urbanização da Nova Lisboa. 1.ª edição. Lisboa: Sete Caminhos, 2005. 131 p.

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