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José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia entre 2004 e 2014, falou do Brexit e alerta para as dificuldades do centro em aguentar a pressão dos extremos
O Estoril, refúgio de espiões, exilados e fugitivos à ii Guerra Mundial, nascida na Europa, foi o palco escolhido pelo ex-presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso para falar pela primeira vez, publicamente, sobre o Brexit. Duas ideias fortes: só a Alemanha tem valorizado a União Europeia, com Merkel a ser o ponto de equilíbrio essencial desse projeto, e o centro está a ceder à pressão dos extremos.
Durão Barroso, orador no painel “União Europeia, Continuidade e Mudança”, no âmbito do xxiv Internacional Meeting in Political Studies, promovido pela Universidade Católica, considerou que a vitória do não à continuidade do Reino Unido na UE “abre uma história muito mais drástica entre as crises que a Europa tem vivido e a que tem sabido, com talento, responder”.
“A Europa está habituada a viver em crises”, disse, para logo admitir que o resultado do referendo britânico “abre um precedente para a saída de outros Estados”.
“Temos de contar com a sra. Merkel. Ela é o ponto de equilíbrio essencial. O único país que tem valorizado a União Europeia é a Alemanha”, defendeu.
Para o antigo presidente da Comissão entre 2004 e 2014, “o problema da UE é de pertença”. Barroso espera, todavia, que “haja responsabilidade” e que “os líderes europeus procurem um acordo positivo entre eles”.
“Temos um fenómeno de corporativismo, racismo e ultranacionalismo personalizado no sr. Trump. O nacionalismo na Europa já nos levou às duas guerras que foram o maior desastre da humanidade. Os extremos estão a dominar. O centro não se aguenta”, disse, deixando um desafio: “Não cedam ao negativismo. A Europa não são eles, somos nós.”
O antigo comissário português lembrou que em democracia têm de se aceitar os resultados das consultas populares e reconheceu que é prematuro retirar lições destes acontecimentos.
“Temos de aceitar a democracia, mas ainda é muito cedo. Teremos surpresas. É um processo de complexidade extrema, vai demorar tempo. Mas duvido que Londres possa continuar a ser a capital financeira da Europa”, acrescentou.
Durão Barroso recordou ainda que David Cameron, primeiro-ministro demissionário britânico, “atacou 20 anos a UE e em dois meses queria convencer o eleitorado a votar nela”.
Para Barroso, “o Reino Unido foi-se pondo na periferia da UE” e mencionou um episódio passado com David Cameron e o seu Partido Conservador.
“Quando o partido de Cameron saiu do Partido Popular Europeu, eu e a sra. Merkel dissemos-lhe que era um erro. Como conservador que é, não devia ir contra o establishment”, disse.
Citou ainda um outro acontecimento vivido com o líder conservador britânico, desta vez na capital portuguesa, em dezembro de 2007. “Chegou atrasado de propósito à assinatura do Tratado de Lisboa porque não queria estar na fotografia de família. Eles procuraram sempre mostrar a sua excecionalidade entre um setor mais moderno e educado e um setor mais retrógrado.”
Durão Barroso apontou ainda o dedo a um dos rostos do debate a favor do não, o líder do Partido da Independência do Reino Unido, o eurodeputado Nigel Farage, acusando-o de ter mentido e insultado todas as instituições europeias.
Mas discordou da atitude assumida ontem pelo seu substituto na presidência da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, quando interrompeu a intervenção perante o Parlamento Europeu para atacar Nigel Farage. “É a última vez que aplaudem aqui”, disse o presidente da Comissão.
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