A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital
Olivia Bina nasceu em Milão, em maio de 1968, quando Paris saiu à rua. Doutorou-se em Geografia, em Cambridge. É investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Olivia Bina chegou a Lisboa em 2004. Vinha por ano meio, para participar num projeto de investigação europeu sobre a biodiversidade nas regiões agrícolas. "Pensei: um ano e meio é perfeito, e depois vejo o que quero fazer", conta num português fluente, de leve sotaque, esta italiana nascida em Milão, a 4 de Maio de 1968 - "no mesmo dia em que começaram as manifestações em Paris", ri-se -, que se mudou jovem para o Reino Unido e ali se doutorou em Geografia , na Universidade de Cambridge.
O ano e meio passou depressa, o projeto terminou e Olivia decidiu ficar. "Nunca pensei voltar a Itália", conta. "A ideia era regressar a Inglaterra, onde vivia desde 1992, mas não regressei". Porquê? "Fiquei enamorada desta cidade, da vida aqui, e já não consegui ir embora. Portugal tem um equilíbrio entre a qualidade de trabalho e a qualidade de vida, Lisboa é espetacular e encontrei aqui pessoas de grande qualidade humana, com uma certa generosidade de alma", reflete. "Há uma maneira de ser que acaba por entrar em ti".
Hoje, Olivia Bina é investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (UL) - os seus temas são agora os cenários sociais para o futuro, numa perspetiva da sustentabilidade económica, ambiental e da inovação - e tem "conseguido sempre fundos europeus" para financiar o seu trabalho. "É o meu contributo para a ciência em Portugal", diz satisfeita.
"Uma memória dos 15 anos"
A língua inglesa entrou cedo na sua vida. A escola pública da zona onde vivia em Milão "não era boa", por isso os pais optaram por matriculá-la, e ao irmão, na escola inglesa. Concluído o secundário, fez a licenciatura em geografia na universidade local, e depois rumou a Londres para fazer o mestrado na Universidade de Cambridge e, mais tarde, o doutoramento. Afinal a Inglaterra era a sua "segunda casa".
Lá trabalhou quatro anos na Royal Society for the Protection of Birds, "uma ONG muito conceituada no Reino Unido" e mais tarde numa multinacional de consultoria ambiental, até que o doutoramento lhe abriu portas à investigação científica. Estava a fazer um pós-doutoramento quando Portugal surgiu no seu horizonte.
"Lisboa era uma memória dos meus 15 anos, de uma viagem que fiz com os meus pais. Lembrava-me de uma cidade linda no fim do mundo, frente ao oceano. Ficou-me a impressão de que a terra acabava aqui. Não tive dúvidas de que ia gostar". Não se enganou.
O primeiro embate, no entanto, não foi o que esperava. Alugou um apartamento na outra margem do Tejo, em Almada, mas ao fim de um mês decidiu que não podia continuar ali. "Em Inglaterra sempre morei em sítios espetaculares, cheios de vida e de cor". Acabou por encontrar uma casa na Rua dos Prazeres, perto da Praça das Flores. "Uma casinha cheia de alma e poesia. As pessoas que estavam a sair foram fantásticas, deixaram-me a mobília, e os meus vizinhos, um casal de arquitetos, ele português, ela italiana, tornaram-se um pouco a minha família. Vivi lá quatro anos".
Quando percebeu que não queria voltar para Londres, procurou financiamento para continuar a trabalhar em Portugal. Durante seis meses, fez consultoria para o Banco Mundial sobre os mecanismos de governação ambiental na China e o fascínio foi tal que decidiu aprofundar o tema. "Interesso-me muito pela sustentabilidade a nível mundial, e pela forma como isso se conjuga com uma vida com sentido, pensei que era impossível não estudar aquele país". Portanto, foi isso que fez a seguir, primeiro com uma uma bolsa de pós-doutoramento da FCT, depois com financiamento de projetos europeus, e com grandes temporadas na China, mas voltando sempre à base, Lisboa. É cá que tenciona continuar. "Até já comprei casa".
Está na mesma zona da cidade, perto da Praça das Flores, cuja esplanada, onde nos encontramos, é um dos seus sítios de eleição. "Não sei quantos pequenos-almoços já tomei aqui. Muitos".
No ICS as coisas correm de feição. Acaba, aliás, de ganhar o Prémio científico ULisboa-Caixa Geral de Depósitos 2016. "A universidade está a crescer e tem uma enorme capacidade de se internacionalizar, há um grande potencial para atrair investigadores de fora e recriar uma grande universidade", garante.
Fluente em cinco línguas, incluindo o português, confessa que a princípio "não gostava do sotaque, soava-me muito duro". Mas depois aprendeu a língua, e isso deu-lhe outra dimensão da cultura e da vida cá. "Até já gosto do sotaque", garante. Tal como gosta do ritmo de vida ainda tranquilo, da geografia "espetacular de Lisboa, com praia e campo ao pé", e do oceano. "Percebo perfeitamente por que é que o mar faz parte da vossa poesia, da vossa literatura e da vossa música. E por que o fado é sempre sobre alguém que se vai embora".
Claro que há coisas de que Olivia Bina não gosta. Na cidade, os transportes públicos mais caros e menos eficientes "foram uma opção ideológica e um crime contra a sustentabilidade", afirma. E na maneira de estar dos portugueses encontra parecenças com os italianos que também lhe desagradam, como não aceitarem críticas no trabalho - "as pessoas, aqui, ofendem-se" -, ou a formalidade e a importância dos títulos de senhor doutor, "como se não acreditassem verdadeiramente em si próprios". Apesar disso, Olivia sente que também pertence aqui. "Estou cá, sinto que faço parte. Sinto sempre isso onde estou".
Para entender a Itália
Beleza "Apesar dos governos que teve, é um país lindíssimo. Desde que estou em Portugal vou mais a Itália e fico comovida com tanta beleza"
Gastronomia "Redescobria-a e fiquei sem palavras. Cada região é diferente"
Património "As cidades, como Palermo, Veneza, Roma, Urbino, Sorrento. Se um dia voltar a Itália vou viver na Liguria"
O Panteão de Roma "Tem a história dentro de si. É único. Um símbolo poderoso do que os seres humanos são capazes"
Pessoas "Como Portugal, a Itália é um país com pessoas extraordinárias"
Sem comentários:
Enviar um comentário