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Atravessou o portão da Carregueira às 17.00 para três dias fora da camarata que partilha com quatro outros presos. Uma hora antes saíra o colega de processo, Manuel Abrantes
O apresentador que era conhecido por "Senhor Televisão" era ontem, à saída da cadeia da Carregueira (Sintra), às 17.00, apenas mais um recluso ansioso por ir passar o Natal a Casa, com um singelo saco de compras na mão e à espera do amigo que o veio buscar de carro. Não fosse a multidão de jornalistas que o cercou e era apenas mais um preso, de ar fragilizado e abatido.
Carlos Cruz foi um dos cerca de 650 presos que este ano foram autorizados a ter uma saída precária de três dias no período do Natal, segundo dados oficiais avançados ao DN. Nas mesmas condições, está o seu colega no processo Casa Pia, o ex-provedor adjunto da instituição, que atravessou o portão da Carregueira às 16.00. Manuel Abrantes saiu emocionado: "Vou passar o Natal com a família toda", disse.
"Por estimativa, prevê-se que usufruam deste tipo de saída entre 23 e 31 de dezembro cerca de seis centenas e meia de reclusos. Este valor é muito semelhante ao que se verificou no ano passado e que teve uma taxa de sucesso de 99,33%", adiantou, em resposta ao DN, o gabinete de comunicação da Direção Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais. Significa que quase todos os presos regressam à cadeia após gozarem estes dias. A média habitual de precárias concedidas a reclusos nesta quadra festiva nos últimos anos tem sido sempre num número superior a 600.
"Estou inocente, é um facto"
Carlos Cruz, que já cumpriu metade da pena (três em seis anos) já foi ouvido por uma juíza no início do ano para avaliar da possibilidade de sair em liberdade condicional. Mas como não interiorizou a culpa não teve esse direito. Ontem, à saída da prisão, o ex-apresentador de televisão mantinha-se firme no discurso de não ter de assumir algo que não fez. "Não posso interiorizar a culpa de algo que não fiz", afirmou.
"Estou inocente, é um facto. A esperança mexe com o remorso. Quem tiver remorsos talvez me dê esperança ", declarou. E disse que ainda ontem iria falar com o seu advogado, Ricardo Sá Fernandes, sobre a queixa que apresentou no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Carlos Cruz vai passar o Natal em casa, em Cascais, e regressa sábado à cadeia, onde partilha uma camarata com quatro reclusos. Sobre o ambiente na Carregueira, diz que fala com todos os presos que dele se aproximam, incluindo os da Casa Pia, "menos com Carlos Silvino ("Bibi") que está noutro piso". A defesa do antigo apresentador de televisão Carlos Cruz admitiu, na segunda-feira, pedir uma revisão da sentença no processo Casa Pia se lhe for dada razão na queixa que vai ser analisada pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH). "Se a queixa for procedente, como Carlos Cruz confia que será, isso poderá justificar um pedido de revisão da sentença, a partir da qual se espera que, finalmente, chegue a hora da verdade e a declaração da completa inocência de Carlos Cruz, que vive há 12 anos, o opróbrio de ter sido acusado, julgado, condenado e preso por factos que não cometeu, relativamente a pessoas que não conhecia e em locais ainda nunca foi", refere um comunicado do advogado Ricardo Sá Fernandes.
O advogado lembrou que, a 28 de agosto de 2012, Carlos Cruz apresentou uma queixa no TEDH, a que se seguiram outras denúncias, em agosto de 2013, dos arguidos João Ferreira Diniz, Jorge Ritto e Manuel Abrantes. O governo português deverá responder até 5 de abril de 2016.
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