quarta-feira, dezembro 14, 2016

A estatistica é como o Biquini :- o que mostra é sugestivo :- o que esconde é vital


AGORA. Semanário da Actualidade Política e Literária - Ano I, nº 1, 18 de Fevereiro de 1961 até ao nº 401, 29 de Março de 1969; Propr. e Editor:Raul de Carvalho Branco [depois (1966), Camilo da Trindade]; Director: Raul de Carvalho Branco (oficial do exército); Adm. e Redacção: R. Ferreira Lapa, 32, 4º Dto, Lisboa; Chefe da Redacção: José O’Neill[depois, Goulart Nogueira]; Impressão. Trav. das Mercês, 4 a 10, 1961-1969 

O semanário “AGORA” nasce [cf. Riccardo Marchi, Império Nação Revolução, Texto, 2009] sob o impulso de José O’Neill [antigo director do semanário “A Nação”, 1946-48] e dos jovens nacionalistas de Coimbra, Ruy Alvim, José Luís Nogueira da Brito e Francisco Abreu Lima, acompanhados por Manuel Saldida. O título retoma [cf. Marchi, ibidem] um antigo projecto de Alfredo Pimenta e tem o figurino da anterior “A Nação”. Reúne os ultras do regime de Salazar, manifestando uma radical crítica política à “classe política do Estado Novo” e de vigilância “aos traidores instalados no regime”. Promove o anti-semitismo, é claramente contra a administração norte-americana, e faz a propaganda do neofascismo europeu. 

Mantém a linha editorial da revista uma série de conflitos com os interesses instalados (industriais e militares) e com a Censura, mas cede “a troco de financiamento” e protecção [cf. Marchi, ibidem]. Tal não impede que seja suspenso [Dezembro de 1964], vendo José O´Neill, nesse facto, uma “vingança” da empresa “Amoníaco Português”, pelos artigos publicados. O mesmo sucede, a 27 de Novembro de 1965 [a que se seguiram outras mais suspensões], por não terem acatado a proibição de um artigo pela censura. De novo, a direcção do semanário recorre a Salazar, referindo as “promessas” que lhe foram feitas e os compromissos e protecção assumidos. Curiosamente a própria União Nacional [vide Marchi, ibidem, p. 195] “toma inteira responsabilidade pelas despesas de composição e impressão”, nesse período. Não impede que o próprio Salazar considere [ibidem] que apesar de ser um periódico situacionista, pelos ataques “intoleráveis aos ministros do Governo”, se justificava uma “acção de vigilância da ortodoxia da Revolução”.     

Diga-se que em Janeiro de 1965 se constitui [cf. Marchi, ibidem] a "Editorial Agora SARL", com os seguintes sócios: José O’Neill, Manuel Fonseca, Rui Tato Marinho, Manuel Saldida, Camilo da Trindade, José Pinto de Aguiar, Montenegro Carneiro, António Celorico Drago, Renato Assis Borges. Colaboram então, Galamba de Oliveira, José Pinto de Aguiar, Cabral Leitão, Eduardo Rodrigues Caldeira.

Face a sucessivas suspensões, José O’Neill abandona o semanário a 28 de Maio de 1967 e a direcção do “AGORA” é assumida por Goulart Nogueira[26 de Agosto de 1967], e conta desde logo com “novas ajudas por parte do regime”. 

Com a direcção de Goulart Nogueira e a chegada do grupo de jovens neofascistas oriundo da revista “Tempo Presente” (Maio de 1959- Julho de 1961) – que até então os nacionalistas conservadores do “AGORA” enjeitavam – o periódico toma uma feição declaradamente neofascista e de intervenção doutrinária. Pontifica na afirmação e propaganda do neofascismo, o pensador António José de Brito, que marca toda uma geração de nacionalistas radicais. A homenagem a José António Primo de Rivera, o elogia da política da Rodésia [a revista promove a comissão organizadora do jantar de homenagem à independência rodesiana, que era formada por: António José de Brito, Camilo da Trindade, Caetano de Melo Beirão, José Maria Alves, Ruy Alvim, Luís Fernandes, Jaime Nogueira Pinto e José Rebordão Esteves], textos sobre a “lealdade e firmeza” [como o que foi feito a Rodolfo Hess, por António José de Brito] e, principalmente, o Suplemento panegírico do Fascismo, no seu nº 329 [4 de Novembro de 1967], marcam a fase neofascista do semanário e o apelo “à área nacional-revolucionária” e de oposição ao governo do Estado Novo.  

[Alguma] Colaboração/textos: A. de Magalhães Vieira, Alexandre Vasconcelos, Alves Coelho, Américo Urbano, Ângelo César, António José de Brito [ideólogo e animador da corrente neofascista portuguesa; vinha da direcção do periódico fascista de Coimbra, “Mensagem” – liderada por Caetano de Melo Beirão -, colaborando depois na revista “Tempo Presente”, revista que foi dirigida por Fernando Guedes e sob impulso de Moreira Baptista, do SNI], António de Navarro, António Soares, Aureliano Dias Gonçalves, Aurélio de Castro, Azinhal Abelho, Bento Leite de Castro, Braamcamp Sobral, Cardoso da Cunha, Carlos Castelo-Branco, Casal Soeiro, César de Oliveira, Charles Maurras, Cunha e Costa, Duarte Caravellas, Eduíno de Jesus, Elmano Alves, Ernesto de Moura Coutinho, Ester de Lemos, Eunice Munoz, Fernando Baptista, Filipe Manuel de Morais, Francisco Bento, Francisco Ribeiro Soares, François d’Orcival, Guilherme de Barros, Goulart Nogueira [poeta e escritor, de tendência vanguardista, foi um dos mais curiosos intelectuais do nacionalismo-fascista, tendo vindo da revista “Tempo Presente”], Jaime Nogueira Pinto [na juventude, milita no “Movimento Jovem Portugal” – iniciativa do neofascista Zarco Moniz Ferreira e Vasco Lourinho -, no Porto. Refira-se que a “Jovem Portugal” mantém um espaço reservado na revista “AGORA”, com o titulo “Vanguarda”, com fortes ligações aos graduados da “Mocidade Portuguesa”. A partir de 1968 autonomiza-se, muda para “Movimento Vanguardista”, publicando uma publicação, “Vanguarda”, em Março de 1969, que se reclama de “neofascista”], João Afonso, João de Albuquerque, João Ameal, João de Castro Osório, João Mendonça e Sylva, Joaquim Toscano Sampaio, Jorge Brum do Canto, José de Aguiar, José Alves, José António Ribeiro, José Augusto de Almeida, José Cavique dos Santos, José Corte-Real, José Furtado Leite, José Maria Gonçalves Dias, José Manuel de Lemos, José O’Neill[germanófilo, tinha antes dirigido o semanário “A Nação”, onde pontificava o então fascista Alfredo Pimenta; O’Neill, curiosamente, é visado pela censura no “Agora”, por ter acusado no jornal os quadros do governo de traição a Salazar; pouco depois abandona o semanário; refira-se que foi preso, quando dirigia o “Tempo Presente” por “ter desviado fundos da caixa de Previdência do pessoal da Indústria Corticeira, onde trabalhava, para cobrir dívidas de jogo – cf. Riccardo Marchi, ibidem”], José Valle de Figueiredo [que integrava o “Movimento Jovem Portugal”, de cariz neofascista, sendo colaborador da sua revista, “Ofensiva”], Júlio Evola, Júlio Fraga, Lencastre da Veiga, Luís Alberto de Oliveira, Luís de Andrade Pina, Luís de Azevedo, L. F. Oliveira e Castro, Luís Fernandes, Luís Trindade[cartoonista], Manuel Anselmo, Manuel Cabral Leitão, Manuel Corrêa Botelho, Manuel Corrêa de Oliveira, Manuel Lamas, Manuel Saldida, Marcello Branca, Maria Celeste Sepulveda, Miguel Freitas da Costa, Miguel de Seabra, Mota de Vasconcelos, Natércia Freire, Nuno de Miranda, Nuno de Valverde, Otto Skorzeny, Pedro de Mendonça, Pedro Soares Martinez, Pinharanda Gomes, Robert Brasillach, Rodrigo Emílio, Rui Romano, Ruy Alvim, Sárrea de Barros, Teresa Vasconcelos, Tiago de Menezes, Tomé Vieira, Vasco de Jesus. 
J.M.M.

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