quinta-feira, março 17, 2016

Carreira empresarial de Vítor Baía intensificou-se com o final de carreira no FC Porto Ricardo Castelo JOÃO MADEIRA 17/03/2016 10:4

Carreira empresarial de Vítor Baía intensificou-se com o final de carreira no FC PortoFinanciado pelo BPN, antigo jogador aventurou-se em negócios de restauração, vestuário e imobiliário. Acumulou dívidas e sete processos em tribunal, mas diz-se enganado por um sócio. Acordo com a CGD e a construtora Casais acaba com o litígio mais complexo
A incursão nos negócios de Vítor Baía não foi uma história feliz. Afastado dos relvados há uma década, o antigo jogador do FC Porto aventurou-se em múltiplos investimentos imobiliários mas, tal como nos jogos menos conseguidos na carreira, a sorte passou-lhe por entre as mãos. Acumulou dívidas, foi penhorado e teve de vender casas e carros para fazer face ao aperto financeiro. Nos registos das conservatórias consultados pelo i, há pelo menos sete processos contra empresas do ex-jogador por pagamentos em atraso. Mas esta semana chegou um alívio: a Caixa Geral de Depósitos e a construtora Casais chegaram a acordo com Baía para desbloquear o imbróglio com o hotel de luxo em Évora que o antigo jogador construiu. Baía fica sem o empreendimento, mas livra-se de dívidas de 14 milhões de euros.
A veia empresarial do antigo guarda-redes tornou-se mais evidente com o final da carreira do ex-jogador. Em 2005, ano em que Helton entra no clube portuense e começa a disputar a titularidade com o histórico do FC Porto e da seleção portuguesa, os registos notariais mostram que Baía abriu múltiplas empresas.
Criou uma holding denominada Ambigrama, para gerir participações sociais em múltiplos negócios. Debaixo desta empresa-chapéu estavam outras sociedades controladas pelo antigo jogador e empresas onde Baía tinha interesses, como no vestuário e na restauração.
Uma delas, também criada no verão de 2005, era a Stronghouse, estabelecida em parceria com o sócio António Esteves, um economista e antigo homem de confiança que Baía acusou de burla precisamente nestes negócios. Baía ficou com 90% desta empresa de imobiliário que, por sua vez, detinha a Perdiganito, que iria criar um hotel de luxo em Évora. Mas as contas desequilibraram a relação.
O projeto ficou pronto em 2012, mas a construtora apresentou uma fatura por trabalhos extra que Baía não quis pagar – nem tinha dinheiro para tal. Foi por esta altura que Baía apresentou uma denúncia na Polícia Judiciária contra António Esteves, por suspeita de desfalques superiores a 10 milhões de euros em negócios imobiliários. Segundo contou o “Jornal de Notícias” na altura, estavam em causa lotes industriais em Aveleda, Vila do Conde, lojas no Porto e no hotel em Évora. A PJ começou então a investigar os crimes de burla e abuso de confiança.
O descalabro financeiro estava à vista. Os registos a que o i teve acesso mostram que entre os credores da empresa estavam a Enescoord, a empresa que fez o projeto, e o Horto do Campo Grande, responsável pelos espaços verdes. Mas o processo mais bicudo era o da Casais, a empresa de Braga que construiu o empreendimento. Sem dinheiro para fazer face aos encargos exigidos, Baía foi confrontado com várias ações em tribunal, sem que o hotel de Évora iniciasse atividade.
Em tribunal, Vítor Baía queixou-se da intransigência da Casais. “Não nos dão a chave nem permitem que entremos no interior do hotel, o que impede a sua comercialização junto dos investidores”, afirmou.
E ao problema com o projeto de Évora somavam-se vários outros no ramo imobiliário. Vítor Baía tinha obtido financiamento do BPN para outros projetos e as prestações dos empréstimos começaram a pesar. Através da Cleal e da Sunderel, Baía pediu dez milhões de euros ao banco de Oliveira e Costa.
Apesar de Baía alegar que foi burlado pelo sócio nos negócios imobiliários, o empresário negou e esse processo ainda hoje corre nos tribunais. Mas a conta tinha de ser paga. A Casais chegou a pedir a insolvência da holding de Vítor Baía, a Ambigrama.
Segundo contou o “Correio da Manhã”, Vítor Baía enfrentou um período complicado, submerso em dívidas e negócios ruinosos. Foi forçado a vender o património construído ao longo da carreira. Desfez-se de um Porsche, de um Mercedes e de várias casas. Vendeu uma casa no Gerês, outra no Brasil e uma quota numa empresa de importação e distribuição de vestuário e de lojas de roupa, que passou para um sócio, o conhecido médico portuense Fernando Póvoas.
A moradia em que habitava, na Foz do Douro, foi também vendida ao médico Fernando Póvoas, embora esta transação tenha gerado problemas devido à separação. Baía foi até acusado de furto quando Elisabete Carvalho alegou que o antigo futebolista havia levado joias, quadros, dinheiro, televisores, aparelhagem e um computador da casa onde ambos moraram no Porto.
Apesar da venda do imóvel a Fernando Póvoas, Elisabete não desocupou a casa, o que obrigou o médico a uma batalha judicial para tomar posse efetiva da habitação, que só foi entregue ao novo proprietário em 2014. Entretanto, a vida financeira de Baía complicava-se com as dívidas à Casais e aos bancos. Os relatos na altura indicam que o ex-jogador chegou a ter encargos de 100 mil euros por mês.
Entre dívidas à Caixa Geral de Depósitos – que herdou os créditos problemáticos do BPN quando foi nacionalizado – e à Casais, juros de mora e outros encargos, a fatura total era já de 14 milhões de euros.
Mas depois de meses de negociações, esta semana chegou uma boa-nova. Segundo o “Jornal de Notícias”, a Caixa Geral de Depósitos chegou a acordo com a Casais e com o antigo jogador para uma solução do diferendo. O jogador cede o empreendimento em Évora, em favor de um fundo de investimento controlado pelo banco público. A dívida é anulada, o empreendimento em Évora pode ser vendido ou começar a trabalhar e a Casais recebe algumas verbas com o acordo. Depois de anos atribulados, Vítor Baía poderá ter agora uma vida mais tranquila do ponto de vista financeiro.

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